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ATENÇÃO AOS SINAIS

Setembro Amarelo: Comportamentos sociais podem ser gatilhos para tentativas de suicídio

No mês de prevenção ao suicídio, o jornal A Crítica explica como a Cultura do Cancelamento age e informa os centros de apoio psicológico gratuitos na Capital

14 setembro 2021 - 18h00Larissa Adami
Setembro Amarelo: Comportamentos sociais podem ser gatilhos para tentativas de suicídio
Setembro Amarelo: Comportamentos sociais podem ser gatilhos para tentativas de suicídio - (Foto: Reprodução Estadão)

O Setembro Amarelo chegou e com ele antigos debates ganham nova força durante o mês. Como a grande maioria sabe, a campanha mundial luta pela prevenção ao suicídio, portanto, alguns comportamentos sociais e depreciativos voltam a ser destacados como alerta à população.

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Um dos mais conhecidos é a Cultura do Cancelamento, que vem se intensificando no Brasil, de acordo com João Vilela, psicólogo e secretário estadual do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade do Mato Grosso do Sul (IBRAT/MS). “A vida virtual passou a ser uma continuação da realidade, o que na cultura do cancelamento significa complicações à carreira, vida pessoal, prejuízo financeiro, e emocional. A exclusão social e a punibilidade que os ‘canceladores’ geram na pessoa, se aproximam de comportamento violento. Além disso, o medo constante de ser ‘cancelado’ pode acarretar em síndromes ansiosas e/ou depressivas”, afirma.

Recentemente, a cantora Luísa Sonza fez um novo desabafo sobre as críticas que o cantor Vitão tem recebido em razão do antigo relacionamento dos dois, e aproveitou para chamar a atenção às consequências da ação. A artista se refere ao caso de um rapaz que cometeu suicídio após sofrer ataques nas redes sociais.

Levando em consideração a multiplicidade de cada um, os gatilhos (lembretes mentais de uma forte emoção, dor emocional ou trauma antigo) variam. O psicólogo reforça que “as questões mais comuns são relacionadas a desavenças familiares, doenças ou luto, dificuldades financeiras, abusos sofridos na infância e/ou adolescência, conflitos com a identidade, dificuldades ou rompimento de um relacionamento amoroso, medo de falhar diante das expectativas sociais. O que para você pode ser apenas uma frase ou brincadeira, pode representar a gota d’água na angústia do próximo”.

No país, cerca de 12.895 vidas foram perdidas em 2020, de acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado em julho. Os suicídios na comunidade LGBTQIA + aumentaram 34% entre 2019 e 2020, conforme a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Quando se convive com pessoas que estão sofrendo com tais gatilhos, algumas atitudes que não condizem com a prática profissional adequada são tomadas. Na grande maioria das vezes, a dor do outro é ironizada e diminuída por não ser compreendida. Já em outros casos, a família e amigos até prestam o apoio presencial, contudo, esse tipo de atenção também precisa vir acompanhada de conhecimento técnico e específico no assunto.

Atuante há mais de 30 anos na área, o coordenador do Programa de Conscientização e Combate ao Suicídio do Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), além de Major Capelão da reserva do Corpo de Bombeiros, Edilson dos Reis, trabalha justamente no manejo e capacitação de servidores da saúde e educação para lidar com possíveis episódios, uma vez que a ajuda ao próximo não deve ser realizada sem o treinamento necessário.

“A formação escolar da área da saúde não fornece tanta atenção à prevenção ao suicídio, então ao instruirmos os servidores estamos oferecendo a oportunidade de fala e acolhimento às vítimas. Através da fala a gente vai educando e criando uma ligação que resulta num conjunto de penetração dentro das emoções deste indivíduo. A conscientização é o primeiro passo para uma intervenção duradoura, pois uma dor não compartilhada dói mais. O estigma e o tabu imposto socialmente pelo tema impedem as pessoas de falarem abertamente”, salienta Edilson.

Em Mato Grosso do Sul, os números do ano passado vão de 168 para 178 em 2021. Em relação às tentativas de suicídio, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou uma evidente redução em Campo Grande. Em 2019 os números marcaram 1.634 casos. Já em 2020 foram atendidos e notificados 1.195 contra 551 registros de janeiro a agosto deste ano.

