Coordenador da Funai diz que vai integrar “indiozinhos” para namorar com “um pretinho, um branquinho”
O militar da reserva diz que "o índio é uma criatura como nós" e que será "um instrumento de consecução dos objetivos do governo" Jair Bolsonaro
INTEGRAÇÃO?Definindo-se como “um instrumento de consecução dos objetivos do governo” Jair Bolsonaro, o recém-nomeado coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) no Mato Grosso do Sul, José Magalhães Filho, afirmou em entrevista ao Bom Dia MS que o processo de integração dos indígenas da região passa por levar os filhos às escolas urbanas, para que “o indiozinho, a indiazinha” possa “namorar com um pretinho, um branquinho”.
“Nós temos que preparar esse indiozinho, essa indiazinha, para frequentar a escola urbana. E assim a namorar com um pretinho, um branquinho. E essa integração vem surgindo automaticamente. Essa forma é nossa política a ser implantada”, disse o coordenador, que assumiu nesta quinta-feira o cargo e antes era conhecido como “O Homem do Megafone” e tinha como slogan a frase “não reeleja”, que gritava nas ruas de Campo Grande.
Indicado para o cargo pela senadora Soraya Thronicke (PSL), Magalhães disse que pretende implantar escolas em tempo integral para que os indígenas possam ter um lugar para guardar seus cadernos e livros.
“A língua portuguesa tem que ser ensinada, incentivada nas escolas indígenas. Pretendo e tenho sonhos que muito mais que uma escola de tempo integral, a gente tenha uma escola social, onde o indiozinho, a indiazinha, na parte da tarde ele comparecerá para fazer suas tarefas orientado por professor. Onde tenha um local adequado para guardar seus cadernos, seus livros, porque na sua casa não tem. Muitas casas são de chão de terra batido, os cadernos e as folhas dos livros são todas amareladas”, disse.
Militar da reserva e sem experiência na administração pública e muito menos na relação com indígenas, Magalhães diz que “o índio é uma criatura como nós” e que tem a credencial necessária para assumir o cargo.
“A gente esquece que o índio é uma criatura como nós. E para estar à frente da coordenação cujo objetivo do governo é a integração do índio à sociedade basta somente ter sensibilidade humana. É o que basta”.
Dados
Os indicadores de Dourados levam o Mato Grosso do Sul a ser o estado com maior número absoluto de violência sexual contra mulheres indígenas, com quase o dobro dos registros de qualquer um dos estados da Amazônia brasileira. Desde 2012, é a cidade onde mais mulheres indígenas são vítimas de violência sexual no Brasil. Quem vive e estuda essa realidade considera que o cenário pode ser ainda pior devido à subnotificação.
De acordo com a Agência Pública e levantamento do Ministério Público Federal no Mato Grosso do Sul (MPF-MS) com números do Ministério da Saúde, entre 2012 e 2014, a taxa de homicídios entre os indígenas da região de Dourados foi de 101 vítimas a cada 100 mil habitantes – quase o dobro da taxa de homicídios de indígenas no Mato Grosso do Sul, que é de 55,9. Para ter uma ideia, os homicídios entre a população geral no estado são cerca de um quarto da taxa na reserva, 26,1 a cada 100 mil. A média brasileira é de 29,2.