
A gente escuta a palavra estresse e já pensa em coisa ruim: cansaço, pressão, tragédia. Mas o estresse, em si, não é o problema. O nosso estilo de vida e o ambiente, sim! Estresse é um dos mecanismos de defesa mais antigos e importantes do nosso corpo. Sem ele, provavelmente, a espécie humana não teria chegado onde chegou.

O estresse é uma reação do organismo na hora do perigo. Pense nos nossos antepassados: eles saíam para caçar e, do nada, aparecia uma fera selvagem querendo atacar. Automaticamente o corpo liberava hormônios e se preparava para lutar ou fugir. O coração acelerava, a respiração ficava mais rápida, os músculos se contraíam, exatamente o que muitas pessoas sentem quando estão numa crise ansiosa. Isso é o estresse agindo, como um botão acionado de forma autônoma dizendo "ou você luta, ou foge".
Só que este mecanismo não funciona apenas no plano físico. Na verdade, ele responde também às suas emoções e às necessidades do dia a dia. Sabe quando você tem um monte de coisas pra fazer no trabalho e o prazo está curto? Ou quando a família precisa organizar a casa e a rotina da semana? Então, seu corpo usa um pouco deste mecanismo primitivo para te dar foco e energia a fim de que você se dê conta do que precisa fazer. Esse é o estresse bom, que ajuda a gente a crescer e fazer o que precisa ser feito.
Pensa num carro, no qual o motorista, além de forçar o motor ao limite, ainda ignora as manutenções preventivas. Este carro não falha de uma hora para outra, pois antes ele mostra sinais no painel dizendo que algo não está funcionando como deveria. Se o motorista continuar negligenciando os sinais e mantiver o carro no mesmo funcionamento, como você acredita que terminará esta história? Certamente com o motorista seguindo viagem de táxi e o carro dele guinchado.
Com o nosso organismo acontece a mesma dinâmica. Se não relaxamos, não tiramos férias, não temos momentos de descanso e lazer (a manutenção), este "estilo de vida", além das preocupações diárias, vão levando nosso corpo ao limite. E o corpo não para de uma vez, ele vai dando sinais: irritação, insônia, pensamentos catastróficos, falha na memória e dores musculares. É o que chamamos de sinais característicos de estresse. E se, depois de todos estes sinais, ainda continuarmos do mesmo modo (negligenciando), o organismo paralisa através de uma depressão ou crise de ansiedade, consequências do estresse acumulado que se torna crônico.
Perceba que você não enfrenta nenhuma fera selvagem, mas as contas, os e-mails, a pressão, a nota baixa dos filhos na escola, o cuidado com os pais idosos são interpretados como se você estivesse diante de um perigo mortal. E o estresse bom que nos ajudava a resolver as coisas do dia a dia se transforma em carrasco do corpo e da mente, bagunçando hormônios, derrubando a imunidade e mudando até a química do cérebro.
Achar o equilíbrio é fundamental! Não existe mágica para acabar com o estresse, porque ele faz parte da vida. É preciso aprender a lidar com ele, perceber quando está passando dos limites e se permitir relaxar.
Cuidar de si no mundo atual não é luxo, é necessidade. Meditar um pouco, fazer exercício e dormir bem ajudam a acalmar o sistema nervoso e diminuir os efeitos do estresse. Pode ser útil procurar um profissional da psicologia, para ajudar a entender o motivo de estar sempre tão estressado e o que fazer para mudar isso.
O estresse, na dose certa, ajuda a viver e ir pra frente. Mas quando está em excesso, pode nos derrubar. O segredo é saber ouvir o que o nosso corpo diz, para que ele continue sendo nosso amigo, e não inimigo.
(*) Daniel Machado é psicólogo e membro da Comunidade Canção Nova. Autor do livro "Uma luz na escuridão – Como a fé e a ciência podem te ajudar a superar a ansiedade e a depressão", da editora Canção Nova. Instagram: @danielmachadopsi.
