30 de novembro de 2015 - 22h00

Com sarcasmo, autor documenta muito do que Dilma falou na última década

“Dilmês: o idioma da mulher sapiens” lista ainda as 63 melhores frases da presidente brasileira.

O jornalista Celso Arnaldo Araújo acompanha os discursos da presidente Dilma Rousseff desde a época em que ela dava expediente à frente do Ministério de Minas e Energia no governo Lula. Já naquela época, ela começava a se apresentar à população como presidenciável, e Celso começava também a notar que havia algo de errado em sua maneira de se expressar.

Era a semente inicial de “Dilmês: o idioma da mulher sapiens”, uma “análise sintática e política” da língua falada pela presidente. Com altas doses de humor, o autor destrincha, documenta e interpreta muito do que Dilma falou publicamente na última década, seja em entrevistas para os jornalistas ou em seus discursos – todos transcritos fielmente no portal oficial da presidente. 

Celso não poupa Dilma de seu sarcasmo – “Com sentenças que, levadas ao pé da letra, sem uma rigorosa revisão, seriam barradas da ata de reunião de condomínio de um conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida, Dilma foi impondo o dilmês ao mundo civilizado”, escreve. Em seu texto, o autor acompanha a evolução da oratória da presidente ao longo de sua carreira política, em diferentes situações. Há declarações sobre futebol, outras feitas em suas viagens internacionais e um capítulo dedicado à aparente inaptidão de Dilma com os números, por exemplo.

Gafes e frases que ficaram famosas e deram até origem a memes na internet, como a “saudação à mandioca”, a “mulher sapiens”, a meta zero a ser dobrada ou o “cachorro que vem atrás da criança” estão entre os exemplos analisados por Celso. Nos capítulos finais, o autor ainda lista as 63 melhores frases da presidente, além de fazer um apanhado de alguns maneirismos e traços que se repetem no discurso de Dilma.

 

TRECHO

“Eventuais escorregadelas na forma e no conteúdo da fala humana são comuns no processo de comunicação entre pessoas, em qualquer nível. Umas se expressam melhor do que outras, simples assim. Mas alguns meses de exposição diuturna ao dilmês logo me permitiram concluir que aquela língua estranha falada pela presidenciável Dilma tinha método, tinha regras. Tinha até estilo – que, para um iniciado, podia ser facilmente reconhecido a partir de outro planeta. No discurso citado no capítulo anterior, no qual ela confessa ter feito embaixadinhas com uma bola não muito esférica de folhas de bananeira – o que deve tê-la indisposto com a turma do Itamaraty –, há inúmeras marcas registradas do dilmês. Se fosse preciso escolher uma, ei-la: “É uma bola que é uma bola.”

É dilmês em estado bruto, uma espécie de moto-perpétuo da pobreza de pensamento.“

 

 

Celso Arnaldo Araujo é jornalista. Trabalhou 27 anos na revista Manchete, pela qual conquistou duas vezes o Prêmio Esso. É autor do livro “Dr. Zerbini: o operário do coração”, biografia do médico pioneiro nos transplantes no Brasil. Desde 2009 acompanha e escreve colunas sobre os discursos de Dilma Rousseff.