"A força e a garra dos produtores ajudaram a sustentar a economia no ano de pandemia"
Ao fazer um balanço de sua pasta e das ações empreendidas neste ano no agronegócio, a ministra destaca que a força do segmento foi maior que a Covid-19
MINISTRA TEREZA CRISTINAO agronegócio foi uma das âncoras da economia no mar da crise da pandemia em 2020. Um ano de desafios e de profundo aprendizado para o País. Mas o setor pode avançar muito mais em 2021. A avaliação é da ministra da Agricultura Tereza Cristina Correa da Costa Dias.
Ao fazer um balanço de sua pasta e das ações empreendidas neste ano no agronegócio ela destaca que a força do segmento foi maior que a Covid-19. A indústria não parou, novos mercados foram conquistadas, e o setor ainda manteve a geração de empregos. “Já avançamos muito e sabemos que podemos ir muito mais. O agronegócio tem, nos últimos anos, colecionado excelentes resultados, transformando nosso país numa potência agroambiental”, destacou.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com a ministra.
A Crítica: Como a senhora avalia o desempenho do agronegócio de MS neste ano de pandemia?
Foi um ano de desafios para todos. Mas a força do agro foi maior. Na verdade, a garra do nosso produtor, de qualquer parte do país. Avalio que os produtores do Mato Grosso do Sul souberam aproveitar os momentos favoráveis que irrigaram o setor em 2020.
Apesar das dificuldades trazidas pela Covid-19, conseguiram aumentar a área plantada de grãos em 2,5%, representando mais 128 mil ha. Em destaque, a soja que expandiu em 4,5%, passando a cultivar em 3,15 milhões de ha. Com isso, a colheita em nosso estado deverá ultrapassar 21 milhões de toneladas, ou seja, mais 765 mil toneladas de grãos.
Isso sem prejuízo da área de pastagens que, com aumento na correção e adubação, garantiu a manutenção do quarto maior rebanho bovino do Brasil, que chega a 21,5 milhões de cabeças de bovinos e bubalinos.
A Crítica: Quais foram os maiores destaques do Estado no setor?
Destacaria a grande preocupação dos criadores em ampliar o uso da tecnologia nas áreas de pasto. Há um esforço dos pecuaristas em investir parte dos ganhos gerados pelo aumento dos preços da arroba de boi na melhoria da qualidade das pastagens. Ação essa que vai permitir a liberação de terras para a agricultura, contribuindo assim para transformar áreas - antes com baixa relação cabeça/ha - em mais produtivas.
A Crítica: Qual o diferencial da produção de MS neste tempo de pandemia?
É um Estado que conta com uma boa estrutura de produção e detentor do quarto maior rebanho bovino do país. Possui um gado com genética de qualidade, implantada com elevada taxa de desfrute, terras, clima, conhecimento técnico, além de contar com um parque estruturado de agroindústria. Mesmo na pandemia, continuou com sua produção agropecuária. Os produtores agiram de maneira responsável; souberam se adaptar aos protocolos de proteção necessários a uma produção saudável e, especialmente, preservando a saúde dos trabalhadores do campo. Dessa maneira, contribuíram e muito para a execução do nosso dever de atender, de prover, com os produtos agropecuários os mercados interno e externo.
A Crítica: Quais os maiores desafios?
O ano de 2020 foi, sem dúvida, de muito aprendizado. Certamente, vamos levar ainda um tempo para compreendermos, em sua totalidade, os impactos definitivos dessa crise de saúde mundial. A sanidade dos alimentos será uma grande preocupação do mundo inteiro após a pandemia. E, nesse contexto, a produção brasileira já segue protocolos rígidos para garantir a qualidade de seus produtos agropecuários, com uma legislação sanitária atual e modernizada. Seguimos, cada vez mais, cientes da nossa responsabilidade com a qualidade e inocuidade dos alimentos destinados aos brasileiros e à população mundial.
Como muitos países foram afetados na produção de alimentos, neste período, aumenta a nossa responsabilidade com a segurança alimentar de boa parte do mundo, que já tinha o Brasil como um dos seus principais fornecedores. Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nosso país é responsável pela alimentação de aproximadamente 1 bilhão de pessoas em diferentes partes do planeta e isso deve aumentar nos próximos anos devido às nossas condições de clima ameno e disponibilidade de terras, água e a melhor tecnologia tropical do planeta.
