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19 de dezembro de 2025 - 01h31
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ARTIGO

O isolamento que não perdoa vidas no Pantanal de Paiaguás

Guilherme Bumlai (*)

18 dezembro 2025 - 16h20Por Guilherme Bumlai
O presidente da Acrissul, Guilherme Bumlai
O presidente da Acrissul, Guilherme Bumlai - (Foto: Lorena Sone)

Há propriedades no Pantanal do Paiaguás que estão a 7, 8, 9 horas da cidade mais próxima. Lugares onde não há escola, não há hospital e, muitas vezes, sequer existe a possibilidade de socorro rápido quando a vida pede urgência.

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Perdi ontem um colaborador de mais de 30 anos de convivência. Um pantaneiro de verdade. Seu Dito passou mal no início da noite. Já não era mais possível o resgate aéreo. Cruzar o Pantanal por horas, no escuro, com risco real de atolar no caminho, não era uma opção viável. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas o socorro aéreo só poderia ocorrer ao amanhecer.

As horas que se seguiram foram agonizantes. Para nós. Para ele.

Seu Dito não tinha alternativa. Restava esperar.

Esperar no isolamento. Esperar no silêncio do barulho da noite pantaneira.

Esperar longe de um hospital, longe de um leito, longe do mínimo que qualquer cidadão deveria ter: acesso à saúde.

Mas o pantaneiro não resistiu à espera e sucumbiu no isolado Pantanal do Paiaguás.

O isolamento do Pantanal, tantas vezes romantizado, é também cruel. Seu Dito, apesar da idade avançada, não conseguia viver na cidade. Sua vida era ali — na planície, no campo, na lida diária. E foi ali que deu seu último suspiro, aguardando um socorro que não chegou a tempo.

Quantos outros pantaneiros ainda sucumbirão à espera?

À espera de uma estrada. À espera de acesso. À espera de dignidade.

A MS-214, que deveria cortar o Pantanal do Paiaguás e permitir uma ligação mais ágil com os centros urbanos, teve seu início, mas está parada. Enquanto isso, quem vive no Pantanal segue dependendo da hora do dia, das condições do tempo e da sorte quando a vida entra em risco.

Discursos preservacionistas não podem ser mais belos do que uma vida humana.

Cuidar do meio ambiente é essencial, mas cuidar das pessoas é fundamental.

O Pantanal do Paiaguás precisa de estrutura viária. Precisa de acesso. Precisa de respostas.

Os pantaneiros seguem aguardando, com esperança, a retomada da MS-214 — uma estrada que representa muito mais do que ligação entre pontos no mapa: representa tempo, socorro e vida.

Porque nenhum outro Seu Dito deveria perder a chance de chegar a um hospital por falta de acesso.

(*) Guilherme de Barros Bumlai é produtor rural e presidente da Acrissul.

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