Com informaçoes do Nova Alvorada Notícias | 05 de maio de 2017 - 10h45

Prefeito Arlei Barbosa tomba como patrimônio histórico de Nova Alvorada do Sul o restaurante Água Rica

O decreto 1585/2017 declara de "Valor Relevante Histórico e Cultural o Restaurante Água Rica"

CULTURA
O decreto visa garantir e preservar os elementos históricos e culturais da cultura nacional, na qual se inclui a cultura local no âmbito municipal, preservando os bens materiais que revelam a memória cultural do Município - Divulgação

A prefeitura Municipal de Nova Alvorada do Sul publicou no Diário Oficial do Município na quinta-feira (27), o DECRETO 1585/2017, declarando de "Valor Relevante Histórico e Cultural o Restaurante Água Rica", localizado às margens do km 341 da rodovia BR 163. O decreto visa garantir e preservar os elementos históricos e culturais da cultura nacional, na qual se inclui a cultura local no âmbito municipal, preservando os bens materiais que revelam a memória cultural do Município; 60 anos de história de uma das paradas mais tradicionais do Estado de Mato Grosso do Sul.

Com a chegada do progresso e com a duplicação da rodovia BR-163, poderia se destruir um sonho de quase 50 anos e desmoronar um negócio de família, que além de tudo é uma referência física, cultural e afetiva dos viajantes que vez ou outra já cruzaram a estrada.

O que tem tirado o sono da família Tomaz, proprietária do local, é a iminente duplicação da BR 163. O imóvel deverá ficar intacto, digamos assim. Mas, por contenção de despesas, a empresa que gerencia a via , a CCR MS Via, preferiu efetuar a duplicação bem em frente ao local, o que acabará com árvores, estacionamento, sombra e sossego.

O local ficará mais vulnerável a acidentes, devido à proximidade do acostamento, que praticamente margeará o restaurante. E o movimento, involuntariamente, vai cair.

Isso porque não haverá retorno nas proximidades. E como a via receberá um meio fio dividindo as mãos, os clientes que partem de Campo Grande serão desestimulados a parar no local. Mais grave que isso é a questão ambiental: em outro trecho pertinho dali, a estrada quase alcançará a margem da fonte Água Rica, uma nascente que abastece o restaurante e pessoas que vivem nas imediações, além de também matar a sede do gado da fazenda que fica do outro lado da rodovia.

Dona Maria Inês Tomaz diz que o local está sua família desde 1958, o que hoje é o restaurante Água Rica, na BR 163, logo após o distrito de Anhanduí, é pura história e um punhado de nostalgia, materializadas nas paredes de madeira do charmoso chalé que, desde a década de 1960, é referência para viajantes. Em meio ao concreto, pastos, poeira das obras, calor e sol de lascar, Água Rica é o ponto em que a rodovia torna-se acolhedora, com vegetação nativa, muita sombra e, claro, água fresca. Está a cerca de 60 km de Campo Grande e 45 km de Nova Alvorada do Sul, possivelmente a última parada para quem cruza a via rumo à cidade. Bom para esticar as pernas, saborear um delicioso pão de queijo com suco de guavira, bem geladinho.

Histórias de estrada

Em meados do século passado, quando a estrada ainda era de terra e um caminhão saindo de Dourados levava até três dias para chegar a Campo Grande, a Água Rica era um ponto de descanso, um alento aos viajantes. “Meu pai veio de Minas Gerais e começou a trabalhar como motorista de fazendeiros. Nesse meio tempo ele conheceu minha mãe, casou e conseguiu comprar um lote de terra de uma fazenda. Aqui tinha uma estrada boiadeira, que passava por trás, então meu pai construiu uma barraca. Até que meu pai, em agosto de 1958, mandou construir a casa de madeira. Não tinha asfalto, não tinha energia elétrica, o que tinha era a água da fonte”, conta Inês.

O restaurante Água Rica, no entanto, engrenou como negócio de família com o esposo de Inês, Joaquim Tomaz, o saudoso Quinzinho, que faleceu em um acidente de carro em setembro de 2013. Ele recebeu a incumbência de tocar o restaurante montado pelo senhor Franklin e dona Adaila, os pais de Inês, e fez com carinho, desde 1973. “O Quinzinho veio trabalhar aqui, a gente se conheceu, nos casamos, aí minha mãe decidiu entregar o ponto pra gente, pois meu pai tinha falecido e o ponto estava arrendado. Demos uma reformada, para não mexer muito, porque as pessoas pediram para não mudar nada”, relata Inês.

Assim, diversas gerações de viajantes contam histórias sobre o local, coisas que nem Maria Inês ou sua filha, Fabianne, poderiam lembrar.

Histórias de Quinzinho, do senhor Franklin e de dona Adália, que de alguma forma chegam à família e marejam os olhos de mãe e filhas. “Tem pessoas que chegam aqui e falam do meu pai, do meu avô, coisas que a gente nem sabia. Tem senhores que param aqui e compartilham histórias, que passam por gerações. Cada dia pode ser uma descoberta. É esse acolhimento, essa troca, que fazem daqui um lugar especial, que tem que ser preservado”, relata Fabianne Tomás, filha de Inês e de Joaquim Tomaz.