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RESENHA

Quarteto Fantástico renasce em grande estilo e inicia nova fase da Marvel com acerto raro

'Primeiros Passos' aposta em nostalgia, visual estilizado e heroísmo otimista para renovar o grupo mais problemático da Marvel no cinema

1 agosto 2025 - 12h10Maria Edite Vendas
Narrativa resgata o espírito otimista dos primórdios dos super-heróis, como visto em Superman.
Narrativa resgata o espírito otimista dos primórdios dos super-heróis, como visto em Superman. - (Foto: Divulgação)

Desde a década de 1990, diferentes tentativas de adaptar o Quarteto Fantástico para os cinemas resultaram, na melhor das hipóteses, em filmes medianos. Foram três encarnações anteriores, distribuídas em quatro produções, que oscilaram entre o desastre e o esforço razoável.

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Por isso o entusiasmo em relação à nova adaptação da Primeira Família da Marvel. Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, dirigido por Matt Shakman (responsável pela aclamada série WandaVision), marca o início da Fase 6 do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) e consegue, finalmente, entregar uma versão digna dos icônicos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby. Com plano de fundo futurista, que de maneira inovadora recorre a década de 60, elenco de peso e uma narrativa que segue a linha das HQ’s originais, o longa é um acerto raro nos tempos recentes da Marvel Studios.

Com uma abordagem otimista, colorida e que traz de volta o heroismo ‘’ingênuo’’ a muito tempo perdido, é praticamente impossível não comparar o lançamento a Superman. Ambas propõem um retorno a uma era em que o heroísmo nas HQs era, antes de tudo, uma expressão de esperança. Em Primeiros Passos, o Quarteto já é conhecido e celebrado pela sociedade da Terra-828. Não há uma narrativa tradicional de origem, mas sim um universo plenamente construído, no qual o grupo é retratado como símbolo de uma utopia: uma Terra pacífica, idealizada, onde a coexistência parece ter atingido seu ápice.

O enredo segue o clássico padrão de filme de super-herois, tendo como ponto de partida a descoberta da gravidez de Sue Storm (Vanessa Kirby), a Mulher-Invisível. A notícia é celebrada por Reed Richards (Pedro Pascal), o Sr. Fantástico, por seu cunhado Johnny Storm (Joseph Quinn), o Tocha Humana, e pelo inseparável Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach), o Coisa. A felicidade, no entanto, logo dá lugar à inquietação quando a enigmática Surfista Prateada (Julia Garner) surge para anunciar que o planeta foi marcado por Galactus (Ralph Ineson) para ser consumido. O grupo embarca então em uma jornada cósmica para enfrentar a ameaça.

Embora ambiciosa, a trama surpreende pela organização e fluidez, mesmo tendo sido escrita por oito mãos diferentes. A maneira como o roteiro entrelaça a ameaça de Galactus com a história do grupo apresenta um desfecho diferente do clássico dos quadrinhos de 1966, com uma considerável carga emocional a mais, que agradou o novo publico. O destaque recai especialmente sobre Sue Storm, que ganha papel central não apenas na estrutura da narrativa, mas também na solução do conflito, sem que sua identidade se restrinja à maternidade.

O maior trunfo do filme, contudo, é seu acabamento visual. A direção de arte, liderada por Nick Gottschalk, os figurinos de Alexandra Byrne e o design de produção de Kasra Farahani criam um universo estilizado que remete à ficção científica das décadas de 1950 e 60. Trata-se de uma ambientação que equilibra o moderno com o nostálgico, utilizando cenários práticos e um trabalho minucioso de textura e cor. A fotografia de Jess Hall, com tons pastéis e um filtro que confere suavidade à imagem, reforça essa atmosfera onírica. Já a trilha sonora, composta por Michael Giacchino, embora não especialmente memorável, contribui com sua energia aventuresca para o clima do longa.

O elenco brilha em harmonia. Kirby entrega uma performance sólida e multifacetada, dando vida a uma personagem carismática, firme e afetuosa. Pedro Pascal imprime um tom sereno e reflexivo a Reed Richards, um cientista ciente dos perigos que precisa imaginar para poder evitá-los — uma nuance que poderá, futuramente, ser explorada em versões mais sombrias do personagem. Joseph Quinn surpreende com um Johnny Storm carismático e espirituoso, e Moss-Bachrach oferece uma interpretação doce e contida do Coisa, ainda que seu arco narrativo pudesse ser mais bem desenvolvido.

As ameaças também são bem construídas. A escolha por uma versão feminina da Surfista Prateada, baseada em uma personagem de uma Terra paralela dos quadrinhos, é eficaz, tanto visual quanto tematicamente. A interação entre ela e Johnny Storm é convincente e funcional para a trama. Galactus, por sua vez, é retratado com a imponência que merece: um ser colossal, com visual fiel às HQs, que representa uma ameaça existencial incontornável. As sequências em Nova York, que remetem à clássica luta contra um “kaiju”, são visualmente impactantes sem recorrer ao excesso de ação gratuita.

Em resumo, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é um respiro bem-vindo no universo Marvel.

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