Em entrevista, Delcídio garante retorno ao Senado e promete PTB forte para 2022
O ex-senador falou ao programa Giro Estadual de Notícias que se sente injustiçado e que foi uma vítima da situação
DELCÍDIO DO AMARALEm entrevista concedida na terça-feira (02) ao programa Giro Estadual de Notícias, do Grupo Feitosa de Comunicação, o ex-senador Delcídio Amaral, presidente regional do PTB, garantiu que vai retornar ao Senado nas próximas eleições e prometeu um partido forte para o próximo pleito. “Sem dúvida nenhuma, eu me sinto injustiçado. Fui vítima de uma situação que o Brasil vivia e, evidentemente, eu era um dos focos principais de uma investigação que se iniciou lá em 2014 e que agora nós estamos vendo os reflexos dessa investigação. Foi um momento muito difícil para mim, mas, o tempo provou que eu era um homem inocente”, afirmou.
Segundo ele, foi o maior prejudicado. “Fui afastado do Senado, perdi o meu mandato, um mandato fortíssimo, não só para Mato Grosso do Sul, mas para o Brasil, porque eu sempre fui um político que andou muito, que fez muitas coisas pelos municípios. Não há um pedaço de terra neste Estado que eu não tenha feito alguma coisa. Depois de cinco anos, eu fui inocentado em 1ª instância por um juiz federal, doutor Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, e depois fui inocentado pelo TRF1, por unanimidade, com voto ao meu favor até do Ministério Público Federal, que foi quem montou o flagrante forjado contra mim. O próprio MPF reconheceu que eu era um homem inocente. Paguei caro por isso, minha família sofreu bastante, mas eu suportei”, reforçou.
O ex-senador garantiu que agora virou essa página na sua vida e, como presidente estadual do PTB, está ajudando o deputado federal Roberto Jefferson. “Estou trabalhando com o nosso time do partido aqui em Mato Grosso do Sul para resgatar aquilo que me tiraram. Fui eleito para o Senado pela 2ª vez com 828 mil votos. Ninguém até hoje alcançou esse número de votos. Eu vou voltar, claro, depois de ter aprendido muitas coisas, ter reconhecido muitos erros que cometi”, afirmou, acrescentando que era um alvo extremamente relevante porque vinha crescendo muito dentro do Congresso Nacional. “Obviamente, a política tem muita inveja, podemos dizer que a inveja é um dos oxigênios da política, então, quando alguém começa a crescer muito, mais os tiros vêm. Eu fui atingido, mas, virei o jogo outra vez, eu sou um sobrevivente da vida”, ressaltou.
Ainda comentando sobre o processo que sofreu, Delcídio contou que a vida tem uma dinâmica muito própria. “Meus advogados, quando tudo aconteceu comigo, falaram assim para mim: senador Delcídio, daqui a 5 anos – que é agora –, o senhor vai estar sentado na beira do rio, com um chapéu chinês na cabeça, fumando um cigarro de palha e vendo os corpos boiando. Eu estou vendo, mesmo não querendo, eu os vi e tenho visto muitos corpos boiando. As pessoas que me apunhalaram, as pessoas que me traíram, as pessoas que me prejudicaram são os corpos boiando que eu tenho visto e os quais os meus advogados tinham previsto há 5 anos”, relatou.
Roberto Jefferson
No caso do deputado federal Roberto Jefferson, ele declarou que foi um protagonista absolutamente importante na CPI dos Correios. “Foi ele quem descortinou, em uma entrevista para o jornal Folha de São Paulo, contando como tudo aconteceu. Aí surgiu aquela capa da revista Veja com o Marinho nos Correios e, por isso, que passou a se chamar CPI dos Correios. Desde aquela época, a despeito da situação, eu tenho uma relação com o Roberto Jefferson muito próxima porque eu dei a oportunidade para ele se defender. Ele estava em uma situação difícil, muita gente que batia nas costas dele, que abraçava ele, simplesmente fingiam que não o conheciam mais. Eu fui companheiro do Roberto no momento em que o partido ao qual eu representava na época, que era o PT, estava sendo atacado por ele”, recordou.
O ex-senador acrescentou que deu oportunidade para que Roberto Jefferson se defendesse e “ele o fez com bravura, com espírito público, com espírito republicano e isso ajudou muito o Brasil”. “A CPI dos Correios, além desse vínculo e do trabalho desenvolvido, nós fizemos uma investigação de 11 meses, uma investigação pública. O País inteiro acompanhava, não atropelamos a Constituição Federal, não cometemos nenhum tipo de ilegalidade e, quando foi a julgamento o resultado do relatório da CPI, o Judiciário seguiu à risca, do início ao fim, todas as decisões que tomamos”, garantiu.
O presidente regional do PTB pontuou que fez uma investigação pública e não uma investigação de gabinetes, trocando informações pelo WhatsApp, trocando Telegram, combinando prisões de pessoas ou passando por cima da legalidade. “Aquela investigação foi isenta. Ela investigou políticos da situação, políticos de oposição. É assim que o Brasil tem de seguir e precisa resgatar essa cultura de Justiça e não colocar na Justiça um viés político que provocou tudo isso que estamos vivendo lamentavelmente hoje. Por um objetivo nobre, que é o combate à corrupção, mas feito de uma forma extremamente questionável e, o pior, acabando com as empresas brasileiras”, analisou.
