Barroso aponta articulação de 'milícias digitais' para desacreditar sistema eleitoral
Ministro evitou apontar ligações da 'milícia digital' com qualquer grupo político, mas citou que alguns dos responsáveis por usar os episódios para colocar o sistema de votação em xeque já são investigados
ELEIÇÕES MUNICIPAISO presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta segunda-feira, 16, ver ‘motivação política’ nos ataques sofridos pelo sistema da Justiça Eleitoral no domingo, dia de votação, e apontou a ação de ‘milícias digitais’. Segundo ele, houve uma atuação articulada para tentar desacreditar as instituições do País. Barroso, no entanto, afirmou que os ataques foram neutralizados e não tiveram qualquer relação com o atraso de cerca de três horas na divulgação dos resultados na noite de domingo.
“Milícias digitais entraram imediatamente em ação tentando desacreditar o sistema. Há suspeita de articulação de grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura e muitos deles são investigados pelo STF”, afirmou Barroso em entrevista na sede do TSE, em Brasília. Segundo ele, as suspeitas citadas por ele serão investigadas pela Polícia Federal.
O ministro evitou rotular os grupos que embarcaram na campanha de desinformação a partir das primeiras notícias de ataques contra o TSE. No entanto, relatório produzido pela SaferNet, que atua em colaboração com o Ministério Público Federal, apontou que perfis bolsonaristas e ligados a movimentos de extrema-direita foram os que mais deram eco às informações falsas e enganosas sobre a lisura do processo.
As análises da SaferNet foram entregues ao MPF e à PF. Um inquérito foi aberto para apurar a autoria dos ataques. Em entrevista nesta segunda-feira, Barroso pediu para que sejam investigados “não apenas o ataque específico, mas a orquestração para desacreditar o sistema e as instituições”.
A apuração da SaferNet apontou que às 9h25 do domingo foram divulgadas informações de servidores e ex-ministros do TSE obtidas em ataque realizado em 23 de outubro. No entanto, os dados eram referentes ao período entre 2001 e 2010, e não tinham qualquer relação com o processo eleitoral. Mesmo assim, o fato foi usado nas redes para colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas.
“A divulgação foi feita no dia da eleição para trazer impacto e para fazer parecer fragilidade do sistema eleitoral”, afirmou Barroso.
Na sequência, às 10h41, o TSE passou a sofrer um chamado “ataque de negação de serviço”, quando há milhares de tentativa de acesso para derrubar o sistema . As tentativas partiram do Brasil, dos Estados Unidos e da Nova Zelândia. Com 436 mil conexões por segundo, os sistemas ficaram lentos, mas resistiram.
Atraso
Barroso também deu uma nova versão para o atraso na totalização dos votos, feita apenas 23h55 de ontem, quase três horas depois do resultado em 2018. Segundo ele, a entrega de um “supercomputador” pela empresa Oracle foi atrasada por causa da pandemia. Comprado em março, o equipamento chegou em agosto.
Assim, não houve tempo suficiente para testes prévios e a inteligência artificial do sistema não foi capaz de aprender a tempo a processar o volume de informações que recebeu.
“Imaginar que um atraso de duas horas e meia na contabilização possa repercutir no resultado é não lidar com a realidade. A realidade sai da urna”, disse. “Em nenhum momento a integridade do sistema esteve em risco. O que houve foi um atraso porque o sistema congestionou e travou por incapacidade da inteligência artificial.”
Apesar do atraso na entrega do computador, o presidente do TSE descartou a possibilidade de sanção à companhia por causa das adversidades impostas à realização do serviço durante a pandemia. O contrato com Oracle é de R$ 26 milhões, por 48 meses de serviços.
As 436 mil conexões por segundo, de acordo com os técnicos do TSE, é superior ao dobro de todas as conexões no site da Justiça Eleitoral nas eleições de 2016.