Conforme a Sesau, os motivos da redução nas tentativas não estão definidos, mas acredita-se que, diante do cenário pandêmico, o isolamento social pode ter representado um fator de proteção uma vez que houve um aumento da convivência doméstica com familiares, coibindo comportamentos de risco para o suicídio.

Ainda sim, os números permanecem altos e a procura por assistência não diminuiu. Na Capital, o Grupo Amor Vida (GAV) é um dos centros que realiza apoio emocional de forma gratuita desde 2001. A instituição relata que o momento pandêmico contribuiu para o aumento de 20% nos atendimentos entre 2020 e 2021.

Conforme a voluntária e Diretora de Comunicação do Grupo Amor Vida, Cinthia Moralles, a pandemia intensificou a sensação de isolamento, gerando mais picos de ansiedade. A situação se torna mais intensa devido às outras consequências causadas pelo coronavírus. “Recebemos muitas ligações de pessoas enlutadas que perderam entes queridos para o covid-19, ou que têm parentes hospitalizados e se sentem tristes e fragilizadas”, explica.

Cinthia ainda revela sobre as diferenciações dos perfis sociais das ligações recebidas. Os idosos costumam entrar em contato à noite e de madrugada, além das datas comemorativas e feriados, dos quais costumam se sentir mais sozinhos. No caso dos jovens, esses tendem a ligar durante o dia. “A maioria sente-se sozinha dentro da própria casa. Já atendi um adolescente que compôs uma música no violão, porém os pais não tiveram tempo para ouvir, então ele ligou perguntando se podia tocar. O que parece pequeno a você pode ser grande ao outro”, reforça a diretora.

Outras questões para além da faixa etária precisam ser debatidas, principalmente no que se refere às minorias. “Precisamos considerar a ‘soma de opressões’ quando vulnerabilidades derivadas de características da pessoa fazem com que a sua saúde mental seja ainda mais debilitada. Costumo dizer que em vários casos a pessoa não se suicida, mas é suicidada pela sociedade. Um jovem, LGBTQIA+, negro, que tenha alguma deficiência e seja baixa renda, terá uma soma de angustia muito maior para cada característica”, esclarece o psicólogo João.

Os sintomas podem ser silenciosos, mas há sempre uma linguagem a ser observada. No geral, fatores como desinteresse, isolamento, alterações no apetite e no sono, junto da agressividade precisam ser atendidos. Mais importante do que ouvir e reconhecer o sofrimento do próximo, é o direcionamento para o suporte necessário.

Centros de apoio psicológico

Campo Grande conta hoje com seis Centros Especializados de Atendimento Psicossocial (CAPS), sendo um deles exclusivo para crianças e adolescentes, outro para atendimento de pessoas que fazem uso de álcool e drogas e os outros quatro para a população em geral. Estes locais têm o acolhimento 24h por dia, sendo possível atendimento com médico também nas unidades básicas e em unidades de urgência e emergência.

Caps III Aero Rancho

Endereço: Avenida Raquel de Queiroz, s/n – Aero Rancho

Telefones: 3314-6415 / 2020-1899 / 2020-1901 / 2020-1902

Caps III “Afrodite Dóris Contis”

Endereço: Rua 7 de Setembro, 1.979 – Esquina com a Rua Bahia – Jardim dos Estados

Telefones: 2020-1897 / 2020-1898

Caps II “Marley Maciel Elias Massulo”

Endereço: Avenida Manoel da Costa Lima, 3272 – Bairro Guanandi

Telefones: 3314-3144 / 2020-1895

Caps III Vila Almeida

Endereço: Rua Marechal Hermes, 854 – Vila Almeida

Telefone: 2020-1714 / 2020-1715

Caps Infanto Juvenil III “Dr. Samuel Chaia Jacob”

Endereço: Avenida Manoel da Costa Lima, 3272 (Antigo CRS Guanandy)

Telefone: 2020-2086

Centro de Apoio Psicossocial Pós Trauma

Endereço: Rua Marechal Hermes, 854 – Vila Almeida

Telefones: 2020-7021 / 2020-9963

Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III “Fátima M. Medeiros”

Endereço: Rua Teotônio Rosa Pires, 19 - São Bento (Esquina com a Rua José Antônio, duas quadras acima da Av. Fernando Correia)

Telefone: 3314-3756 / 2020-1903 / 2020-1904

Psicólogos por Amor

A iniciativa gratuita foi criada pelo vereador e psicólogo, Ronilço Guerreiro (Podemos), com a ajuda do voluntariado de outros sete psicólogos. Por meio de reuniões semanais no Google Meet, o grupo debate diferentes temas, no qual os pacientes podem intervir durante a conversa sempre que achar necessário. A assistência individual é oferecida pelo próprio Ronilço.

