Motivos para não se preocupar em perder virgindade
ComportamentoQuando a flor deve desabrochar? - Reprodução
Como você define a perda de sua virgindade? O que torna a nossa virgindade tão valiosa? E por que nós “perdemos” tal coisa, para começar?
Virgindade é um assunto repleto de questões sobre “moralidade”, tradição e políticas de gênero. E porque as conversas sobre o assunto são complicadas, em geral optamos simplesmente por não falar disso. A cineasta Therese Shechter mergulha diretamente nas ambiguidades que cercam a idéia da virgindade em seu novo documentário, “How to Lose Your Virginity" (Como Perder Sua Virgindade).
As experiências pessoais de Shechter a levaram a explorar a cultura da virgindade. “Essa é uma daquelas coisas com qual quase todo mundo lida ou pensa a respeito,” declarou Shechter para o Huffington Post. “É um assunto bem universal. Eu tinha 23 anos quando perdi minha virgindade, e com isso quero dizer que houve penetração. E isso foi resultado de anos de confusão, medo e preocupação.”
Então por que temos este fascínio por virgens e virgindade? Para começar a responder a essas perguntas, separamos 11 coisas que aprendemos sobre mitos da virgindade e sexualidade feminina em “Como Perder a Virgindade”.
1. Não existe definição de “virgindade”.
A palavra “virgem” é cheia de todos os tipos de mitos e bagagens culturais, o que a torna bem difícil de definir. Parece ser óbvio que alguém que nunca transou é virgem – mas como definimos sexo? Se sexo só inclui penetração vaginal, heterossexual, estamos deixando muitas possibilidades de fora.
Como explicou Shechter para o Huffington Post:
Por que, claro, como as lésbicas perdem a virgindade sem nenhum pênis na sala? E todo aquele negócio de “ser penetrada por um pênis” é relacionado ao rompimento do hímen e sangramento, só que nem todo mundo rompe o hímen e nem todo mundo sangra. E você pode reconstruir o seu hímen novamente, isso torna você uma virgem outra vez? Assim que começamos a questionar [a definição] é tipo – espere – isso não faz o menor sentido.
2. Não existe uma linha do tempo para quando e como perder sua virgindade.
Tanto faz se você tem 17 anos, ou 25 ou 33, não existe uma hora “certa” para o sexo. Ponto. Você deve perder sua virgindade provavelmente quando você quiser e quando você estiver emocionalmente pronta para a experiência. E é claro que, para toda mulher, a hora “certa” é diferente. Em seu filme, Shechter reflete sobre a experiência de perder sua virgindade: “Quando finalmente aconteceu, não foi muito porque eu tinha encontrado o homem certo, mas porque eu fiquei cansada de esperar por ele. Aí falei dane-se!”
3. Até a origem da palavra virgem é baseada em gênero.
A raiz da palavra virgem é a palavra virgo, do latim, que quer dizer mulher jovem. Enquanto ambos homens e mulheres podem ser virgens – e a experiência de perder a virgindade pode ser confusa para ambos – a etimologia da palavra aponta para a idéia de que questões sobre virgindade são sempre sobre mulheres.
4. A cultura da virgindade é inextricavelmente ligada a controlar o corpo da mulher.
Historicamente, a sexualidade feminina pertencia aos homens da vida da mulher – o pai, o futuro marido – e Deus. Mesmo que não vivamos mais em uma sociedade que explicitamente fala para mulheres que sua sexualidade não as pertence, a idéia ainda circula em filmes, músicas e até na nossa educação sexual.
Como a autora e especialista em virgindade Hanna Blank explicou em “Como Perder a Virgindade”:
O exercício de definir a virgindade não é meramente filosófico, tem muito mais a haver com o policiamento palpável, tangível e o controle dos corpos, principalmente dos corpos das mulheres. Você sempre tem que perguntar quando vê um aparelho de controle como esse: quem segura as rédeas, quem está controlando e quem se beneficia de todo este controle?