Segundo o político, nos Estados Unidos, se o dono de uma empresa é prejudicado ou comete algum ato de corrupção, ele é condenado e tem de pagar multa, porém, os empregos são mantidos e as empresas continuam operando. “Aqui, no Brasil, acabaram com tudo. As empresas que operavam, não só no País, mas em todo o mundo. Eu que sempre viajei, conheço o mundo inteiro, vi empresas brasileiras trabalhando e honrando o nosso Brasil. E aí ficou um carimbo de que elas só ganhavam licitação porque corrompiam alguém. Essas empresas fizeram obras na Europa inteira, o Aeroporto de Miami (EUA) foi feito pela Odebrecht. Nós temos de valorizar tudo aquilo que conquistamos a duras penas”, lamentou.
PT
Sobre o PT, ele disse que ainda é um partido forte, tanto que elegeu a maior bancada da Câmara dos Deputados nas eleições de 2018, mas, a sigla precisa fazer a “mea culpa”, reconhecendo os erros que cometeu. “Isso eu sempre falei, desde quando ainda estava no PT. Porém, a sigla virou prisioneira do ex-presidente Lula. O PT ficou preso com ele lá na Polícia Federal em Curitiba (PR). O partido diminuiu de tamanho e basta olhar o resultado das últimas eleições municipais para comprovar isso. O PT teve um desempenho pífio no Brasil inteiro”, falou.
Na avaliação dele, isso porque na vida a gente tem de entender que chega uma hora que já deu, a grande qualidade que um líder tem é destacar pessoas. “Pessoas com uma cabeça diferente, não entro nesse papo de novo e de velho, porque tem velho que é novo e tem novo que é velho. Precisamos de pessoas com ideias diferentes para construir um Brasil melhor e o PT se perdeu prisioneiro das vaidades, lamentavelmente, do ex-presidente Lula”, avaliou.
A respeito do PTB, Delcídio disse que a legenda vai revelar nas próximas eleições um “timaço”, que, sem dúvida nenhuma, vai recuperar o protagonismo que o partido já deveria ter há muito tempo em Mato Grosso do Sul. “Sob o ponto de vista histórico, o PTB é o partido mais importante do Brasil, não há comparação com qualquer outro que surgiu. Nas eleições municipais do ano passado, nós elegemos 33 vereadores, nós elegemos, entre nomes do partido e aliados, 38 prefeitos ou vice-prefeitos. Volto a repetir, em alianças ou com o PTB na cabeça”, ressaltou.
O ex-senador recordou que pegou o partido com o bonde andando, então, teve de tomar alguns “lexotans” e aguentar algumas mazelas. “Olhei para a questão das dívidas do PTB, que são grandes, mas às quais estou começando a equacionar, não é fácil. Agora, nós vamos preparar o PTB para 2022, porém, de uma outra maneira e dentro das orientações do próprio Diretório Nacional e do presidente Roberto Jefferson. O PTB vem forte, se Deus quiser, no próximo ano”, projetou, agradecendo à militância do PTB. “Mesmo a gente com um partido que passou pelas dificuldades pelas quais passou e pelo pequeno número de vereadores que tinha, nós fomos fortes e enfrentamos essa última eleição. Mesmo comigo se arrastando com a barriga, como falamos no Pantanal, ainda consegui fazer um pouco de campanha em alguns municípios”, informou.
Partido forte
Para 2022, Delcídio garantiu que o “exército do PTB” vai chegar forte e bonito no front para fazer uma grande disputa. “A disputa da cidadania, do desenvolvimento econômico, do social, do futuro, da modernidade, da tecnologia, da integração internacional, da industrialização e da geração de emprego. Uma proposta compatível com os tempos que virão e Mato Grosso do Sul não pode ficar para trás”, assegurou.
Ele também falou da situação atual do Brasil e acredita que o País partiu para uma polarização e isso tem prós e contras. “O País está muito dividido. Até historicamente, o Brasil nunca foi dividido ao meio como está hoje. Agora, o presidente Jair Bolsonaro criou as condições, pois conta com maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, o que lhe permite apresentar uma pauta importante para o País. Ele fez uma coisa, que foi se envolver diretamente em uma eleição na Câmara e no Senado, botando a cara, não é qualquer um que encara isso não. Politicamente, ele criou as condições, não adianta reclamar e, hoje, se as eleições fossem agora, o Bolsonaro, em função desses movimentos políticos, teria todas as condições para ser reeleito”, analisou.
Porém, conforme o ex-senador, temos ainda dois anos pela frente. “O centro vai se reorientar ou vai acompanhar o presidente Bolsonaro? E as esquerdas, como vão caminhar? Porque as alternativas que estão aparecendo em contraposição ao Bolsonaro, pelo menos até agora, não têm a mínima chance de sucesso. É um cenário que vai evoluir, que tem uma dinâmica natural até 2022 e acho que a gente precisa discutir menos e montar uma pauta importante para o destino do País, para o futuro da nossa gente. Não podemos ficar nesse embate ideológico e sem produzir nada que seja absolutamente necessário para o futuro melhor do Brasil”, conclamou.
Para Delcídio, está na hora de colocar o Congresso Nacional para funcionar, reequilibrar os poderes. “Para agir, os poderes têm de atuar harmonicamente, não pode haver predominância de um ou outro poder. O Legislativo foi muito culpado pelo protagonismo do Judiciário, pois tudo era judicializado, e deu no que deu. Agora, tem de puxar o freio de mão, fazer a arrumação necessária para o País caminhar. Tirando uma palavra mágica que pautou muitas atitudes no Brasil: hipocrisia. Um pensador francês dizia que a hipocrisia é homenagem do vício à virtude. Tanta gente viciada em um discurso hipócrita, mesmo a gente conhecendo tão bem o que elas realmente faziam. O Brasil tem de largar mão dessa palavra mágica, que é uma desgraça para o nosso País, lamentavelmente”, finalizou.
Confira no player abaixo a íntegra da entrevista