Hanelise Brito | 16 de junho de 2021 - 10h30

Em 2020, 40 mulheres foram vítimas de feminicídio em MS e 66 sobreviveram a violência doméstica

Dos 40 feminicídios analisados, 32 foram cometidos por homens com quem as mulheres conviveram e 77,5% foram cometidos nas residências

REALIDADE
Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande atende as vítimas de violência doméstica - (Foto: Divulgação)

A violência doméstica contra a mulher ainda é um assunto que precisa ser discutido. Dados do Mapa do Feminicídio de Mato Grosso do Sul mostra que o feminicídio aumentou 33,33% em 2020 se comparado com 2019. Durante o ano, 40 mulheres foram cruelmente assassinadas e 66 sobreviveram a violência doméstica para contar suas histórias.

Dos 40 feminicídios analisados, 32 foram cometidos por homens com quem as mulheres conviveram e 77,5% foram cometidos nas residências, sendo a maioria dos crimes ocorridos na madrugada, entre 00h e 6:59h da manhã (41,5%).

A psicóloga Márcia Paulino, atua na Subsecretaria de Políticas para a Mulher de Campo Grande e fala sobre como a pandemia trouxe muita insegurança a respeito do possível aumento da violência contra as mulheres. 

 “O ambiente doméstico é o espaço em que as mulheres mais sofrem violências, nem sempre o espaço da família é um espaço de proteção e acolhimento, mas sim de violações de direitos. Sendo assim, o maior tempo de convivência doméstica, associado às tensões por uma nova rotina e imposição de novos hábitos de vida como restrições do direito de ir e vir, menor convivência com a família extensa, dentre outros fatores decorrentes da pandemia, são vistos como fatores de risco para a violência contra as mulheres”, afirmou.  

Segundo o Mapa, 17.286 mulheres registraram BO por algum tipo de violência doméstica e familiar. Isso significa que, por dia, mais de 47 mulheres procuraram uma Delegacia de Polícia no Estado.

Apesar de alto, houve uma redução do número de registros de boletins de ocorrência por violência doméstica. Porém, os crimes de feminicídios aumentaram significativamente, o que demonstra que a violência doméstica se intensificou, tirando a vida de mulheres.

“A denúncia é o primeiro passo. Acessar os serviços públicos podem ajudar a vítima de violência a ver que ela não está sozinha. A violência doméstica é um problema cultural e histórico, que precisa da atuação da segurança pública, do sistema de justiça, de políticas públicas e do envolvimento de toda a sociedade para ser superada”, comentou a psicóloga. 

“O acompanhamento psicológico pode ajudar a mulher a reconhecer o relacionamento abusivo, a encontrar caminhos livres de violência para sua vida, a entender que toda mulher merece e pode ter um relacionamento saudável e sem violência e a lidar com as consequências e possíveis traumas da violência sofrida”, continuou. 

Na capital, 2020 foi o ano com maior ocorrência de feminicídios. O sentimento de controle, de posse e de pertencimento sobre o corpo e a autonomia da mulher são os maiores motivos para os autores justificarem os crimes, sob a alegação de "ciúmes".  O inconformismo com a separação apareceu como segunda motivação.

“Quando falamos em relacionamentos íntimos, ainda é muito presente na nossa sociedade a ideia de que o homem tem poder sobre a mulher, sobre seu corpo, suas escolhas e até sobre o seu direito de ir e vir. Ainda vemos o ciúme como manifestação de amor e cuidado, mesmo quando ele limita as vontades e escolhas das mulheres. Assim, é fácil confundir relacionamentos abusivos com afeto, carinho e cuidado”, disse.

Márcia citou ainda, alguns dos motivos que levam as vítimas a não denunciarem seus agressores.

“A violência causa muita vergonha nas mulheres, pois a sociedade ainda as julga como se elas fossem as culpadas. Os motivos são muitos, desde o medo, a dependência emocional e financeira, preocupação com os filhos, a falta de apoio da família e de amigos, a falta de apoio social, a baixa autoestima, a ideia de que nunca mais vai amar ou ser amada, até o ciclo da violência, onde a mulher acredita que, apesar de todos os episódios, o agressor vai mudar”, explicou. 

Atualmente, MS possui 13 Delegacias de Atendimento à Mulher, sendo 1 Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que funciona 24h e possui plantão aos finais de semana e feriados. Outra maneira de efetuar uma denúncia é através do site Não se Cale, que disponibiliza a possibilidade de um atendimento mais silencioso de forma on-line.