
A música pop sul-coreana, o famoso k-pop, vem crescendo em popularidade no ocidente, dominando as paradas musicais do Brasil, que está a pouco mais de 16 mil km da Coreia do Sul. Junto às melodias e letras, os ouvintes se tornam também familiares com a cultura em torno das canções, assim como ocorreu com o rock, o rap e outros gêneros, nasce uma nova subcultura do estilo oriental.

Uma subcultura é um movimento social, ideológico e cultural que envolve, além das expressões artísticas, um caráter filosófico que une pessoas que se identificam com certo movimento. Pode-se dizer que uma subcultura é um segmento distinto, porém não completamente desligado da sua cultura mãe, e por conta disso, não é difícil encontrar esses movimentos ao redor do Brasil, e também, no Mato Grosso do Sul.
LOVE YOURSELF - Com a fama dos grupos de k-pop alcançando o Brasil, a estudante Júlia Ortega Vieira, 18, conheceu a música sul-coreana através dos clipes musicais, e convivendo com os amigos de seu irmão que compartilham do gosto, ela se encantou pelo estilo extravagante e produções audiovisuais marcantes. “As músicas eram bem diferentes, o estilo também, mas, além disso, tem as danças que eu gosto de assistir, e as personalidades também. O k-pop me leva a conhecer melhor os artistas, fazendo com que eu crie uma proximidade maior com os grupos”, diz.
Grupo New Dance Cover vestidos em um dos figurinos usados em suas apresentações (Foto: Arquivo Pessoal/Júlia Ortega)
A estudante conta que frequentar eventos e descobrir pessoas que dividem a paixão pelo gênero é gratificante, criando um ambiente de integração e amizade. Com esse espírito de união, a jovem é parte do New Dance Cover, grupo que faz performances de dança baseadas nas coreografias originais dos grupos. “Se vamos dançar uma coreografia do BTS, cada um escolhe quem vai representar na coreografia e dança, aprendendo os diferentes passos por integrante”, explica. O grupo ainda produz figurinos e participa de competições promovidas por eventos como o K-Pop Day e a Parada Nerd. Júlia, que entrou no grupo por meio de audições para encontrar novos membros, ama os amigos como uma família, criando memórias e se divertindo durante os ensaios e eventos abertos ao público.
BURNING FROM THE INSIDE - A cultura oriental, apesar de estar em alta nos últimos anos, não é a única a promover um movimento que alcançou o país e o Estado. Recebendo seu nome por influência dos Godos, um povo bárbaro que invadiu o Império Romano no ocidente por volta do século V, o termo Gótico foi usado nos anos 80 para descrever o movimento artístico que fazia uso de melodias e visuais sombrios, fazendo com que o nome, antes pejorativo, representasse a subcultura que se espalhou rapidamente pelo mundo.
A estudante e auxiliar administrativa Violeta Graffunder, 22, conta que, embora quando criança não soubesse muito sobre a subcultura gótica, entende que hoje é um movimento de expressão artística, que vai da moda ao cinema, além de uma noção filosófica e política.
“Quando eu era criança, minha primeira identificação foi pelo visual que vi na internet, e também com uma amiga da minha irmã que é gótica até hoje, no momento que ‘bati o olho’, sabia que era isso que eu queria ser”, recorda.
Com roupas sombrias e visual macabro, os góticos são conhecidos pelo estilo marcante (Foto: Arquivo Pessoal/Violeta)
A estudante conta que o gótico valoriza aspectos que costumavam ser mal vistos pela sociedade, como a sensualidade, feminilidade e a morbidez. O movimento conta com uma valorização da liberdade, se opondo fortemente aos preconceitos de gênero, cor e classe que atuam como limitações e rotulações desta emancipação pessoal. Violeta vê o estilo do movimento justamente com esta independência, permitindo que ela se adapte ao ambiente social, e também às altas temperaturas da Capital.
As roupas e acessórios que Violeta usa, são desde vendedores artesanais na internet, a roupas passadas pela mãe ou encontradas em brechós. “O gótico valoriza muito o upcycling, que é reutilizar, valorizando brechós e fazer você mesmo as coisas, porque isso está nos primórdios da cultura, já que as pessoas não tinham onde comprar, então elas faziam por conta própria”, explica.
A moda artesanal é uma característica marcante entre os simpatizantes do movimento, que se encontram em pubs focados no rock, ou em bares alternativos que promovem eventos pensados para o público gótico.
NADA COMO UM DIA APÓS O OUTRO - As subculturas nascem a partir de movimentos que são espelhos da situação da cultura mãe que as cercam, e que além de uma forma de expressão artística, são um grito de revolta. É nesse conflito que surgem os movimentos do hip-hop, nas comunidades suburbanas afro-americanas nos Estados Unidos na década de 70, e o funk brasileiro, nas favelas e subúrbios das regiões metropolitanas do Brasil por volta dos anos 2000. Como uma forma de expor as dificuldades e o cotidiano das classes oprimidas no país, o rap e o funk foram essenciais para construir a subcultura que deu visibilidade aos problemas do país.
Trabalhando com construção civil, e se apresentando como rapper, o acadêmico de ciências sociais Alisson Benitez Grance, conhecido como Du Mato, já abriu shows de grandes nomes do hip-hop no Brasil como o grupo Racionais MCs e o rapper Emicida, além de ter feito pequenos shows em São Paulo e Rio de Janeiro. “A minha identificação com o movimento surge na minha infância na Cohab, o bairro que eu me criei. O hip-hop e o funk faziam parte do contexto social local com danças, músicas, gírias, maneiras de se comportar e se vestir”, opina. Para ele, o hip-hop é um movimento social universal, que começa a partir de seus elementos básicos, e se adapta pela influência do contexto inserido.
Rapper Du Mato durante apresentação em uma escola estadual de Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal/Du Mato)
Mesmo tendo uma criação evangélica, o rapper sempre se sentiu representado pelo movimento, e para ele, a classificação de subcultura é insuficiente para descrever o movimento. Em sua visão, o hip-hop foi apropriado pelo mercado, e boa parte das produções artísticas classificadas no gênero são feitas apenas como produtos, ou seja, visando obter lucro. Porém, ele ainda acredita que o movimento proporciona bons momentos e oportunidades, como os encontros em batalhas de MCs. “Fiz muitas amizades, pois a cultura de rua proporciona muita união pelo fato de rolar identificação nas várias superações na vida”, diz.
Diferentes movimentos culturais e nichos são parte da vida de muitas pessoas, que mesmo enfrentando preconceitos e sendo incompreendidos ou julgados pelos olhos dos que estão de fora, encontram nas subculturas uma forma de identificação e livre expressão, aproveitando da união para encontrar o seu lugar no mundo, além de ajudar aqueles que ainda podem estar perdidos.
