O Chef Robuchon e seu legado
Por Paulo Machado
ARTIGOMorreu nessa segunda-feira, 6, na Suíça, aos 73 anos, o chef francês Joël Robuchon. Pode ser que você não tenha conhecido o trabalho dele ou nem sequer tenha ouvido falar, porém seus feitos na gastronomia francesa e mundial deixaram uma marca indelével, que lhe deram muitos prêmios, dentre eles o título de “Cozinheiro do Séc. XX” (guia francês Gault&Millau, 1989).
Sua carreira na cozinha foi marcada por uma primeira fase, em que o chef possuía seu único restaurante em Paris e quando conseguiu atingir as tão difíceis 3 estrelas no guia Michelin. O fechamento desse primeiro espaço aconteceu em 1996. Logo depois, Robuchon volta à cena com outra faceta, a de chef empresário. A restauração recebeu então uma série de negócios com sua assinatura, agora com caráter menos rigoroso que o seu primeiro restaurante mas sem perder o padrão, perfeccionismo e a elegância.
“Robuchon surpreendeu o mundo com sua capacidade inventiva. Ele manejava com fidelidade a cozinha francesa, mas, já nos anos 1990, mostrava abertura para influências asiáticas, além de intuir os ventos renovadores que chegavam da Espanha”, analisa o jornalista Josimar Mello.
Empreendedorismo, inovação, método, arte. São muitas as qualidades que se vão da gastronomia com a perda de Robuchon. Seu legado é sem dúvida imensurável. Juntos, seus mais de 20 restaurantes em várias partes do globo (de Vegas a Singapura) acumularam 32 estrelas no Guia Michelin (número inédito).
“A experiência de comer pratos assinados pelo chef Robuchon é inesquecível em todos os sentidos, uma verdadeira viagem gastronômica”, me contou há pouco Maria Alice Gessi, querida amiga e gourmand que jantou recentemente num dos restaurantes do Chef no bairro de Saint Germain, em Paris.
Para Rosa Moraes, responsável pela implantação do primeiro curso superior de Gastronomia do Brasil, na Universidade Anhembi Morumbi: “Ícones são eternos, o legado do Robuchon é sem dúvida eterno, desde os menus-degustação à comida mais intimista dos seus ateliers. O carimbo, a mensagem e a imagem dele ficarão para sempre na história.”
A Chef Danielle Dahoui, dos três restaurantes Ruella's, em São Paulo, onde serve comida franco-asiática com toques brasileiros e que ama pesquisar por boas comidas teve o prazer de conhecer o Joël e diz: “ele era um homem divertido, que sabia aproveitar a vida, mas muito sério e comprometido com a gastronomia.” E completa: “Eu o conheci logo que ele abriu o L’atelier Joel Robuchon em Paris e foi uma experiência indescritível. Nunca tinha ido num lugar daquele jeito, todo mundo sentado num balcão e várias delícias eram servidas de acordo com a cabeça do chef. Ali comecei a usar a expressão: uma explosão de sabores. Sou fã!”
Não existe amor mais sincero do que aquele pela comida, já dizia o comediógrafo irlandês G. B. Shaw. Este amor fica evidente quando se analisa a biografia do brilhante Robuchon. Sem dúvida, um chef de valor inestimável.
Cabe agora beber da inspiração artística, criativa e empreendedora do master chef.
Herança de Robuchon, deixo abaixo uma das melhores receitas que aprendi ainda na faculdade de gastronomia Anhembi Morumbi com o Chef Maurício Lopes e adoro replicar no inverno (pela quantidade de manteiga): a do purê de batatas mais célebre do planeta, com textura aveludada e cor brilhante.
Purê do Robuchon
Ingredientes
1 kg de batatas
250 ml de leite integral
250g de manteiga gelada
Sal
Água
1 – Lave as batatas e cozinhe-as com casca em água salgada;
2 – Descasque as batatas e passe num moedor;
3 – Coloque a batata já amassada numa panela e adicione o leite fervido, misturando com um fouet;
4 – Por último, adicione a manteiga aos poucos na panela da batata e mexa bem, até atingir uma consistência sedosa, brilhante e amanteigada.
Dica do Chef Paulo: Gosto de servir acompanhado de carne assada e cogumelos shimeji salteados.
*Paulo Machado é chef de cozinha, mestre em Hospitalidade, fundador do Instituto de Pesquisas em Alimentação Paulo Machado em Campo Grande (MS) e criador e guia das viagens gastronômicas Food Safaris.