Da redação com informações do G1 | 21 de junho de 2016 - 12h20

Paraguai apura relação entre mortes na fronteira e segurança é reforçada

Três homens foram mortos 4 dias após execução de traficante Jorge Rafaat

FRONTEIRA
Policiais militares brasileiros e paraguaios foram chamados para reforço - Divulgação

O Ministério Público do Paraguai investiga a relação entre as execuções de três homens no domingo (19) e a do narcotraficante Jorge Rafaat, morto com tiros de metralhadora ponto 50 em Pedro Juan Caballero. As mortes foram na fronteira com o Brasil em Mato Grosso do Sul no intervalo de quatro dias. O clima é de tensão na região e a segurança foi reforçada na linha internacional nesta segunda-feira (20), segundo disse o tenente-coronel Waldomiro Centurião, comandante do 4º Batalhão da PM em Ponta Porã.

Mais policiais paraguaios e policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM de Mato Grosso do Sul foram enviados para a região. A agente fiscal do MP paraguaio Camila Rojas informou nesta manhã que as execuções aconteceram de forma parecida.

Ela conduz as investigações sobre a morte de Rafaat e disse que a possível ligação entre os casos é pela forma de agir dos atiradores e pelas armas utilizadas, a maioria fuzis e de grosso calibre, mas ainda não há confirmação. As três mortes de domingo foram apuradas inicialmente como briga de vizinhos. Dois paraguaios e um brasileiro morreram.

Conforme Camila, os atiradores do caso mais recente estavam em uma caminhonete branca com placas brasileiras e trocaram tiros com a polícia depois de matar três homens.

Durante o confronto, a caminhonete com quatro pessoas atingiu uma loja de pneus. Quatro pessoas estavam no veículo. Duas foram presas e duas fugiram a pé para o Brasil. Há suspeita de que mais carros estejam envolvidos e que teriam fugido para Ponta Porã. Um carro azul também foi apreendido pela polícia paraguaia.

Prisões
O narcotraficante Jorge Rafaat foi morto em uma emboscada na noite de terça-feira (14), em Pedro Juan Caballero, a menos de 500 metros da linha internacional que divide Brasil e Paraguai. Os atiradores usaram uma metralhadora ponto 50, que foi adaptada em uma caminhonete, na parte dos bancos traseiros, que foram retirados. Nove pessoas foram presas depois do atentado, segundo a agente fiscal Camila Rojas.

Oito eram seguranças de Rafaat e foram presos por usarem armas proibidas no país. O outro preso é um brasileiro suspeito de manusear a metralhadora ponto 50. Ele ficou ferido e está internado em estado grave. O carioca tem antecedentes criminais relacionados a uma facção criminosa que atua em São Paulo, segundo a agente fiscal.

O crime teria sido motivado por disputa de território, segundo Camila, mas a investigação ainda não tem autoria definida, apenas o autor material, que é o suspeito preso.

"Estamos investigando um homicídio doloso e tudo indica que a motivação tenha sido por disputa de território e o que se pode concluir é que seja entre é que essa disputa seja entre organizações criminosas rivais, pela forma que ocorreu, evidências e as armas usadas no atentado", esclareceu Camila.

Disputa
A morte de Rafaat é mais um capítulo da disputa de poder entre facções de narcotraficantes na fronteira, segundo o delegado de Polícia Civil de Ponta Porã, Jarley Inácio.

Ele explica que a "extensa faixa de fronteira seca propicia a entrada de todo tipo de ilícito no Brasil" e ressalta que "as organizações criminosas perceberam isso ao longo do tempo". Desde então, "essa disputa trouxe para Ponta Porã índices de homicídios que têm aumentado nos últimos anos".

Filme de terror
Moradores da região de fronteira ficaram assustados com o atentado. Uma testemunha paraguaia disse que parecia "filme de terror". Ela passava pelo local quando viu o carro com a metralhadora atirar contra o carro de Rafaat. "Tive medo de morrer porque os tiros não paravam. Eu só rezava", fala a jovem.

No dia seguinte à execução, a loja de pneus do traficante foi incendiada e na madrugada de sexta-feira uma empresa de segurança também foi atacada a tiros e um segurança foi feito refém.

'Rei da fronteira'
Rafaat foi condenado pela Justiça brasileira por tráfico internacional de drogas em 2014, mas vivia no Paraguai como empresário de sucesso.

Ele era conhecido como o "rei da fronteira". A polícia apreendeu muitas armas e munição, deteve sete suspeitos e acredita que o motivo de crime tenha sido uma disputa pelo controle do tráfico de drogas na região.

O processo que levou à condenação de Rafaat foi presidido pelo juiz federal Odilon de Oliveira. "A população da fronteira, dos dois lados, tem que conviver com essa insegurança. Na fronteira, todo dia, morre gente assassinada, isso é histórico, já faz parte do cotidiano daquela gente", disse o magistrado.