
Vivemos em uma era digital de demandas incessantes. Seja para manter o silêncio ou soltar o verbo, o público espera que suas marcas e personalidades favoritas se posicionem, principalmente nas redes sociais — para garantir que seu apoio esteja alinhado a uma mensagem que considerem digna de amor e lealdade.

Quando o assunto é delicado, o impulso de falar imediatamente pode ser forte. Mas há algo que precisamos lembrar antes de fazer um pronunciamento é que a ausência também é presença. No silêncio, temos espaço para refletir e medir nossas palavras a fim de torná-las humanas, e não forçadas. Enquanto muitas figuras públicas escolhem se manifestar sob pressão, é essencial fazer uma pausa nesse intervalo e considerar três pilares: contexto, coerência e contribuição.
O contexto ajuda a compreender o momento e o sentimento coletivo. É quando refletimos sobre a narrativa, mais do que apenas reagir à urgência de fazer parte dela. Pense no contexto como seu primeiro rascunho — imperfeito, cru e necessário.
A coerência garante que a mensagem esteja em sintonia com a essência da marca ou pessoa. É o tempo dedicado a revisitar o caos para organizá-lo em uma narrativa coesa.
Já a contribuição nos faz perguntar: o que essa mensagem acrescenta? Ela oferece valor prático ou emocional? Posicionar-se com empatia não significa adotar uma linguagem dramática ou buscar os holofotes. Significa reconhecer o problema, oferecer apoio sem autopromoção e, muitas vezes, ouvir mais do que dizer.
Há momentos em que o silêncio, seguido de uma ação concreta, comunica mais do que qualquer texto. As pessoas se conectam até mesmo com o sumiço virtual se a declaração que vier depois for autêntica e guiada por um propósito real.
O desafio está em alinhar timing e intenção sem banalizar questões sérias ou se aproveitar do sofrimento alheio. Profissionais da comunicação devem atuar como guardiões da sensibilidade, ajudando marcas e líderes a encontrarem formas de expressão que respeitem a complexidade de cada situação.
Em momentos de caos, o público não espera perfeição, busca por humanidade. E comunicar com responsabilidade é, sobretudo, um ato de compaixão.
(*) J.D. Netto é publicitário, especialista em branding e autor do livro Você não é para todo mundo (Editora Latitude).
