Da Redação | 05 de maio de 2021 - 14h55

Diretor da Unimed detalha projeto que reduz consumo de medicamentos usados por pacientes internados com Covid

O diretor-presidente da Unimed de Campo Grande, Maurício Simões Corrêa, explica que método foi tomado devido à falta de produtos no mercado

INOVAÇÃO
O diretor-presidente da Unimed de Campo Grande, Maurício Simões Corrêa - (Foto: Divulgação)

Em entrevista concedida nesta quarta-feira (05) ao Programa Giro Estadual de Notícias, do Grupo Feitosa de Comunicação, o diretor-presidente da Unimed de Campo Grande, Maurício Simões Corrêa, explicou o projeto inovador, desenvolvido pela instituição, que tem ajudado a reduzir o consumo de medicamentos utilizados no tratamento de pacientes internados com Covid-19 no hospital da cooperativa. Ele detalhou que, utilizando dois tipos de monitores de alta especificidade e sensibilidade, é possível monitorar e equalizar a quantidade de medicamentos, otimizando assim o consumo e a iniciativa está diminuindo a quantidade de medicamentos para intubar pacientes com a doença.

"Se a gente levar em consideração que a última grande pandemia mundial foi a Gripe Espanhola, no século passado, quando ocorreu uma mortalidade muito maior que a atual pandemia da Covid-19, nós devemos imaginar que, certamente, muitas pessoas morreram naquela pandemia por falta de assistência ventilatória e respiratória. Embora eu compreenda a demonização da intubação, sem dúvida estamos salvando muitas vidas por meio dela e também da ventilação assistida no momento em que o paciente tem o agravamento do seu processo inflamatório pulmonar e o aparelho respirador consegue fazer com que ele realize as trocas gasosas que permitem a oxigenação do sangue", ressaltou.

Maurício Simões Corrêa reforça que a intubação e a ventilação mecânica estão salvando muitas vidas. "Logicamente que nós passamos por uma situação crítica no Brasil por conta da falta de fornecimento, principalmente, de medicamentos que possam permitir que o paciente possa ser intubado e em ventilação mecânica por vários dias, semanas e até mesmo meses. Principalmente quando tem uma grande demanda, que é que ocorre quando ocorre as ondas, picos de grande número de internações de pacientes. Essa nossa iniciativa de reduzir o consumo de medicamentos utilizados no tratamento de pacientes com Covid-19 vem ao encontro de nós realizarmos uma racionalização da utilização de certos medicamentos que passaram a faltar em todo o território nacional e que, diante de alguns momentos, nos obrigou a fazer a importação da Índia", informou.

Segundo o diretor-presidente da Unimed de Campo Grande, desde o início da pandemia, o hospital da cooperativa já teve cerca de dois mil pacientes internados e, desse total, teve momentos em que 60 pacientes tiveram de ser internados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), utilizando ventilação mecânica. "Os números são variáveis de acordo com o momento da pandemia. Neste momento, por conta da paralisação que fizemos no fim de abril, nós já conseguimos reduzir o número de pacientes internados na UTI, mas, as nossas UTIs continuam cheias. A crise do medicamento só ocorreu agora neste ano, quando tivemos dois momentos de maior movimento de internação no hospital nos meses de julho e agosto de 2020 e novembro e dezembro de 2020. Nesses dois períodos de maior demanda, nós não tivemos nenhum problema de falta de medicamentos, mas, a partir desta segunda demanda de novembro a dezembro, quando o consumo foi exagerado, nós não conseguimos mais comprar os medicamentos", revelou.

Falta de medicamentos - Ele recorda que, na onda de março a abril deste ano, a Unimed começou a perceber que esses medicamentos poderiam faltar, porém, em nenhum momento, chegou a faltar definitivamente. "A falta de perspectiva de você ter a entrega de novos medicamentos foi o que nos obrigou a pensar em alternativas que normalmente já são utilizadas em pacientes, principalmente naqueles do centro cirúrgico, que são submetidos a anestesias prolongadas, quando se utiliza outros medicamentos que não eram ministrados de forma corriqueira na UTI. Foi uma iniciativa que, digamos, a própria pandemia, com toda a sua desgraça, também nos trouxe oportunidade de melhoria do atendimento, pois passamos a utilizar uma tecnologia e alguns medicamentos de uso corriqueiro para a terapia intensiva. Isso possibilitou resultado, não só nos nossos estoques, porque a dificuldade, insisto, da entrega dos medicamentos encomendados pelo hospital continua latente, porém, conseguimos dar atendimento com segurança aos pacientes internados", pontuou.

Ainda durante a entrevista, Maurício Simões Corrêa destacou que a Unimed não computou o número exato de pacientes que se beneficiaram da medida porque esse trabalho está em andamento, mas, ao final de um período maior de utilização, pretende realizar, inclusive, uma publicação desses dados, quando será possível falar com mais exatidão. "Entretanto, posso dizer que foi uma atitude que trouxe bastante conforto para a realidade do nosso hospital, principalmente enquanto nós não conseguirmos regularizar os nossos estoques. Esse método pode ser utilizado por pacientes com qualquer tipo de doença, desde que, logicamente, dependendo das comorbidades que o paciente tem, você precisa fazer a seleção das drogas adequadas. Por exemplo, quando você faz um processo de sedação, analgesia, hipnose, que são três drogas diferentes, elas precisam ser metabolizadas e essa metabolização, em geral, ocorre via hepática e eliminação renal", explicou.

O diretor-presidente da Unimed de Campo Grande ressalta que, dependendo da droga, o paciente que tem um quadro de insuficiência renal ou insuficiência hepática precisará ser feita uma adequação, pois, algumas drogas são contra indicadas e outras precisam ser realizadas uma adaptação da dose que vai ser utilizada. "Porém, a princípio, outros pacientes de outras patologias também poderão se beneficiar. Só quero deixar claro que o método não foi criado, a utilização das drogas já era corriqueira dentro do hospital, mas em uma outra área, que era o centro cirúrgico. Nós passamos a utilizá-la de maneira mais corriqueira agora na medicina intensiva. Então, foi uma adaptação de um conhecimento que já existia e de uso corriqueiro por médicos anestesistas em ambiente de centro cirúrgico que, em conjunto com os médicos intensivistas, encontram meio termo capaz de trazer outras drogas que nós tínhamos em grande disponibilidade no hospital para o uso dentro da medicina intensiva, trazendo os mesmos efeitos esperados com uma racionalização maior daquelas drogas que estavam em falta no mercado", relatou.

No encerramento da entrevista, ele fez questão de destacar que está muito preocupado com o fato de, neste momento, as pessoas, em razão de a mídia deixar de publicar o grande número de pacientes internados e ocupando leitos, pensem que a pandemia está indo embora. "A pandemia não irá enquanto nós não conseguirmos uma imunização em massa da população, portanto, se nós não continuarmos cuidando da higienização das mãos, distanciamento social e a utilização de máscara, poderemos ter mais uma onda e me preocupa muito o fato de que, nas ondas anteriores, nós estávamos muito melhor instrumentalizados para enfrentar o pico. Neste momento, estamos com falta de medicamentos, estávamos importando esses medicamentos da Índia e agora o país se tornou o grande epicentro da doença no mundo e, certamente, terá dificuldade de exportar medicamentos e nós ainda não conseguimos regularizar a oferta de medicamentos no mercado interno. Eu imploro à sociedade que continue se cuidando, que não abaixe a guarda até que a gente consiga imunizar pelo menos de 70% a 80% da população brasileira", finalizou.