De volta à política, ex-senador Delcídio diz que sofreu 5 anos e foi absolvido em 15 minutos no TRF
Presidente do PTB de Mato Grosso do Sul, ele revela que pretende recuperar o mandato político lhe tirado na "mão grande"
EX-SENADOREm entrevista concedida na última sexta-feira (18) à jornalista Myrian Clark, do programa "Almoço do MyNews", no YouTube, o ex-senador Delcídio do Amaral, presidente do PTB de Mato Grosso do Sul, falou da sua atuação à frente da CPMI dos Correios, da sua prisão por uma suposta obstrução da Justiça, de ter sido inocentado por unanimidade, da relação com o PT e com o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Delcídio do Amaral também abordou a intenção de tentar recuperar o mandato político, o qual, segundo ele, lhe tiraram na "mão grande" e ainda abordou o fato de ter ficado 60 dias internado em decorrência da Covid-19 e ainda um quadro de dengue.
Sobre a CPMI dos Correios, o ex-senador lembra que a Comissão foi absolutamente diferente de tudo que já ocorreu no Congresso Nacional, pois fez investigações aprofundadas em razão de ter representantes da Polícia Federal, do Banco Central do Brasil, da Receita Federal, do TCU (Tribunal de Contas da União) e do MPF (Ministério Público Federal). "Além disso, os quadros da Comissão foram compostos pelos melhores políticos escolhidos pelos partidos e terminou com uma investigação aprofundada que denunciou políticos do PT, do PP, do MDB, do PSDB e do PL", recordou.
Delcídio do Amaral completa que a apuração da CPMI compôs um relatório encaminhado ao MPF, que enviou o processo para o STF (Supremo Tribunal Federal), onde passou intacto. "Ou seja, fizemos uma investigação de 11 meses e o texto serviu de base para que o Poder Judiciário se posicionasse, como se posicionou, condenando muitas pessoas, entre políticos e administradores, enfim, um grande número de pessoas. A CPMI ainda teve o relatório auditado pela Ernst Young e contava com sub-relatores muito fortes, como o Eduardo Paes e o ACM Neto, além de integrantes como Sérgio Guerra, Ideli Salvatti, Carlos Sampaio e Álvaro Dias", enumerou.
Para ele, a Comissão foi ímpar e que fazia com que as pessoas acompanhassem como se fosse uma novela, tendo resultados não só sob o ponto de vista de investigação, mas que fez tudo em público, não era no tapetão ou isolada. "Ela envolveu também o Departamento de Justiça dos Estados Unidos porque tinha dinheiro no exterior, ou seja, foi uma CPMI ecumênica e uma Comissão em que, na verdade, as audiências públicas eram reflexo de um trabalho muito intenso feito pelos seus integrantes. Nós ficávamos nos fins de semana em Brasília (DF), estudávamos o processo inteiro e, na verdade, aquilo que era público, era resultado de um trabalho fora dos holofotes, então, foi uma CPMI incomparável sobre todos os aspectos", assegurou.
Ainda na entrevista, Delcídio do Amaral revelou que, após a CPMI dos Correios, teve uma relação com muitos atritos com o PT, ficando um tempo na geladeira. "Como sou engenheiro, tive uma formação bem diferente, acabei tendo muitas divergências internas de ideias, porém, aquilo que acentuou o meu enfrentamento interno com o partido foi essa CPMI dos Correios pela maneira isenta como a conduzi. Tanto que, quando eu fui preso, ninguém do PT prestou qualquer tipo de solidariedade comigo. Ao contrário do posicionamento em relação a todos os outros petistas presos, os quais o partido sempre defendeu, incluindo os envolvidos com corrupção, sendo que no meu caso não teve corrupção", relatou.
A prisão - Sobre a prisão, o ex-senador ressalta que ela ocorreu por uma suposta obstrução de Justiça e da qual foi inocentado em todas as instâncias, sendo que na última por unanimidade. "Eu fui vítima de uma grande aberração jurídica. No dia da minha prisão, em menos de uma hora, o presidente do PT na época, Rui Falcão, disse que o partido não tinha nenhuma relação comigo. Evidentemente, eu entendo bem, pois foi o troco pelo meu comportamento à frente da CPMI dos Correios, que atingiu várias lideranças da legenda", falou.
