31 de dezembro de 1969 - 21h00

Com princípios herdados do pai, pastora Janete fez doações de cestas

Ação Solidária
A base foi feita para essa comunidade. Tinhamos que fazer alguma coisa”, falou a pastora Janete Mora - Divulgação
 “A base foi feita para essa comunidade. Tinhamos que fazer alguma coisa”, falou a pastora Janete Morais, criadora da entidade e filha do pecuarista Antônio Morais, que faleceu na noite de quarta-feira.
 
Laura Lopes da Silva, de 33 anos, trabalha no Lixão, e com os quase R$ 700 que ganha por mês sustenta as seis filhas que moram com ela em uma casa de tábuas — a maioria das casas mesclam tábua e lonas. “É difícil. Janta quase não tem. Mas todos aqui somos parceiros. Quando falta almoço de um, o outro ajuda”, disse.
Assim como os demais, Laura ganhou uma senha com o número de sua residência, que lhe permite pegar uma cesta contendo alimentos básicos e, ainda, carne seca, goiabada, bolacha, entre outros tipos.
 
A comunidade já recebeu a atenção da pastora. No Dia das Crianças, Janete simplesmente distribuiu bicicletas “para todas as crianças do local”, contou a voluntária Rosangela Azamor, de 41.
 
Logo quando estavam com as senhas, as pessoas percorreram os 600 m até a Veredas da Fé. Yhossina Velasques Chacom, de 27, seguia com um dos quatro filhos que tem com o marido — difícil é encontrar mulheres casadas, mas com filhos, é raro achar sem na Cidade de Deus — para buscar o presente. Grávida de oito meses, era o filho pequeno quem levaria a cesta para casa. “Estou feliz em ganhar a cesta”, simplificou. E na porta da entidade: fila pra pegar as cestas. Alguns moradores ganhavam algumas cestas a mais, em virtude das mil preparadas pela instituição, que conta com o apoio de muitas empresas e pessoas amigas.
 
Ideia - O voluntário Paulo Azamor levou a reportagem até um morador que cultiva uma horta em frente de sua casa. Coronel da Polícia Militar, Azamor chamou a atenção para uma iniciativa que seria uma grande ideia, a de educar os moradores a fazer o mesmo que o aposentado Jorge Ortiz da Silva, de 41, criou para melhorar a situação em que vive ele, sua mulher e os “dois guri”. “Como verdura todo dia”, resumiu Silva.
 
A Cidade de Deus tem pouco mais de um ano, e reflete não uma população arisca aos princípios de construir sua vida com as próprias forças, mas apenas uma parte de Campo Grande, um bairro onde o trabalho ofertado acontece no Lixão, no qual as pessoas dependem do Poder Público para conquistar uma moradia e, claro, sobrar um pouco para as nececessidades básicas.
 
Janete - O pai de Janete ficou conhecido pela dimensão de suas doações às entidades beneficentes, que eram rigorosamente bem escolhidas pela família. Mesmo em luto, não adiou a doação que foi prometida para ontem.
 
Após conhecer a comunidade, a pastora não teve dúvida que ajudaria a Cidade de Deus, tanto que construiu a base, que também serve para evangelizar. “Sempre vamos ajudar os moradores daqui”, compromete-se.
 
Com os princípios herdados do pai, Janete continua com o trabalho de assistência social da família, porta aberta por Morais, que “desde que melhorou de vida começou a aumentar as suas doações”, explicou a filha.