Juíza federal obriga FAPEC a entregar “espelho” da correção da redação do Passe da UFMS
O advogado do aluno explica que surgiram reclamações quanto ao critério de avaliação da redação e diversos alunos, pais e professores chegaram a ir até o MPF, mas nada foi resolvido
DECISÃOA juíza federal Janete Lima Miguel, da 2ª Vara Federal de Campo Grande, determinou, em atendimento ao mandado de segurança impetrado pela defesa do estudante Lucas Gonçalves de Almeida, que a Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura) entregue, em um prazo de 24 horas após a intimação, o “espelho” da redação elaborada no dia das provas do Passe (Programa de Avaliação Seriada Seletiva) UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), o “espelho” da correção da prova de redação e o documento que conste a motivação do indeferimento do recurso administrativo apresentado.
Além disso, no mesmo mandado de intimação, a magistrada determina que a Fapec deve prestar informações pertinentes ao caso e encaminha os autos para que o MPF (Ministério Público Federal) possa dar seu parecer. O advogado Muriel Arantes Machado, que representa o estudante Lucas Gonçalves de Almeida em conjunto com o advogado Rafael Antônio Scaini, explica que, nas provas aplicadas no fim do ano passado pela Fapec, surgiram muitas reclamações quanto ao critério de avaliação da redação e diversos alunos, pais e professores chegaram a ir até o MPF, que fez inúmeras reuniões com os representantes da Fundação e nada ficou resolvido.
“O meu cliente foi um dos prejudicados, pois, ele teve um bom desempenho nas notas, mas a da redação não foi condizente. O Lucas de Almeida sempre foi o melhor aluno em redação de cursinho Nota 10, inclusive fez curso da matéria com professores que adotam o mesmo critério de avaliação do ENEM, tirando sempre notas máximas em todas as redações. Prova disso é que na redação do ENEM ele tirou 940 (máximo é 1000) e, no sistema do Passe da UFMS, alcançou 670 pontos. Os professores dele corrigiram a redação e todos afirmaram que a nota dele não poderia ser menor que 900 pontos”, detalhou o advogado, informando que, com 700 pontos no Passe, o estudante estaria aprovado para o curso de Medicina da UFMS.
Muriel Machado acrescenta ainda que, diante desse fato, o estudante requereu junto à Fapec e à UFMS o “espelho” da prova com as correções, mas o pedido foi negado por ambos as instituições. “Da mesma forma, requeremos a motivação da improcedência do recurso administrativo, o que também foi negado. Com essas negativas, a pedido do meu cliente, ingressei com um mandado de segurança na Justiça Federal com um pedido de antecipação de tutela, que foi deferida na quinta-feira (06), determinando que Fapec e a UFMS forneçam, no prazo de 24 horas após serem intimadas, o espelho da redação com as correções e a fundamentação da improcedência do recurso”, detalhou.
Decepção
O estudante Lucas Gonçalves de Almeida classificou o episódio como lamentável. “Foi bem decepcionante, pois, no ano passado, fui aluno da 3ª série do Ensino Médio e dediquei meus estudos exclusivamente ao ENEM e às provas da UFMS, principalmente, ao Passe, devido sua menor concorrência em relação ao vestibular. Fiz inclusive um curso de redação para ajudar nos meus resultados e, assim, durante todo o ano, além das outras matérias, investi muito do meu tempo para redação, cujo peso é bem alto para o curso que eu almejo, que é Medicina”, relatou.
Lucas Gonçalves de Almeida ressalta que foram várias redações feitas por ele durante o ano e as últimas chegando até à pontuação máxima na maioria das vezes. “Fiz então as provas e, chegado o resultado, foi algo satisfatório no ENEM, 940 na redação de um total de 1000 pontos, nota totalmente coerente, dado meu conhecimento de seus critérios de avaliação e minha redação escrita, esta que guardei o rascunho após o dia da prova. Porém, no Passe UFMS foi algo bem diferente e tive 670 na redação”, recordou.
Para ele, a nota baixa foi uma surpresa, assim como para o professor com o qual fez o curso paralelo visto a discrepância entre essa nota e a do ENEM. “Fui, então, mostrar essa redação para meu professor, para saber quais foram os meus erros. Aí foi a surpresa maior, não havia erros que justificassem tal nota. Perguntei para outro professor que disse a mesma coisa e, então, procurei os critérios de avaliação da redação e não achei nada concreto que esclarecesse a nota. Entrei, então, com o recurso, mas com uma reclamação totalmente genérica, uma vez que não sabia quais foram os critérios avaliados e, assim, não conseguia reclamar diretamente em algum ponto da minha escrita”, alegou.
O estudante reforça que, quando veio o resultado do recurso, dando como improcedente a solicitação. “Mais uma vez, não teve nenhuma justificativa, fazendo com que eu e vários alunos com exatamente o mesmo problema ficassem à mercê de processos jurídicos que levam tempo, enquanto a lista de aprovados e o início das aulas da faculdade seguem seu processo normal. Por isso, como não há muito o que fazer além de esperar e torcer para algum resultado, já ingressei, neste ano, em um cursinho preparatório, visando refazer as provas no fim de 2020, mas ainda sem saber o quê eu errei e o porquê da minha nota, ou seja, estou suscetível a cometer os mesmos erros sem ao menos saber quais são. É bem decepcionante”, finalizou.
Outro lado
A reportagem do jornal A Crítica questionou a Fapec sobre a decisão da juíza federal Janete Lima Miguel, da 2ª Vara Federal de Campo Grande, mas, por meio da assessoria de imprensa, foi informada que a instituição só vai se pronunciar a respeito após ser notificada pela Justiça Federal. No dia 23 de janeiro deste ano, um grupo de candidatos do Vestibular 2020 e da 3ª etapa do Passe UFMS já tinha ido até a Defensoria Pública da União em Mato Grosso do Sul e ingressado com uma ação coletiva solicitando nova correção das redações dos dois processos seletivos.
Conforme os relatos, há discrepância entre os critérios adotados pela Fapec em relação a outras bancas e, a prova disso, segundo eles, é que diversos alunos com nota superior a 900 no Enem, por exemplo, foram avaliados com pontuação inferior a 600 pontos na prova da Fapec, enquanto em outro caso a candidata entrou com recurso após ter “zerado” na prova de redação e a nova pontuação passou para 600 pontos.
Em nota, a Fapec respondeu que as provas de redação foram produzidas e corrigidas conforme as regras e critérios adotados pela nossa instituição e disponibilizados no edital de abertura do PASSE 3ª ETAPA (anexo III) e do VESTIBULAR UFMS (anexo V), podendo divergir dos critérios adotados para a correção do Enem. Ainda conforme a instituição, os candidatos que optaram por recorrer às notas publicadas no edital de Resultado Preliminar estavam sujeitos a acréscimo ou decréscimo da nota o que resultou em uma modificação da nota final dos candidatos divulgadas no edital de Resultado Final influenciando na classificação.