
Há 30 anos, Campo Grande viveu um dos momentos mais inesquecíveis da sua cena cultural com o show dos Mamonas Assassinas, que lotou o Albano Franco e entrou para a memória da geração X e Millennials.

Por trás dos bastidores, quem ajudou a tornar esse momento realidade foi Carlos Alberto Rezende — o professor Carlão —, que se dividia entre a lousa dos cursinhos pré-vestibulares e o agito dos bastidores como promotor de eventos.
Do cursinho ao palco: professor Carlão relembra quando trouxe os Mamonas Assassinas a Campo Grande - (Foto: Arquivo pessoal)
“Trabalhei 38 anos como professor de ensino médio e cursinhos pré-vestibulares desde os anos 80. E ao longo desse caminho, acabei conhecendo muitas pessoas, e isso me levou a virar promotor de eventos também. Organizava muitas festas, e tinha essa vontade de fazer shows”, contou Carlão.
Mesmo sem grandes estruturas na cidade à época, ele resolveu encarar o desafio. “Naquela ocasião, antes de pensar em organizar qualquer show de grande porte, fui conversar com dois grandes nomes da produção em Campo Grande, o Pedro Silva e o Josimar. Quis mostrar respeito e pedi orientação. Fui acolhido por eles e comecei a fazer meus próprios shows.”
Prof. Carlão relembra da importância de Pedro Silva para trazer a banda paulistana para Campo Grande - (Foto: Arquivo pessoal)
A aposta ousada que virou um marco - A oportunidade de trazer os Mamonas Assassinas surgiu logo depois do sucesso de um show do Cidade Negra. “Eu tinha acabado de fazer o show do Cidade Negra em Campo Grande, deu supercerto. Foi um showzão. E aí vi os Mamonas na MTV. Achei muito irreverente, gostei demais. Eles ainda não tinham estourado no país. Pensei: vou arriscar.”
A oportunidade de trazer os Mamonas Assassinas surgiu logo depois do sucesso de um show do Cidade Negra - (Foto: Arquivo)
O contrato foi fechado por fax, como se fazia na época. “Assinei o contrato, reconheci firma, mandei o comprovante de 50% do cachê. Fiquei quieto. Ninguém sabia que eu tinha fechado. E aí a banda explodiu no Brasil inteiro. Foi uma felicidade ver que eu tinha acertado.”
Para dar conta da produção, Carlão chamou parceiros. “Convidei o Pedro Silva para ser parceiro do evento, tivemos o apoio da Rádio Ativa. O show foi ganhando uma dimensão muito maior do que esperávamos. Eles estavam em todas as rádios, programas de TV... Foi ficando gigante.”
Carlão guarda com orgulho o crachá do momento histório na Capital - (Foto: Arquivo pessoal)
O impacto dos Mamonas começou antes mesmo do show. “O aeroporto estava lotado. Conseguimos apoio da Infraero para entrar com a van direto na pista. Eu fui junto na van com os Mamonas. Já ali, eles começaram a brincar com a galera no aeroporto. Gritavam, mandavam beijo, se divertiam”, relembra.
Festa pós-show: Mamonas entre o público, sem seguranças, esbanjando carisma - (Foto: Arquivo pessoal)
Carlão lembra da cena como se fosse hoje: “Saímos com a van, escoltados pela polícia. Atrás de nós, uma fila imensa de carros, gente buzinando, acenando, gritando. Eles acenando de volta, batendo no vidro, falando com todo mundo. Tivemos que mudar o trajeto no meio do caminho. Foi algo que nunca mais vi igual. Sensacional.”
Ao chegar no Hotel Campo Grande, a banda Os Paralamas do Sucesso estava hospedada no mesmo local e eles se encontraram no saguão. “Foi incrível. Tocaram juntos no piano, trocaram ideias, brincaram. Um encontro histórico.”
Encontro de bastidores com os Paralamas do Sucesso no Hotel Campo Grande - (Foto: Arquivo pessoal)
O show que fez história - O evento foi realizado no Centro de Convenções Albano Franco, com ingressos esgotados. Mas o que realmente marcou foi a organização. “O Ministério Público pediu que tivéssemos um espaço reservado para crianças abaixo de 10 anos. Criamos esse espaço bem em frente ao palco, com seguranças e mulheres responsáveis por cuidar das crianças. Nunca tinha visto isso antes em Campo Grande.”
Carlão ressalta que o cuidado com o público foi essencial. “O espaço estava todo preparado, com banheiros, sinalização. Foi tudo muito bem planejado. E os Mamonas... Eles eram exatamente como nas câmeras: extrovertidos, carinhosos, brincalhões. Impressionante.”
Público vibrando no Albano Franco, lotado para ver a banda mais irreverente dos anos 90 - (Foto: Arquivo pessoal)
Mesmo após o show, a energia da banda não parou. “Consegui organizar uma festa em uma boate da cidade. Perguntei a eles se queriam ir. Eles disseram: ‘Nós que vamos!’. Só o Dinho não pôde ir, estava muito cansado. Foi supereducado, agradeceu e ficou no hotel.”
Na boate, a recepção foi calorosa. “A rádio já tinha anunciado a possibilidade deles aparecerem, então estava lotado. Quando entramos, as pessoas abriram caminho, queriam tocar neles, tirar foto. Eles não quiseram seguranças. Ficaram lá, no meio da galera, super tranquilos, tirando foto com todo mundo.”
Chapéus foram feitos para distribuir ao público. Prof. Carlão guarda o dele até hoje - (Foto: Arquivo pessoal)
Para Carlão, o show dos Mamonas foi mais do que um evento: foi um divisor de águas para a cultura da cidade. “Foi um momento de transição. Mostrou que Campo Grande podia, sim, receber grandes shows. Foi uma honra fazer parte disso.”
O vocalista da banda, Dinho, esbanjou carisma e em diversos momentos interagia com o público - (Foto: Arquivo)
E completou: “Organizar um evento desses ensina muito. Envolve gestão, cuidado, responsabilidade. É uma marca na minha vida. Fantástico. Sensacional. Inesquecível”, finaliza.
