Carlos Ferreira | 27 de setembro de 2019 - 16h59

Endometriose: a luta diária para lidar com a doença

O relato de Cris Oshiro, 43 anos, mostra os desafios a serem enfrentados todos os dias após o diagnóstico de endometriose

BATALHA
Após as cirurgias, a mãe dois filhos, tenta levar uma vida normal e comemora poder fazer coisas simples como lavar roupas, se alongar ou ir ao supermercado - Foto: Arquivo Pessoal

Endometriose é uma afecção (uma modificação no funcionamento normal do organismo) inflamatória provocada por células do endométrio que, em vez de serem expelidas, migram no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil a doença atinge 15% das mulheres, cerca de sete milhões de pessoas.

"Quando fui diagnosticada já era tarde, pois havia um grande aumento nos ovários. Geralmente a doença não aparece nos exames de imagem e em alguns casos evolui fazendo a mulher perder vários órgãos, inclusive os rins", explica Cris. 

O ginecologista e obstetra Igor Padovesi avalia que a cada 10 mulheres, uma ou duas podem ser diagnosticada com a doença, sendo possível descobrir apenas com exames específicos.

"É muito importante que a paciente que esteja sentindo dores faça o exame especializado, com uma equipe que tenha experiência no assunto. O exame bem feito tem registrado cerca de 96 a 98% de acerto na apuração do diagnóstico".

O resultado do exame trouxe preocupações a Cris, porém, o sofrimento não se comparava às dores físicas que lhe tiravam a possibilidade de exercer tarefas simples, como caminhar. 

"Tive que procurar vários médicos especialistas em Campo Grande. Cheguei a falar com os diretores da ginecologia de dois hospitais públicos e todos diziam que no meu caso era para ser operada em São Paulo", desabafa.

A endometriose regride espontaneamente com a menopausa, em razão da queda na produção dos hormônios femininos. No caso de Cris, a psicóloga precisou retirar o útero e as trompas e há dois anos retirou os dois ovários – induzindo a menopausa precoce, devido ao avanço da doença. 

"A cirurgia traz um grande alívio dos sintomas - quanto antes melhor, mas eu demorei muito até conseguir encontrar um caminho", afirma.

Após as cirurgias, a mãe dois filhos, tenta levar uma vida normal e comemora poder fazer coisas simples como lavar roupas, se alongar ou ir ao supermercado. 

"Sinto algumas dores, mas nada comparado as dores incapacitantes de antes da cirurgia. Só eu sei como agradeço conseguir ficar sentada um período todo para atender meus pacientes, mesmo limitando meu trabalho", revela.

Em 2014, após uma grande mobilização com a participação de Cris Oshiro, foi sancionada a lei municipal que institui uma Semana de Conscientização da Endometriose em Campo Grande e é utilizada como referência no País. 

Mobilização em 2014

"Se ame como está, tenha bons sentimentos e não adie decisões - especialmente de procurar um especialista ou fazer logo a cirurgia. Existem redes de amparo, grupos de mulheres - procure porque podemos recomendar médicos. Está tudo bem porque em tudo há um propósito e que cada uma de nós encontre o seu", afirma.

Festival de sobá organizado em prol de Cris

Para realizar o pagamento de todas as despesas, amigos de Cris realizam rifa de uma TV. Quem quiser contribuir, basta entrar em contato pelo número  (67) 99257-1216. A rifa custa R$ 20,00 e o sorteio será no dia 12 de outubro em sua página no Facebook.