Brenda Leite | 13 de novembro de 2020 - 16h17

Depoimento do deputado federal Trutis contradiz imagens mostradas por perícia

Em seu depoimento, o deputado havia dito que o carro teria parado apenas três vezes naquele dia: na casa de Fidelis, em um posto de gasolina e em uma farmácia

INVESTIGAÇÃO
Fotografia do carro do deputado federal Loester Trutis (PSL-MS) com marcas de tiros e postada pelo parlamentar no Facebook - ( Foto: Reprodução/Loester Trutis )

O deputado federal Loester Trutis (PSL), que foi preso em flagrante, na manhã de ontem (12), por porte de arma de fogo de uso restrito, um fuzil da Taurus T4, calibre 5.65, cumprindo com os mandados de busca e apreensão, expedidos pela ministra do STF, Rosa Weber, teve também seu depoimento comparado com imagens apresentadas pelo GPS e perícia, as quais vão contra o relato do deputado, referente à “emboscada” acontecida no ano passado.

Após algumas horas de prisão, o deputado foi solto, também por ordem da ministra, que acolheu entendimento de que mudanças recentes na legislação, já no mandato de Bolsonaro, fizeram uma distinção entre arma de fogo proibida e de uso restrito. Contudo, o caso de Trutis seria afiançável, o qual teve a prisão relaxada sem pagamento de fiança. 

A história que começou em fevereiro de 2019, quando Trutis ganhou o noticiário nacional ao relatar uma "emboscada", termo usado por ele, que teria sofrido na rodovia BR-060, entre Sidrolândia (MS) e Campo Grande (MS). O deputado postou em suas redes sociais a foto do carro que ocupava, um Toyota Corolla, alugado pelo gabinete na Câmara dos Deputados, o qual apresentava marcas de tiros nos vidros traseiro e lateral esquerdo. 

Entretanto, as imagens não identificaram nenhum carro seguindo o deputado e apresentam uma versão diferente da contada por ele. É mostrado que às 6h21, o carro entra em uma estrada vicinal bloqueada e então volta para a rodovia, em velocidade reduzida.  Já às 6h26 faz um novo retorno, agora em direção a Sidrolândia.  Às 6h27, entra em outra estrada vicinal, onde ficou até 6h29, quando então seguiu para Campo Grande. É mostrado também que na estrada vicinal o carro ficou desligado por 24 segundos, e então às 6h32, o carro é visto pelas câmeras de um posto de inspeção da Secretara de Fazenda com sinais visíveis dos danos causados pelos “disparos".

Ao contrário das imagens, nenhumas das informações citadas haviam sido relatadas por Trutis e Fidelis, os dois ocupantes do carro. Em seu depoimento, o deputado havia dito que o carro teria parado apenas três vezes naquele dia: na casa de Fidelis, em um posto de gasolina e em uma farmácia.

A Polícia Federal foi até a segunda estrada, onde foram encontradas oito cápsulas deflagradas de calibre 9 mm e um fragmento de vidro no local.

PGR aponta que deputado e assessor teriam simulado atentado

Com relatos contraditórios a história narrada pelo parlamentar, a PF disse que começou a enfrentar obstáculos na apuração. Ao apresentar seu e-mail para a PF vasculhar, o assessor Fidelis entregou uma senha. Contudo, segundo a PF, ela estava errada. Além disso, a PF descobriu, no celular entregue pelo assessor, que seis mensagens de áudio enviadas pelo usuário "PSL Jovani" haviam sido apagadas.

 "O assessor parlamentar Ciro Nogueira Fidelis empreendeu duas manobras ardis, claramente com o desiderato [de] atabalhoar as investigações da Polícia Federal", afirmaram, em relatório de junho, os delegados da PF Glauber Fonseca de Carvalho Araújo e Fernando Schwengber Casarin.

A princípio a investigação da PF focou no assessor Fidelis, pois Trutis não poderia ser investigado sem ordem do STF, por conta do foro privilegiado. Porém, o Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul solicitou e a Justiça Federal de Campo Grande determinou o envio dos autos para o STF, onde seguiu para a relatoria de Rosa Weber. Assim, a investigação continuou agora considerando também o deputado como investigado.