
Se a vida fosse um livro, talvez ainda estivéssemos escrevendo as primeiras páginas, sem saber o final, nem quantos capítulos virão. Mas que fosse uma história com erros, pausas e recomeços. Uma história nossa, essa que vive dentro de nós, nas intenções, nos silêncios, nas dúvidas e no coração.

Existe a vida que acontece fora, visível, acelerada, cheia de demandas; e a que acontece dentro de nós, frequentemente esquecida. Na maioria das vezes, vivemos mais para os outros do que para nós mesmos. Mas por quê? Por que insistimos em nos mover a partir das expectativas alheias? Por que é tão difícil assumir quem realmente somos, sem medo de desapontar?
De tempos em tempos, é essencial fazer uma pausa e se perguntar: que história estou realmente construindo? Refletir sobre isso nos reconecta com nossos valores e é o que nos move.
Deixamo-nos levar pela velocidade da vida moderna, onde o tempo se tornou escasso e a distração é um vício cotidiano. Voltar para si, nesse cenário, é quase um ato de resistência. São nessas pausas silenciosas, quando o barulho de fora cessa e o de dentro ecoa, que encaramos aquilo que evitamos sentir. Porque, no ruído do mundo, não precisamos confrontar nossos medos, anseios e fragilidades. Mas, no silêncio, somos colocados frente a frente com nossas vulnerabilidades, e isso assusta. Sabe por quê?
Porque aprendemos a olhar a vulnerabilidade como fraqueza. Na verdade, é nela que mora a nossa verdade mais crua, onde as máscaras caem, o controle escapa, e podemos ser quem realmente somos.
Então eu te pergunto: a vida que você vive hoje reflete a sua verdade ou apenas alimenta a máscara que o mundo exige?
Talvez seja hora de pegar de volta a caneta e continuar a sua história. Assim como uma novela, a vida é uma obra aberta, e é sempre possível mudar a trama, mesmo no meio do caminho, com páginas rasuradas ou finais em aberto. A vida não precisa ser perfeita — só verdadeira.
Uma história em que os erros não sejam um peso que te prende, mas passos que te movem. Cada decisão não define um limite, mas abre possibilidades. Recomeçar é se permitir ser quem realmente somos, mesmo que isso assuste.
Então, se hoje fosse o último capítulo da sua vida, quem seria o protagonista dessa história? Você se reconhece na história que vem sendo contada?
No fim, não é o que você viveu que importa, mas a história que escolheu contar — para si mesmo e para o mundo.
Seja o autor dessa história. Seja você, de verdade.
(*) Autor do livro “Um lugar chamado Eu”, Frederico Henrique M. Fernandes utiliza a literatura como espaço de autoconhecimento e expressão.
