
Não há como ignorarmos o fato de que este é um conflito midiático militar, onde também se disputam corações e mentes.

É inegável que nas primeiras horas do sábado (07/10) o Hamas obteve surpreendente vitória militar, especialmente sobre os Serviços de Inteligência de Israel. Manteve a operação em sigilo. Destruiu os sistemas de informação atacando Torres de Transmissão. Atravessou a fronteira utilizando “motos voadoras” e chegou a ocupar bases militares, fazendo prisioneiros e destruindo blindados. A partir daí a barbárie tomou conta e o ódio substituiu a racionalidade. As cenas dos massacres divulgadas nos dias seguintes mobilizaram justamente a soliedariedade do mundo em relação a Israel e o ato, que poderia ser de justa resistência, transformou-se em uma barbarie e em um desserviço à Causa Palestina. Israel terminou o dia vencendo o conflito.
Na sequência, as imensamente superiores Forças Armadas isrselenses iniciaram sua reação bombardeando implacavelmente a Faixa de Gaza, que praticamente se transformou em um Campo de Concentração e Extermínio. Pelos próximos três dias a mídia continuou mostrando as cenas das barbáries praticadas pelo Hamas, mas começaram a aparecer também cenas dos massacres provocados pelas bombas em Gaza.
Hoje, passados cerca de 20 dias dos atentados terroristas do Hamas, o que chega a mídia internacional no dia-a-dia é o sofrimento do povo de Gaza. É evidente que está diminuindo o apoio à vingança de Israel e a tendência é que diminua cada vez mais. Salvo para fanáticos, e difícil assistir o noticiário ao lado dos filhos e dizer que “papai” apoia aqueles assassinatos covardes de crianças e mulheres e todo aquele sofrimento.
Agora a coisa passou de qualquer limite de razoabilidade. Um hospital foi bombardeado e o número de mortos chegou a quase quinhentos, aí incluídos muitas crianças e funcionários do hospital.
Israel, que até então vinha ignorando os protestos e não havia questionado a autoria da morte de mais de 2.000 civis apressou-se a negar a responsabilidade por este bombardeio. Apresentou uma inverossímil ideia de que um míssil lançado pela tal Jihad Islâmica é quem teria errado o alvo e atingido o hospital. Coisa bastante
difícil de acreditar, já que quem está bombardeando noite e dia Gaza com centenas de bombas é Israel. Toda a probabilidade é que um destes projéteis tenha errado a pontaria. Mas a questão está pendente de uma verdadeira investigação independente.
O certo é que nem Hamas e nem o Governo de Israel estão preocupados com vidas. Israel até agora não manifestou qualquer preocupação pela vida dos refens. É provável até que tenha inclusive matado alguns em bombardeios. Continua destruindo Gaza e matando o que vê pela frente nesta obstinação por destruir o Hamas, de quem matou algumas poucas dezenas de terroristas.
O Hamas a cada dia de resistência ao massacre fica mais prestigiado e pensa que estas mortes são um preço a pagar.
Outro que fica exposto é os EUA. Além do isolamento revelado pelo voto solitário contra a proposta de cessar-fogo apresentada pelo Brasil na ONU, gasta bilhões em armamentos e aproxima o mundo de uma Guerra Nuclear para impedir que a Rússia ocupe partes do território ucraniano. Porém apoia a ocupação militar que Israel prática na Palestina há décadas, mesmo que para que ela se mantenha seja necessária uma “limpeza étnica” por lá.
O futuro? Penso que em poucos dias este pêndulo se inverterá ainda mais e muito mais gente no mundo estará criticando mais a Israel do que ao Hamas. E daí? Daí que somado às vitórias militares do início do dia 07 de outubro, isto se constituirá, mesmo que os militantes do Hamas venham a estar todos mortos(o que não vai acontecer), em uma “vitória” completa destes radicais.
Então, é hora de Israel aposentar ou prender Nethaniahu, este inimigo confesso da Paz, e colocar no Poder gente que tenha coragem de negociar com a Autoridade Nacional Palestina a implantação de um Estado Palestino. Sim, está mesma ANP que renunciou a luta armada e reconheceu Israel, e que desde o assassinato de Rabin e da chegada de Nethaniahu ao Poder está sendo solenemente ignorada. Tanto que perdeu prestígio e tornou-se mais fraca do que o Hamas.
Só a Paz pode derrotar fanáticos. Então pense nisto antes de se manter obstinadamente favorável às bombas em Gaza. Você pode estar sem saber fazendo o jogo do inimigo…
*Carlos Marun, Advogado e Ex-Ministro de Estado
