
A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de anunciar tarifas mais caras sobre os produtos brasileiros acendeu um alerta vermelho, não apenas para os frigoríficos e exportadores, mas para toda a cadeia produtiva. Em tempos de instabilidade geopolítica e econômica envolvendo os EUA, não é admissível que o governo brasileiro tenha sido pego de surpresa.

Faltou estratégia. Faltou mapeamento de risco. Faltou articulação. O mercado internacional é influenciado por variáveis políticas, econômicas e ideológicas e que, por isso, não basta apenas produzir bem. É preciso antecipar cenários e se posicionar com inteligência.
Argumentos para defender nossos produtos não faltam. O Brasil mantém rigorosos controles sanitários, é auditado por diversos países importadores e cumpre todas as exigências internacionais. Seguimos à risca protocolos rigorosos e nossa carne é reconhecida pela qualidade e segurança em mais de 190 mercados. Na celulose, também somos referência.
Somos respaldados tecnicamente pela nossa eficiência. Decisões unilaterais, como a anunciada por Trump, precisam ser contestadas com base em fatos, não em narrativas protecionistas. E é exatamente essa postura técnica, firme e responsável que deveria nortear também a atuação governamental do Brasil.
O agro brasileiro precisa e merece mais preparo, mais inteligência comercial e mais protagonismo estratégico por parte do governo brasileiro. O momento agora pede cautela e análise, e “devolver na mesma moeda” não irá gerar bons resultados para a economia brasileira e, certamente, terá reflexos negativos ao agro.
Se o Brasil quer manter e expandir nossa posição como potência agroexportadora, deve tratar a geopolítica com a mesma seriedade com que nós produtores rurais tratamos nossas lavouras e rebanhos: com planejamento, análise de risco e ação coordenada e eficaz.
(*) Bertoni é o presidente do Sistema Famasul.