Ele completa que a prisão foi um flagrante forjado, pois o procurador-geral da República na época, Marcelo Miller, disponibilizou um gravador para o filho do Nestor Cerveró, a quem conhecia desde pequeno. "Até porque o pai dele foi dos quadros da Petrobras quando eu também era funcionário da estatal. Sempre tive uma relação muito amistosa com o Nestor e com a família dele, aliás, como faço com todos, pois sou cordial, educado e civilizado. O Bernardo Cerveró me enviou um e-mail solicitando uma reunião, tudo orquestrado pelo procurador da República Marcelo Miller, que marcou esse flagrante forjado para me gravar", garantiu.
Segundo Delcídio do Amaral, Marcelo Miller aceitaria a delação premiada de Nestor Cerveró, que sairia da prisão em Curitiba (PR), e, assim, foi feito. "O meu pecado foi confiar nas pessoas. Nos temas abordados no áudio gravado pelo Bernardo Cerveró, eu digo que, se o pai dele fosse libertado, teria de ser pela legalidade e pela Justiça. As teses sobre a facilitação da fuga dele foram insinuadas por terceiros que estavam na reunião e pelo próprio filho do Nestor Cerveró me induzindo a falar determinadas coisas", assegurou.
O presidente estadual do PTB revela que, em Brasília, todos os parlamentares são procurados por pessoas para, eventualmente, verificar casos que estão tramitando na Justiça. "Só que, normalmente, esse papo fica registrado em gabinete, mas sem qualquer tipo de desdobramento. Nesse caso específico, as investigações ocorreram e ficou provado que eu não tive influência de absolutamente nada, que eu não falei com nenhum ministro do STF sobre a libertação do Nestor Cerveró", recordou.
Na gravação, conforme Delcídio, ele citou que iria procurar os ministros que cuidavam do processo, mas na verdade não fez nada disso. "Hoje, eu condeno o meu comportamento, pois errei, me arrependo até de tentar ajudar, pois sempre fui uma pessoa de estender a mão, sempre procurei ajudar todo mundo, sempre fui assim, sou um político que não persegue ninguém, não tenho ódio e nem ranço. Porém, me arrependi e aprendi que temos de falar pouco e ouvir mais, não escutar mais, ouvir mais. E esse caso foi um grande equívoco, a conversa foi induzida por terceiros e, no caso, uma gravação, que foi um flagrante forjado pela PGR (Procuradoria Geral da República), por meio do Marcelo Miller e do filho do Nestor Cerveró", reforçou.
O ex-senador pontuou que foi inocentado, até porque não tinha razão de obstrução de Justiça e isso ficou comprovado. "Foi simplesmente uma conversa irresponsável que tive como político e deu no que deu. Fui inocentado em todas as instâncias e, na última, fui inocentado em uma votação de menos de 15 minutos, sofri cinco anos e fui inocentado em 15 minutos porque tinha unanimidade entre os membros do TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), não só pela minha absolvição, mas pela caracterização do flagrante forjado. Uma gravação montada com a participação do procurador da República Marcelo Miller - o mesmo que induziu o Joesley Batista (empresário dono do Grupo JBS) a gravar o então presidente da República, Michel Temer (MDB) -, junto com o filho do Nestor Cerveró", ressaltou.
Relação com Lula - Para Delcídio do Amaral, o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é um líder político inegável, uma figura popular, mas que traz problemas para todas as pessoas que cruzaram pelo seu caminho. "O presidente Lula deixou muitos cadáveres insepultos pelo seu caminho político, basta lembrar do ex-ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci Filho, do próprio ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, que foi fundamental na organização da campanha dele à Presidência da República em 2002, e do ex-deputado federal Luiz Gushiken (PT), que terminou os dias dele em uma cidade próxima de São Paulo (SP)", exemplificou.
