
Durante muito tempo, a indústria foi pensada para padronizar. Linhas retas, tempos cronometrados e repetições exatas. A lógica era clara: quanto mais igual, mais produtivo. Mas o mundo mudou e as fábricas que insistirem em pensar apenas em série ficarão para trás. Hoje, customizar não é luxo, é gestão inteligente.
Falo sobre isso não como tendência de design, mas como mudança cultural. Customizar é traduzir a operação em função das pessoas e dos processos que a constroem. É compreender que cada equipe tem um ritmo, cada produto tem uma lógica e cada espaço exige um desenho próprio. Quando a indústria se abre para essa leitura, ela deixa de fabricar apenas peças e passa a industrializar ideias.
Na rotina de trabalho, observo que a personalização vai muito além da estética. Linhas de produção adaptáveis, mobiliários ergonômicos e fluxos personalizados formam o que chamo de ambientes vivos, fábricas que se ajustam e cuidam. Um mobiliário projetado sob medida para a função não apenas otimiza o espaço, mas reduz deslocamentos desnecessários, diminui o esforço físico e amplia a eficiência da equipe.
Esse cuidado se reflete diretamente em indicadores. Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), as doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo, como LER e DORT, afastaram quase 40 mil trabalhadores em 2024, tornando-se uma das principais causas de licenças no país. A ergonomia, portanto, é também uma forma de prevenção, de economia e de respeito.
Customizar é, antes de tudo, escutar o chão de fábrica. É entender o que precisa ser ajustado para que o corpo e a operação trabalhem juntos. Não se trata de atender caprichos, mas de reconhecer que o detalhe define o resultado. Quando um posto de trabalho é pensado a partir da necessidade real de quem o ocupa, os ganhos se multiplicam: produtividade, conforto, segurança e pertencimento.
Essa é a nova mentalidade que move a indústria contemporânea, uma que reconhece que eficiência e empatia não se excluem, se completam. Projetar um ambiente que pensa é projetar um negócio sustentável. Porque no fim das contas, o que realmente move uma fábrica não é o aço, nem a máquina, mas a inteligência humana que a habita.
(*) Clayton Gonçalves é especialista em mobiliário industrial e ergonomia aplicada à produção. Atua há mais de uma década no desenvolvimento de soluções que unem engenharia, design e eficiência operacional, com foco em postos de trabalho inteligentes e ambientes produtivos que valorizam o ser humano. À frente da Braclay, empresa que fundou em 2016, consolidou-se como uma das principais vozes do setor ao defender que a ergonomia deixou de ser uma questão de conforto para se tornar uma estratégia de performance e inovação. Seu trabalho está presente em indústrias de diferentes segmentos, contribuindo para a redução de afastamentos, o aumento da produtividade e a segurança no chão de fábrica. Ele representa uma nova geração de líderes industriais que enxergam a tecnologia e o design como aliados na construção de fábricas mais humanas, seguras e sustentáveis.