A Crítica: Como a senhora vê a questão da covid no setor do agro?
Desde o início da pandemia, a nossa preocupação foi para que esse setor não parasse e continuasse a garantir o abastecimento, fornecendo alimentos de qualidade para todos os brasileiros. As primeiras ações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foram a criação de um comitê para monitorar os impactos da pandemia e a publicação de uma portaria detalhando as atividades essenciais para garantir o funcionamento do setor.
Também foram elaboradas recomendações técnicas para diversos setores com diretrizes na prevenção da contaminação nos locais de processamento, beneficiamento, transporte e comercialização dos produtos. Além disso, foram feitas também recomendações para o funcionamento de setores como frigoríficos, transporte de alimentos, colheita, feiras e sacolões.
E temos obtido sucesso em cumprir essa missão por conta de todo o esforço que o governo do presidente Jair Bolsonaro fez e tem feito. A logística de abastecimento funcionou muito bem, não faltou alimentos à sociedade brasileira e mantivemos o intercâmbio comercial fluindo. Há uma responsabilidade enorme do Brasil como provedor de alimentos do mundo.
Neste período de pandemia, houve aumento da produção agropecuária, das contratações de crédito rural - inclusive para investimentos - e das exportações. Esse cenário evidencia que o setor, em geral, foi relativamente menos afetado em relações a outras áreas da economia nacional. O agro assegurou a continuidade do pleno abastecimento do mercado interno em todas as regiões do país, além de gerar riquezas para a economia nacional e contribuir com o bom desempenho das exportações e geração de emprego. O agro brasileiro não deixou de empregar. Em algumas áreas, houve até aumento dos postos de trabalho.
De certo modo, a pandemia ajudou na aceleração de algumas aberturas de mercado, que usualmente eram bastante demoradas. Diversos países importadores, preocupados com a manutenção de seu abastecimento, redobraram esforços para viabilizar seus suprimentos de produtos para os quais o Brasil pode contribuir.
Este ano, até novembro, as exportações somaram US$ 93,62 bilhões, cifra recorde e crescimento de 4,9% em relação ao mesmo período de 2019, segundo levantamento da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério. O agro representou quase metade das vendas externas totais do país no período.
A Crítica: A indústria não parou principalmente a de carne bovina e aves e suínos. A senhora acredita que a força deste mercado vai se manter em 2021?
Sim, é verdade. Como mencionei, o governo Jair Bolsonaro trabalhou duro ao lado dos produtores para que não faltasse alimento para nossa população e para o mercado externo. Tivemos tempo para nos planejar e evitar o desabastecimento interno. E estamos falando de um mercado de 210 milhões de pessoas!
O agro não parou. Nesse momento difícil, foi o único setor que cresceu, o que nos coloca numa posição muito favorável para ajudar o país na retomada econômica, mantendo empregos, aumentando a renda, abastecendo o mercado interno e ainda exportando alimentos para todo o mundo. Os horizontes para a agricultura são os mais animadores. A capacidade empreendedora e a força do homem do campo constituem o alicerce da fortaleza da agricultura brasileira.
Tivemos uma supersafra em 2019/2020 e temos perspectivas ainda melhores para os próximos anos com a manutenção e fortalecimento das políticas públicas que deram certo. A busca agora é pelo nosso reconhecimento de maior agricultura sustentável do planeta. Somos uma potência agroambiental. Nossa estimativa para o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), neste ano - com base nas informações de novembro - é de R$ 885,8 bilhões. O valor é 15,1% acima do registrado em 2019, que foi de R$ 769,8 bilhões. As lavouras tiveram um acréscimo de valor de 19,2% e a pecuária, 7,3%. É um resultado que só reforça a grandeza do nosso campo.
As exportações para a China, por exemplo, foram superiores à soma das exportações para União Europeia, América do Norte, América do Sul e Oriente Médio. As vendas para o país asiático representaram 72,9% de toda a soja em grãos exportada pelo Brasil em 2020. Nossas exportações de soja em grãos para a China representaram 25% do total das exportações do agronegócio para o mundo.