Para solicitar atendimento ou se voluntariar ao grupo de psicólogos, entre em contato pelo número (67) 9 9115 0283, tanto para ligações quanto para o WhatsApp.

UFMS

A Clínica de Psicologia da UFMS opera de forma gratuita à população. Neste semestre em específico os atendimentos estão voltados somente à adolescentes e adultos. O processo de inscrição deve ser feito presencialmente na unidade. Conforme as vagas disponíveis, os inscritos realizam a triagem e a universidade entrará em contato para marcar a consulta. O horário de atendimento é das 7h às 18h, de segunda-feira à sexta-feira, sem a inclusão de feriados e pontos facultativos. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3345 - 7802.

Endereço: Bloco 13, rua Ufms - Vila Olinda. (Em frente à Faculdade de Odontologia)

UCDB

A Clínica-Escola da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) atende de forma remota e presencial, sendo de segunda-feira à sexta-feira, das 8h às 11h e das 13h às 21h (no período noturno funciona em dias reduzidos por conta da pandemia). Os cadastros para consultas devem ser feitos pelo telefone (67) 3312-3705. Mais informações devem ser acessadas pelo número acima também.

Endereço: Avenida Tamandaré, 6.000 - Jardim Seminário.

Uniderp

A Clínica Escola de Psicologia da Universidade Anhanguera Uniderp presta assistência individual e presencial à população. As consultas têm o valor fixo da tabela social conferido em R$10 por sessão e podem ser agendadas no telefone 3348 - 8478. Os atendimentos funcionam de segunda-feira à sexta-feira, na manhã sendo das 7h às 11h e à noite das 18h às 22h.

Endereço: Avenida Ricardo Brandão, 900. (Esquina com a rua Nova Era)

Unigran

O Núcleo de Psicologia da Unigran Capital oferece atendimento psicoterápico gratuito para crianças a partir dos três anos de idade, adolescentes e adultos.

Os interessados devem solicitar o atendimento pelo whatsapp nos números (67) 99206-5326 e 99841-0778 ou dos e-mails npu.capital@unigran.br e supervisao01.psicologia.capital@unigran.br. Serão feitos o cadastro e a triagem e, agendada uma sessão que será realizada online por chamada de vídeo. O atendimento é realizado de segunda-feira à sexta-feira, das 8 às 18 horas.

Endereço: Rua Abrão Júlio Rahe, 325 - Monte Castelo.

Centros de apoio emocional

Grupo Amor Vida (GAV)

A entidade presta um serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio por meio de ligações telefônicas oferecidas para todas as pessoas que querem e precisam conversar.

O atendimento é realizado por voluntários que passam por um rigoroso curso de formação e treinamento para aprender a ouvir empaticamente. O voluntário interage emocionalmente com o atendido sem direcionar as suas escolhas.

Para ser um voluntário, é necessário ser maior de 18 anos e realizar o Curso de Formação on-line promovido pelo GAV. Depois de concluído, o voluntário passa por um período de estágio nos atendimentos sendo acompanhado por um voluntário mais experiente.

Mais informações podem ser obtidas pelo site www.grupoamorvida.ong.

GAV

Centro de Valorização da Vida (CVV)

O CVV, assim como o GAV, também presta auxílio emocional de forma gratuita que, aqui, se estende por todo o território nacional. Desde 2017 possui uma parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da implantação de uma linha telefônica.

Em MS, o acesso ao atendimento só é possível pela ligação no número 188, podendo ser em qualquer horário do dia, feita tanto pelo aparelho fixo quanto pelo celular. Também é possível entrar em contato por chat ou e-mail acessando o link na íntegra.

Pessoas maiores de 18 anos e que tenham disponibilidade de quatro horas ao dia podem se inscrever pelo site https://www.cvv.org.br/voluntario/. Um Curso de Formação também será ministrado e todas as informações podem ser retiradas no link acima.

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