30 de julho de 2009 - 15h15

Pecuaristas recebem informações sobre mercado orgânico

Pecuária

   Produtores reunidos no 1º Simpósio de Pecuária Orgânica, realizado no dia 24 de julho, na fazenda Rancharia, no Pantanal da Nhecolândia, tiveram acesso a informações relevantes sobre o mercado de produtos orgânicos, em especial da carne orgânica. Os dados foram apresentados pelo pesquisador André Steffens Moraes, da Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

   Cerca de 80 pessoas acompanharam a palestra, que mostrou a liderança mundial da Austrália em termos de área agrícola sob manejo orgânico, seguida pela Argentina e pelo Brasil. Em quarto e quinto lugares estão os Estados Unidos e a China.

   No entanto, apesar de manter a maior área de produção, a Oceania tem apenas 1% dos produtores. A grande maioria deles (44%) está na África e é formada por pequenos produtores. Em todo o mundo, estimava-se, em 2007, a existência de 1,2 milhão de produtores orgânicos.

   André Steffens disse ainda que quase dois terços da terra sob manejo orgânico são de pastagens. Isso corresponde a aproximadamente 20 milhões de hectares.

  De acordo com o pesquisador, a produção de carne orgânica no Brasil e no mundo cresceu consideravelmente entre 2006 e 2007. Os principais mercados consumidores ainda são os chamados países ricos, que importam da Austrália, da Argentina, do Brasil e do Uruguai. “Esses países enxergaram a oportunidade de mercado, que vai continuar crescendo”, afirmou.

   Mas o consumo no mercado interno também tende a aumentar, de acordo com o pesquisador.  A previsão é que cresça o número de produtores no país. “Em alguns países da Europa, a carne orgânica está deixando de ser um nicho de mercado, de ser vendida em butiques de carne ou lojas especializadas. Ela é encontrada facilmente em supermercados e está cada vez mais acessível”, disse.

   André afirmou ainda que no caso da produção orgânica, não é o produto que detém a tecnologia, mas o processo de produção. Daí a importância da certificação porque apenas visualizando o boi ou a carne, não é possível saber se ele é orgânico ou não.

   O pesquisador disse ainda que a crise econômica mundial afetou o mercado de orgânicos, reduzindo o poder aquisitivo dos consumidores e o volume de investimentos de produtores no sistema, mas o mercado vai continuar apresentando taxas de crescimento positivas nos próximos anos.

EVENTO

   O Simpósio de Pecuária Orgânica foi prejudicado pelo mau tempo no fim de semana no Pantanal. Temperaturas próximas a 6ºC, céu nublado, ventania e chuva impediram a chegada do governador André Puccinelli e do palestrante Márcio Buainain, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Eles iriam de avião até a fazenda Rancharia, onde também aconteceu, no sábado, a 4ª Cavalgada do Pantanal.

   O simpósio foi aberto pelo presidente da ABPO (Associação Brasileira de Pecuária Orgânica), Leonardo de Barros. Ele disse que o objetivo da cavalgada seria reverenciar a cultura pantaneira, responsável, em grande parte, pela conservação de 85% da vegetação original do ecossistema.

   Esses dados foram apresentados por cinco ONGs (Organizações não Governamentais), que fizeram um estudo do desmatamento na região, com a consultoria técnica da Embrapa Pantanal. Leonardo lembrou ainda que a pecuária está presente no Pantanal há mais de 200 anos, sem agredir o meio ambiente.

   Ele afirmou ainda que 18 propriedades pantaneiras já estão certificadas para a pecuária orgânica, um projeto que começou em 2002. Para o presidente da ABPO, o associativismo dos produtores voltado à gestão comercial, foi fundamental para o sucesso do projeto. “A união garante escala e poder de negociação na cadeia mercadológica”, afirmou.

   Leonardo disse que outro fator importante é a padronização da carne, que deixou de ser uma vantagem competitiva e se tornou um “dever de casa”. Em seguida, ele falou das alianças estratégicas do projeto, incluindo o frigorífico JBS Friboi, a Embrapa Pantanal, a WWF-Brasil, a Real H e a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), além de ONGs que reúnem produtores pantaneiros.

   O chefe geral da Embrapa Pantanal, José Aníbal Comastri Filho, também afirmou que a cultura pantaneira ajudou a salvar o Pantanal da degradação. Lembrou que a empresa de pesquisa está inserida na cadeia produtiva da carne porque busca tecnologias que possam agregar valor ao produto. Comastri disse ainda que a fazenda Nhumirim, da Embrapa Pantanal, está em fase de certificação para a produção orgânica.

   Ainda na abertura do evento, o pecuarista Nilson de Barros, coordenador do projeto Equali (Escola de Qualificação Rural), ligado aos cursos de veterinária e zootecnia da UFMS, fez um breve histórico sobre a ocupação da região centro-oeste, incluindo a busca pelo ouro e a chegada dos primeiros animais. Ele se baseou no livro “A propósito do boi”, de Aline Figueiredo, que conta a história das primeiras fazendas da região.

    Também se manifestaram na abertura o presidente da ACCP-MS (Associação dos Criadores de Cavalo Pantaneiro) de Mato Grosso do Sul, Ayrton Bacchi Neto, e Cristiano de Barros, da Real H.