Mas destacamos que as análises sobre o comportamento dos mercados estão ainda a depender de condições econômicas mundiais e da, ainda, influência da pandemia. Porém, os primeiros sinais - com o surgimento das vacinas, o que tende a diminuir as incertezas no palco econômico dos principais países da Europa, Ásia e Américas - permitem antever um cenário favorável para o agronegócio brasileiro com manutenção na participação nas exportações e forte receita cambial, mesmo com taxa de câmbio menos favorável às exportações. Porém, há, ainda, boa influência e forte demanda externa. Com isso, podemos antever um 2021 ainda bastante promissor.
A Crítica: O que esperar do agronegócio neste ano?
Estamos atravessando um período único na história recente e, ainda, não temos uma clareza sobre esses efeitos. Avaliamos, porém, que o Brasil tem sabido aproveitar a oportunidade para se firmar como supridor confiável de produtos do agronegócio. Demos um grande passo ao conquistarmos 108 novos mercados, nestes quase dois anos do governo do presidente Jair Bolsonaro, para colocar nossos produtos no mercado internacional, como fruto de um esforço estratégico e diplomático de nossa equipe do ministério. Claro, que é uma grande vitória também dos nossos produtores, com sua dedicação continua e incansável em aperfeiçoar processos e utilizar tecnologia no meio rural.
Mas, sem dúvida, continuará sendo um desafio diversificar nossa pauta exportadora - ainda concentrada em poucos produtos e mercados. Aproveitamos a oportunidade oferecida pelo crescimento econômico e aumento de demanda, no caso da China. Uma das consequências foi essa concentração. Para o longo prazo, temos que trabalhar – internamente e nas negociações – para acessar outros mercados e aumentar o leque de produtos da nossa pauta, além de agregar valor à produção agrícola e pecuária do Brasil.
Queremos que essas posições se consolidem no pós-pandemia. Observamos, com certa preocupação, a possibilidade de recrudescimento do protecionismo agrícola após a Covid-19. Esse não é um caminho que levará, a meu ver, a maior resiliência das cadeias agroalimentares globais.
Será ainda mais importante o trabalho que vem sendo realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de fornecimento de dados de qualidade sobre o setor, o que permite uma ação mais qualificada do Ministério, com uso da inteligência estratégica do agro para elaboração de políticas públicas.
Também será necessário reforçar o trabalho que estamos promovendo pelo desenvolvimento da agricultura familiar, tanto na oferta de crédito para a habitação no campo – o que ajuda a manter o jovem na produção -, quanto na digitalização da assistência técnica e extensão rural, que leva informação e tecnologia.
Queremos ampliar ainda mais a conectividade do homem do campo, para permitir o acesso a informações e programas importantíssimos para o futuro do agro, como o Pronasolos, que leva ao produtor informações mais detalhadas sobre a qualidade do solo brasileiro. Tem também o Programa Bioinsumos, com ampliação da oferta de insumos biológicos para a produção nacional.
Outra questão a destacar é a grande atenção dada pelo público externo e, mesmo interno, às questões de preservação ambiental e, a ligação, muitas vezes incorreta, entre a atividade agropecuária e o desmatamento. É certo que precisamos concluir a implementação do Código Florestal e promover a adequação ambiental dos produtores que não estão em conformidade. Mas, estou convencida: o Brasil tem muito a ganhar com isso. Nossa produção é majoritariamente obtida de maneira ambientalmente amigável.
Enfim, não posso deixar de mencionar os desafios representados pela falta de regularização fundiária de grande área rural do nosso país. São antigos projetos de colonização e assentamentos da reforma agrária que estão pendentes de titulação. Acredito que a entrega do título de propriedade é o primeiro passo para incluir esses estabelecimentos nos sistemas de produção e promover, inclusive, sua adequação ambiental.
Já avançamos muito e sabemos que podemos ir muito mais. O agronegócio tem, nos últimos anos, colecionado excelentes resultados, transformando nosso país numa potência agroambiental. Temos todas as condições para continuar aumentando nossa produtividade com a difusão de novas tecnologias, aproximando cada vez mais o produtor nacional das necessidades do mercado interno e externo.
E já percebemos com clareza que o produtor do Mato Grosso do Sul está trilhando este caminho. Usando a ciência, a tecnologia e todo o seu desenvolvimento para cooperar com o agro nacional.