Paes: Não incluímos Legislativo e Judiciário na reforma para não judicializá-la
Segundo secretário, o governo não enviou ao Congresso uma proposta pronta, mas, sim, um arcabouço de reforma da administração pública que pode ser alterado pelos parlamentares
ECONOMIAO secretário especial de Desburocratização, Caio Paes de Andrade, disse nesta terça-feira, 22, que a reforma administrativa encaminhada ao Congresso não incluiu funções do Legislativo e do Judiciário - entre parlamentares, juízes e promotores - como estratégia para evitar a judicialização do tema na largada da proposta.
"Não mandamos para os outros, do Legislativo e do Judiciário, para evitar a judicialização muito cedo da reforma. Não foi por medo. Foi uma estratégia", comentou Paes em live promovida pela corretora Necton.
Segundo o secretário, que substituiu o demissionário Paulo Uebel no mês passado, o governo não enviou ao Congresso uma proposta pronta, mas, sim, um arcabouço de reforma da administração pública que pode ser alterado pelos parlamentares.
"Basicamente, a gente criou um arcabouço jurídico para o Congresso discutir temas importantes, tendo a preocupação de evitar a judicialização precoce do tema", afirmou Paes, citando riscos de a reforma esbarrar em interesses corporativos e legalidades caso a equipe econômica não tivesse tomado esse cuidado.
Também presente na live, o secretário especial adjunto de Desburocratização, Gleisson Cardoso Rubin, observou que o Congresso pode apresentar emendas para incluir outras funções durante a tramitação da proposta. "Temos notícias de que alguns parlamentares vão apresentar emendas de inclusão de membros do poder entre as vedações que a PEC traz", assinalou o secretário.
Ao justificar as carreiras não incluídas na PEC, Rubin argumentou que o Executivo não tem competência para propor mudanças no Judiciário, ao passo que os parlamentares não são definidos como servidores pela Constituição.
Ele reforçou o argumento do secretário de que a inclusão dessas carreiras acarretaria risco de judicialização, com discussões de natureza jurídica logo na largada da reforma administrativa.
Citando previsões do Ipea, Rubin frisou que a reforma, como proposta pelo governo, permitirá uma economia à União de R$ 300 bilhões em dez anos, sendo a maior parte desta economia (cerca de R$ 200 bilhões) vinda da suspensão dos reajustes do funcionalismo até o fim do ano que vem.
Outros R$ 100 bilhões, em valores arredondados, viriam do prolongamento de carreiras - já que as regras atuais permitem a servidores encerrar carreira em dez anos - e alinhamento dos salários de novos servidores às remunerações pagas no setor privado.
Paes disse ter confiança de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocará a reforma administrativa para tramitar logo, já que o próprio parlamentar cobrou a matéria. Segundo o secretário do ministério da Economia, como a coordenação política é função da Casa Civil, o papel de sua equipe neste momento é o de preparar as medidas complementares da PEC: seis projetos de lei ordinária.
"Estamos prontos para mandar projetos complementares ao Congresso", disse Paes. Ele, ao salientar a necessidade da reforma durante a live, citou a incapacidade do Estado de investir em infraestrutura, manter a máquina pública e de sustentar. Conforme o secretário, o aumento dos déficits das contas públicas representa uma "bomba-relógio" que pode, um dia, impedir o pagamento do funcionalismo.