5. Os bailes da integridade são as versões masculinas dos bailes da pureza.
A maioria das pessoas já ouviu falar dos bailes da pureza – eventos formais onde mulheres jovens prometem sua abstinência para seus pais até elas casarem – mas não tínhamos nenhuma idéia de que a tradição tem um equivalente para rapazes. A diferença é que o baile da integridade não envolve um garoto prometendo sua virgindade para sua mãe porque ele quer permanecer virtuoso. Como Jessica Valenti explica para Shechter:
[Os bailes da integridade] não são sobre “ser propriedade” ou “jurar minha virgindade para minha mãe” ou “o quanto é importante para mim esperar porque vai me fazer tornar um homem virtuoso”. A terminologia foi: “Eu não devo transar com ela porque ela pode ser a futura esposa de alguém, ou a filha de alguém.” Ou seja, você não quer danificar a propriedade do outro.
6. O estado do seu hímen não tem nenhuma relação com o fato de você ser ou não ser virgem.
Como Shechter destaca no filme, a conexão entre hímens e virgindade é tão real quanto vampiros. Ao contrario do mito popular, o hímen é simplesmente uma membrana mucosa que resta depois que a vagina é formada completamente. Hímens vem em todos os formatos e tamanhos e enquanto alguns hímens são rompidos durante a puberdade da mulher, outros não rompem até a mulher ter seu primeiro filho.
7. Você pode comprar um hímen artificial ou o "kit da virgindade” na Internet.
Infelizmente, muitas pessoas ainda acreditam que a virgindade da mulher pode ser verificada pelo seu hímen intacto. Por causa desta presunção falsa, algumas mulheres tomam medidas drásticas para terem certeza de que seus parceiros – e algumas vezes até a família dos parceiros – acreditem que seus hímens não tenham sido rompidos. Algumas vezes, estas medidas incluem comprar um hímen falso, que pode ser encontrado online por U$30.
8. Para a maioria das pessoas, a “primeira vez” não é tão boa. (Surpresa!)
Mesmo que aconteça na sua noite de núpcias, no chão de um dormitório universitário ou no estacionamento do baile de formatura, as primeiras experiências de várias pessoas com sexo não são altamente prazerosas. Na verdade, podem ser desconfortáveis e inequivocamente dolorosas. Como qualquer atividade, a pratica leva à perfeição, e você provavelmente não sabia o que fazer no começo. Infelizmente, as expectativas das nossas “primeiras vezes” são tão elevadas pela cultura popular, pelas instituições religiosas e até pela cultura da pornografia, que nós não conseguimos enxergar a realidade.
Como Shechter refletiu sobre sua primeira vez, ela notou que sexo nem sempre é uma experiência transformadora. “De onde eu tirei a idéia de que o pênis é um tipo de varinha mágica que vai me modificar para sempre?,” ela perguntou.
9. Mensagens sobre sexualidade feminina são construídas por duas narrativas paradoxais que tornam impossível para qualquer mulher atingir o “ideal.”
Como Shechter destaca em seu filme, existe um certo fascínio com a mulher que é capaz de ter sexo, mas opta por não ter. A mensagem de “ser sexy mas não ter sexo” monta uma situação para a mulher onde ela é igualmente condenada por agir e não agir. Como o personagem de Ally Sheedy explica em “Clube dos Cinco”, em relação ao sexo: “se você diz que nunca fez, você é uma puritana. Se você diz que já fez, você é uma puta! É uma armadilha. Você quer mas não pode, e quando você faz, você deseja não ter feito.”
10. A definição de “puta” é tão carregada e confusa quanto a definição de “virgem”.
A palavra “puta” tem mais a haver com envergonhar uma mulher e retirar sua capacidade do que com sexo verdadeiro. A mulher não precisa estar transando para ser chamada de puta. Se sua sexualidade desvia do normal de qualquer maneira, ela pode ser facilmente considerada uma. Shechter explica em seu filme como o termo é realmente confuso: “Todos nós já pensamos que outra pessoa pode ser puta. Até ser abstinente não te dá imunidade.”
11. Conhecimento, diálogo aberto e um pouco de pratica fazem grande progresso.
Como Heather Corinna, fundadora de Scarleteen.com, explica no filme, a melhor maneira de desmascarar os mitos sobre a virgindade é falar sobre eles:
É tão benéfico ter tido parceiros antes de casar quanto é ter tido experiência de trabalho antes de ter um emprego. Tem coisas que você aprendeu, lugares onde sabe que errou um pouco. Você refinou suas habilidades de comunicação, o que, de certa forma, é o mais importante sobre o sexo.
Portanto, leitores – vamos começar a falar.