31 de dezembro de 1969 - 21h00

Lúdio Coelho e a visão do pecuarista

Entrevista
Pecuarista Lúdio Martins Coelho ressalta imporância da classe produtora para o País - Eder Campos / Agroimagebank.com

O produtor rural, ex-senador da República e ex-prefeito de Campo Grande, Lúdio Martins Coelho, apresenta sua visão sobre vários assuntos ligados ao setor produtivo do Estado. Ele opina também sobre a possibilidade de demarcação de terras que podem se transformar em áreas indígenas no Estado e dá sugestões para evitar conflitos. Comenta também a criação do dia do pecuarista, pelo Governo Federal, por meio da Lei 11.716, de 20 de junho deste ano, que institui 15 de julho como data em homenagem a classe.

Criação do dia do pecuarista
Lúdio Coelho – “Não vejo grande valor nisto. Claro que é importante ter uma data destas, mas tenho certeza que o pecuarista ficaria muito mais feliz se tivesse apoio na simplificação das leis, redução de impostos, estradas descentes, porque a gente produz e não tem boas vias para o escoamento da safra.”

A criação de uma data como forma de valorizar
Lúdio Coelho
– “Eu penso que o poder público brasileiro está precisando olhar o setor com espírito prático. Os homens do campo estão sendo penalizados por uma série de exigências burocráticas que estão transformando nossa atividade em algo que tira bastante o prazer da gente. Outro dia eu conversei com um pecuarista das antigas e ele me disse que deu todas as coisas para os filhos e ia ficar trabalhando só na fazenda porque se fosse pra ele mexer com papel não dava conta. Na minha opinião está muito penoso para nós o cumprimento das exigências do poder público. Primeiro foi a medição de terras nas áreas de fronteira. Depois inventaram o georeferenciamento e agora querem demarcar terras para reserva indígena! Eles (governo)vão criando uma série de coisas que vão onerando demais.Pagamos muita coisa que não tem
uma correspondência na melhoria da produtividade.”

O Valor da pecuária para o Brasil
Lúdio Coelho – “A pecuária brasileira é um setor que está sendo de grande utilidade para a Nação Brasileira. Além de fornecemos carne para o nosso consumo, estamos sendo um fator importante nas exportações brasileiras. A pecuária está passando por uma transformação muito grande. A entrada das usinas de açúcar, principalmente no nosso estado, está forçando uma modernização na atividade. Os senhores fazendeiros estão modernizando e atualizando suas atividades. O gado brasileiro, por exemplo, que era criado a pasto, hoje tem uma transformação para o consumo da ração. Nós conseguimos diminuir o abate que antes era de quatro, cinco anos – para dois.”

A falta de subsídios para os produtores de países emergentes
Lúdio Coelho - Eu tenho acompanhado atentamente que nos países de primeiro mundo os produtores rurais terão subsídios. Enquanto que nos emergentes, como o Brasil, não tem este apoio. Vejo isto com muita estranheza porque ao invés do produtor brasileiro ser subsidiado para produzir mais para a nação, estamos combatendo uma decisão interna de nações que subsidiam agricultores porque não tem outra maneira. Esta nossa atividade é de alto risco porque depende da seca, de adubo; depende de mil coisas para ter êxito. Estes
países subsidiam porque não têm alternativa. É importante que a população saiba que estamos produzindo uma agricultura da melhor qualidade. Estados Unidos é a maior nação produtora porque lá eles dão subsídios aos produtores e é isto que precisamos fazer aqui. Quando se analisa a agricultura brasileira só temos caminhão para transportar. Não temos navio, estrada de ferro. Analisa o custo de transporte que é pago pelo produtor.

A importância do produtor para subsistência da humanidade
Lúdio Coelho – “A sociedade não conhece este valor. Houve um tempo de campanha muito grande contra fazendeiro dizendo que eram pessoas ruins. Coronéis que exploravam o povo. Hoje isto mudou um pouco, mas as pessoas não têm o entendimento da importância do homem do campo para a humanidade. E nós somos muito importantes para a humanidade porque damos condições de sobrevivência.

A cana-de-açúcar e o eucalipto no MS
Lúdio Coelho - Isso é bom para o Estado. Muita gente acredita que a cana vai prejudicar a agricultura, mas acho que vão conviver bem. A madeira oferece um leque de opções muito grande. Além disso, o eucalipto dá em terras fracas. Acho que vai desenvolver demais o reflorestamento no nosso Estado. Na minha opinião, temos que plantar mais e, se eu fosso mais novo, plantaria mais.

Demarcações de áreas para comunidades indígenas
Lúdio Coelho – “Estou com 86 anos, nasci na fazenda por mão de parteira e fui criado com meus irmãos no mato. Eu não tenho nem o segundo grau completo. Estou vendo estes técnicos aqui, mas não sei o que vão procurar porque o Brasil
inteiro pertenceu aos índios. Eles eram nômades. Eles saíam por tudo quanto era canto caçando bicho pra comer. Este trabalho proposto pelo Governo está
trazendo apreensão. Na nossa constituição diz que a terra onde tem índio é do índio; não onde ele esteve. Agora, não sei o que eles vão procurar porque todo
mundo sabe onde tem índio.”

Interesse de organizações que não representam os índios
Lúdio Coelho - “Este negócio é muito complicado. Vejo muitas Ong´s (Organizações Não Governamentais) envolvidas neste assunto. Eu nunca vi conflitos entre brancos e índios aqui. Gente! Eu fui criado no mato e nunca vi isto! Na sociedade sem índio tem muito mais conflito! O que precisamos mesmo é dos índios na sociedade. Precisamos integrar estas minorias. Os japoneses
não vieram pra cá sem falar uma palavra em português? E olha a quantidade de japoneses que temos. Será que não somos capazes de integrar os índios? Digo e repito: O País não pode criar conflitos de minoria.

A exclusão do índio no País
Lúdio Coelho – “É uma questão cultural. Ele é um crioulo da terra que não teve instrução, mas a grande parte está se integrando. A Constituição o considera um incapaz, mas ele não é assim. Ele é capaz, sim. O que me preocupa é esta ânsia do poder público em entrar em área que está bem, calma.

Os prejuízos com as demarcações
Lúdio Coelho - São conseqüências absolutamente imprevisíveis. Quem nasceu nestas terras não vai querer entregá-las. Até os animais irracionais querem sua terra. Os pioneiros não vão querer perder. Não tem porque fazer isto. Eu pergunto: Qual a justificativa? Não tem porque ta todo mundo trabalhando, produzindo. Esta região que querem demarcar é muito importante para o setor produtivo.