25 de janeiro de 2014 - 10h54

Um ano após tragédia em Santa Maria, segurança em boates aumenta

Nacional
Interior do Mariachis Bars - Daniel Favero
Afixados na porta e na fachada do Mariachis Bar, cartazes informam os números e a validade dos alvarás de funcionamento do estabelecimento – todos em dia -, assim como a capacidade da casa: 252 pessoas. Na opinião de frequentadores do bar, a tragédia que completa um ano na segunda-feira obrigou uma mudança de comportamento, tanto dos estabelecimentos quanto dos clientes.
 
"Depois do que aconteceu na Kiss, aumentou muito a cobrança das autoridades em cima dos empresários, uma coisa que não tinha antes", afirma Jaime Reis, de 21 anos, técnico em mecânica.
 
Inicialmente localizado nas proximidades do campus do Centro Universitário Franciscano (Unifra), o Mariachis Bar fechou em 2012 e reabriu em outubro de 2013 em novo local, em uma das ruas mais badaladas da boemia santa-mariense. Na nova casa, a preocupação com a segurança é evidente.
 
Desde o início dos trabalhos, às 21h, uma fila rapidamente se forma em frente à entrada, mesmo que o bar esteja longe de atingir a capacidade máxima. De dois em dois, quem está no início da fila é orientado a se dirigir ao caixa, no hall de entrada, onde duas atendentes preenchem um cadastro dos clientes. Após a apresentação de documento de identidade e uma rápida coleta de dados pessoais, o cliente recebe uma pulseira de papel, com um código de barras impresso, através do qual seu consumo será controlado. O valor do ingresso (R$ 30), seria cobrado apenas na saída da casa, informam as funcionárias.
 
Com a pulseira ajustada, se tem acesso a um lounge, onde 60 pessoas se espremem entre mesas dobráveis de madeira e banquetas. Não há, porém, qualquer barreira fixa que impeça a rápida evacuação do local em uma eventual emergência. O ambiente ainda conta com um pequeno palco e um bar, cercado por duas escadas com 1,5 metro de largura cada, que dão acesso à pista no andar superior. A passagem, porém, só é liberada por volta das 23h45, quando há um número razoável de ocupantes para os dois ambientes.
 
No andar superior, descobrimos a existência de uma segunda saída de emergência, devidamente sinalizada com luzes em caso de corte de energia. A presença ostensiva de placas sinalizadoras parece agradar um público que ainda convive com o impacto da Kiss. "Quando entro, a gente sempre olha onde é a saída, se tem sinalização. Mas me sinto mais seguro, as coisas melhoraram mais", analisa o estudante Ademir Rosa Cardoso Junior, de 22.
 
O estudante Jorge Becker Coronel, de 21, diz frequentar casas noturnas do município com regularidade. Calouro da Universidade Federal de Santa Maria, onde cursará Odontologia, Jorge diz que em seu grupo de amigos há um sobrevivente da tragédia da Kiss, "que sai junto, normal". "Hoje em dia o pessoal se preocupa mais com a segurança, fica de olho na capacidade. Várias casas têm fechado para reformas", conta o estudante.
 
Trajédia
 
 
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.
 
Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.
 
Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.
 
Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.