O ex-senador acrescenta que Lula foi deixando cadáveres insepultos pelo seu caminho e comigo ele não foi diferente. "Comigo teve um complicador, pois tinha aquela mágoa pelo meu comportamento republicano à frente de uma CPMI também republicana que investigou tudo às claras e sem acordo nenhum de gabinete. Essa mágoa ficou muito grande e veio o troco, evidentemente, eu já esperava. Depois da minha inocência na Justiça, ele não fez nenhum movimento no sentido de aproximação comigo, até porque o Lula tem esse perfil, o qual considero um defeito, porém, ele também tem as suas qualidades", analisou.
No entanto, ele ainda guarda mágoas com relação ao ex-presidente da República. "Eu passei 85 dias preso e depois fui solto, sendo que o processo continuou em tramitação, levando praticamente cinco anos. Eu achei até rápido em função do que ocorre normalmente na Justiça do Brasil. Agora, é evidente que as portas se fecharam, tive uma série de problemas, minha família sofreu, mas, quero dizer que os meus familiares tiveram um comportamento nobre e fidalgo, pois enfrentou com valentia a situação. Devo muito à minha mulher, a Maika do Amaral, e às minhas filhas, devo muito também à força que pastores evangélicos me deram com oração e estudos bíblicos", pontuou.
Segundo o presidente estadual do PTB, tudo isso lhe deu condições para enfrentar a situação com determinação. "Agora, estou de volta para resgatar aquilo que me roubaram na mão grande. Em uma verdadeira aberração jurídica, talvez uma das maiores que o parlamento brasileiro já sofreu, não sou só eu que falo isso, juristas importantes e respeitados compactuam da mesma opinião. Hoje, se perguntar no Congresso Nacional, todo mundo sabe da injustiça que cometeram comigo", garantiu.
Saúde - Para finalizar a entrevista, Delcídio do Amaral contou na questão da saúde e sobre o fato de passar 60 dias internado devido à Covid-19 e depois por infecção pela dengue. "Quero aproveitar para pedir que as pessoas tomem todos os cuidados possíveis, usando máscara, higienizando as mãos com álcool em gel e água e sabão e guardando o distanciamento. Fiquei esse período todo doente, sofri muito e até hoje não tenho mais olfato, perdi completamente, também estou desmemoriado e sempre tive uma memória muito boa, perdi muita massa muscular e, mesmo com fisioterapia, minhas pernas parecem de um menino. Os meus braços também ficaram finos e agora apareceram outras consequências, pois tive alteração na minha glicemia, enfim, essa doença é muito difícil, muito complicada", revelou.
Na opinião dele, a vacinação é absolutamente fundamental e necessária. "Devemos acelerar a imunização das pessoas por todas as consequências que essa doença está trazendo para o Brasil e para a saúde da população, bem como para a nossa economia e para o nosso futuro. Só para acrescentar, quem me nocauteou de vez foi a dengue, pois ela maltrata e aqui em Mato Grosso do Sul essa doença é endêmica. Eu perdi peso muito rápido, em questão de algumas horas eu perdi quase 12 quilos. Essa foi a segunda vez que peguei dengue. A Covid-19 aliada à dengue me transformou em um cadáver", lembrou.
O ex-senador explicou que já tinha pegado dengue hemorrágica há 5 anos e agora teve essa segunda infecção. "Descobri com os médicos que existem quatro tipos de dengue, ou seja, já tive duas e, caso dê bobeira, posso pegar mais duas. Foram dias muito difíceis para mim, pois fiquei esses 60 dias praticamente imobilizado, não tive condições de trabalhar à frente do PTB como deveria e tocar minhas coisas também, pois minha família trabalhar com pecuária de corte, tenho atividades na área de energia elétrica, pois, sou engenheiro eletricista de formação e, antes de ser senador, foi executivo de grandes empresas nessa área. Porém, como tenho muita fé em Deus e Ele está sempre no comando, eu consegui superar todas essas dificuldades", finalizou.