Priscilla Limeira | 16 de outubro de 2020 - 10h00

Campo-grandenses recuperados da Covid-19 sofrem com marcas deixadas pela doença

Os relatos e detalhamentos sobre os diferentes casos têm auxiliado imensamente a melhor compreensão da epidemiologia

CURADOS DA COVID
Antônio Benites, recuperado. - (Foto: Arquivo pessoal)

Pessoas que tiveram alta depois de semanas internadas por causa da Covid-19, relatam a luta na continuidade do tratamento em casa. As queixas são sempre as mesmas: feridas por ficar na mesma posição, dores, entre outras mudanças em seu organismo. Em entrevista ao “Jornal A Crítica” três recuperados contam como foi o período de internação e as dificuldades e sequelas vividas desde então.

Antônio Benites, 43, foi internado no final de junho. Ele teve fortes sintomas de gripe, porém seu diagnóstico foi de Covid. Ele ficou 81 dias internado sem nenhum contato com a família, e, após sua alta médica, e segue em tratamento em casa, ainda debilitado sem poder sair da cama.  Mesmo com retorno para a residência, Antônio ainda sofre com as marcas que o coronavírus deixou no organismo. O tratamento até momento é feito com fisioterapia, diante da fraqueza nas pernas e braços. Além disso ele trata os ferimentos provocados pelo fato de ficar por um longo período deitado.

Antônio Benites, em sua saída do hospital

De acordo com Benites, ele necessita do uso de fraldas geriátricas, sem contar os inúmeros gastos com medicamentos, máscaras, luvas e produtos de higiene pessoal. 

Alberto Souza, 37, vigilante, começou a ter sintomas da Covid em 3 de julho, logo depois foi internado, ficando 41 dias hospitalizado. Durante sua internação ele teve infecção generalizada. Foi nesse momento em que seu quadro agravou. Hoje, segundo Alberto, ele lida com a pressão alta, causada pelos medicamentos fortes que tomou durante o tratamento. Assim como Antônio, Souza trata ferimentos na região do cóccix, por ficar muito tempo na mesma posição, além de seguir com fisioterapia.  “Agradeço o milagre que Deus fez em minha vida”, ressalta o vigilante.

Alberto em sua primeira alimentação sem aparelhos

Joel Vieira, 41, motorista de aplicativo, contraiu a doença enquanto trabalhava e ficou 43 dias internado. Assim como Alberto e Antônio, Joel ficou debilitado e hoje sente que a Covid deixou marcas mesmo após sua internação. Ele sente tonturas e dores na perna esquerda, e diz que sua “recuperação tem sido lenta”.

Joel em sua saída do hospital

Relatos ajudam os médicos

Os relatos e detalhamentos sobre os diferentes casos têm auxiliado especialistas na melhor compreensão da epidemiologia, fisiopatologia, tratamento, diagnóstico, e sobre os efeitos pós-Covid-19. De acordo com a médica infectologista Íris Bücker, os pacientes tendem realmente a desencadear a úlcera de pressão, que seria a ferida causada por ficar muito tempo na mesma posição. “O ideal é que um paciente que não consegue se movimentar seja virado no leito a cada duas a três horas”, explica a médica.

Segundo a infectologista, o tempo de surgimento das feridas é variado, pois a pessoa magra tende a ter o processo mais acelerado, já o obeso tem o tecido adiposo que protege um pouco, porém não evita a lesão. Isso ocorre em qualquer doença na qual a pessoa deve ficar muito tempo deitada, relata.

Ainda de acordo com Iris, a alteração depende de cada paciente, já que existe uma variação no pós Covid. “Existem relatos de pessoas que tem cansaço intenso, dores articulares, problemas neurológicos porque o vírus afeta o cérebro. Outras pessoas que tem o rim afetado, pode ter pressão alta ou outras alterações. Cada paciente pode desenvolver uma complicação e tem pessoas que não desenvolvem nada”, esclarece.

Bücker, informa que ainda está em estudo, se essas alterações são permanentes ou não. Porém, o que se tem analisado é que dentro de poucos meses a pessoa recupera sua condição fisiológica. Para afirmar que a condição é permanente a classificação seria de um ano com perda de olfato e paladar.

Os homens citados na matéria fazem parte dos dados emitidos pela  Secretaria de Estado de Saúde (SES), que apontam que das pessoas que seguem em tratamento, 3.697 pessoas estão em isolamento domiciliar. Até o momento, mais de 76 mil pessoas foram infectadas com o vírus em Mato Grosso do Sul.

No ranking de municípios mais afetados, Campo Grande lidera, com 33.419 pessoas atingidas, em segundo lugar, Dourados, com 7.851 pessoas infectadas e 4.466 em Corumbá.

“Ainda não sabemos do impacto do feriado prolongando, quando observou-se um afrouxamento das medidas de biossegurança, para conter o avanço do vírus”, destacou  Geraldo Resende, secretário de Estado de Saúde.