
Vivemos em uma era em que somos praticamente obrigados a vestir filtros sociais o tempo todo. Temos sempre que parecer bem, felizes e amáveis. Mas gastamos pouco tempo sendo, de fato, essas coisas. Sabe por quê?

Porque é como se estar feliz fosse um atentado à outra pessoa. Demonstrar amor, então, soa como sacrilégio. As pessoas estão sempre em uma posição de julgamento: “Tá, ela é feliz, mas fica fazendo concessões.” E daí? Quando nos relacionamos, é uma troca. Soma-se na vida de ambos, nem mais, nem menos.
As pessoas esperam que sejamos intolerantes e, se não cumprirmos esse papel, elas se incomodam, se frustram, se resignam. Quando assumimos o que queremos e bancamos essa decisão, parece que o mundo nos coloca na cadeira dos réus, prontos para a prisão perpétua. Se esse é o preço para se sentir bem por dentro e por fora, ótimo. A inquietação não está em nós está no outro, naquele que se incomoda mais com o que você escolhe do que com o que ele mesmo sente. É curioso como o desconforto do outro muitas vezes fala mais sobre ele do que sobre nós.
Está em tudo: nos vínculos que criamos, nas relações que mantemos e até nas escolhas mais simples, como o que consumimos. No dia a dia, somos empurrados para o excesso: de compras, de conteúdos, de estímulos. E, se não paramos para entender o que faz sentido, vamos absorvendo tudo sem pensar se combina com nosso momento ou com o que queremos para o futuro, e isso nos custa caro.
Por isso, pausas e silêncios não são solidão, são gestos de autoamor. Um tempo só nosso para perguntar: faz sentido ou não? Se não fizer, diga apenas: “Não, obrigado.” Esse espaço íntimo de escuta e reflexão é o que nos ancora em nós mesmos.
Fomos ensinados a achar que dizer “não” é desrespeito. Mas será? E se for respeito por nós mesmos? Então, por que dizemos tão pouco? É tão simples. Dizer “não” é abrir espaço para dizer “sim” ao que realmente importa. Viva mais pelas suas expectativas do que pelas dos outros.
Posso te dizer? É libertador. Escolher estar onde faz bem é impagável. Sabe aquela frase: “Se eu soubesse, tinha feito isso antes?”. Pois então, faça hoje. Não espere o caos para começar a priorizar a sua paz.
Com o tempo, a gente entende que ser fiel a si mesmo não é sobre nunca mudar é sobre mudar com verdade. É reconhecer o que já não faz sentido, abrir espaço para o novo e se escutar, mesmo quando o mundo espera outra coisa. Mesmo quando isso assusta, mesmo quando custa.
É difícil? Sim. Vai dar trabalho? Com certeza. Mas compensa.
(*) Autor do livro “Um lugar chamado Eu”, Frederico Henrique M. Fernandes utiliza a literatura como espaço de autoconhecimento e expressão.
