
No sul de Minas Gerais, o município de Pouso Alto, a 409 km de Belo Horizonte, vem se afirmando como destino para quem busca natureza, cultura e gastronomia autênticas. Com pouco mais de 6.500 habitantes, a cidade está a 1.200 metros de altitude, cercada pelas montanhas da Mantiqueira, com clima ameno, história preservada e uma vida que ainda corre devagar, no melhor sentido.
A convite da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo do Governo de Minas Gerais, o jornal A Crítica participou de uma press trip para conhecer de perto o que Pouso Alto tem a oferecer. A cidade é pequena, mas sua autenticidade a torna um destino com grande potencial para o turismo de experiência.
No centro da cidade, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição é o coração de Pouso Alto. Foi ali que o professor e mestre em Ciências da Educação, Gustavo Uchoas, nos contou um pouco da origem do município:
O professor e mestre em Ciências da Educação, Gustavo Uchoas, contou toda a história da cidade de Pouso Alto - (Foto: Mariana Borges)“Em 1692, um grupo de exploradores saiu de Taubaté, aproveitando caminhos usados por indígenas, e chegou ao alto deste morro, onde havia um aldeamento. Eles dormiram aqui, fizeram roça e, como era costume dos bandeirantes, fincaram uma cruz. Por causa da altitude, deram o nome de Pouso Alto.”
Segundo ele, a história da igreja também carrega marcos importantes:
“A paróquia foi criada em 1748. A primeira capela deu lugar a uma igreja maior no século XIX. Em 1885, a construção original foi destruída por um incêndio que também queimou praticamente todo o arquivo paroquial. Isso dificultou muito o trabalho dos pesquisadores depois. Mesmo assim, a igreja passou por reformas e mantém seu papel central na vida da cidade.”
Igreja Matriz de Pouso Alto, símbolo da fundação do município e ponto central da fé e da história local - (Foto: Mariana Borges)Do outro lado da Praça Desembargador Ribeiro da Luz em Pouso Alto, está o casarão que hoje abriga a prefeitura. O prédio histórico, construído em 1874, é conhecido como Solar dos Barões. Sobre ele, o professor Gustavo explica:
“O casarão foi construído para ser residência do desembargador Ribeiro da Luz, genro do Barão de Monte Verde. Ele viveu aqui com a família até sua morte, em 1912. Depois disso, o local serviu como colégio, fórum e, atualmente, é a sede da prefeitura. Ele representa o poder dos grandes fazendeiros da época do café.”
Gustavo também destaca um lado menos conhecido da história da região: “Pouso Alto levou a escravidão até o último momento. Mesmo depois da Lei Áurea, ainda há registros da mentalidade escravocrata. Em documentos da Cúria da Campanha, encontrei um registro feito seis meses após a abolição, no qual um padre ainda se referia a uma pessoa como 'escrava do barão de Monte Verde', mesmo com a escravidão já extinta. A lei mudou, mas a mentalidade demorou muito mais para mudar.”
Atual sede da prefeitura, o Solar dos Barões guarda a memória do ciclo do café e da elite rural do século XIX - (Foto: Mariana Borges)Vinhedos, queijo e tradição - Na zona rural, o empresário Diego Maioli é responsável pela videira da Famiglia Maioli.
“Comecei a sonhar com isso em 2016, mas só em 2021, quando me mudei do Rio para cá, consegui tirar a ideia do papel. Em 2022, preparamos o solo e fizemos o plantio. Em 2024, tivemos nossa primeira safra. A técnica usada é a da dupla poda, que nos permite colher a uva no inverno, quando há menos chuvas.”
O empresário Diego Maioli. No campo, os vinhedos da Famiglia Maioli mostram que Pouso Alto também produz vinhos finos com técnicas modernas e muita dedicação - (Foto: Mariana Borges)Segundo ele, o projeto já mostra bons resultados. “Na primeira safra colhemos cerca de 1,5 tonelada. Este ano, chegamos a quase 3 toneladas. A expectativa é que o vinhedo produza até 7 toneladas por hectare quando estiver em pleno potencial.”
Plantação na zona rural de Pouso Alto - (Foto: Mariana Borges)Agora, se tem algo que combina muito com vinho é queijo, e a médica veterinária Rafaela Barbosa Vilela, proprietária da Queijaria Mancilha e Vilela, entende do assunto. Ela compartilha a dedicação à produção artesanal:
“Trabalhamos hoje com uma média de 200 a 300 litros de leite por dia. Usamos o soro do próprio queijo, o fermento natural, para a produção seguinte. Cada peça tem um cuidado diferente, dependendo do tamanho e da maturação.”
No alto da Mantiqueira, Pouso Alto une sabores, paisagens e hospitalidade que surpreende até quem vem de MS - (Foto: Mariana Borges)Ela destaca as criações mais recentes: “Temos o queijo de tomate seco, o de manjericão, o defumado com chimichurri e o tradicional com mel. Um dos nossos preferidos é o de capa preta, que recebe uma resina natural que controla os fungos e permite uma maturação mais lenta e intensa. A gente cuida dele todos os dias.”
Produção artesanal da Queijaria Mancilha e Vilela: queijos maturados com ingredientes como tomate seco, mel e especiarias - (Foto: Mariana Borges)Além dos queijos e vinho, a praça central também guarda sabores típicos. Foi lá que a equipe do A Crítica foi recebida com um dos ícones da gastronomia local: a ficazzella.
Trata-se de um salgado frito de origem italiana, semelhante a um pastel ou panzerotto, mas com um toque mineiro: a massa leva batata cozida, o que garante uma textura macia e um sabor único. A ficazzella é uma tradição de Pouso Alto, servida especialmente em festas juninas e eventos culturais. A cada mordida, um pouco da herança italiana se mistura ao tempero mineiro, criando um prato que representa bem a hospitalidade da cidade.
Recebidos com sorriso, vinho e ficazzella: Pouso Alto encanta do alto da Mantiqueira e chega ao radar de quem viaja de MS - (Foto: Mariana Borges)Trilhas e cachoeiras - Cercada por vegetação densa e floresta de araucárias, Pouso Alto oferece opções para quem gosta de natureza. As trilhas e cachoeiras são de fácil ou média dificuldade, com destaque para o Pico do Rachado, dentro do Parque Estadual da Serra do Papagaio, e quedas d’água como a do Coura, Pedra Preta, Cachoeirão, Buquerê e Florentinos.
“Quando a gente está na trilha, ouvindo o som da mata e sentindo o cheiro da terra molhada, parece que o tempo para. É como se a cidade dissesse: ‘descansa aqui’”, contou uma visitante que veio do Mato Grosso do Sul.
Pouso Alto oferece, no alto da Mantiqueira, a combinação perfeita de natureza, tradição e hospitalidade que conquista o Brasil - (Foto: Mariana Borges)O prefeito Raulysson Magella Mancilha Júnior, o Jun, fala com entusiasmo sobre o futuro: “Esse trabalho de divulgação é um divisor de águas para Pouso Alto. Nosso turismo rural é belíssimo, mas ainda pouco conhecido. Temos vinhos, queijos, uma história riquíssima e eventos tradicionais. A visita de vocês é importante para mostrar isso ao Brasil”, revela.
Ele também celebrou os resultados da gestão: “Em dez meses de governo, conseguimos uma aprovação de 91% da população. É um reconhecimento importante. Mas queremos seguir com planejamento e ação. Ainda temos muito a fazer”, explica.
Em cada canto de Pouso Alto, há uma história para ser descoberta. Mas talvez o que mais marque quem visita a cidade não esteja nas trilhas ou nas construções históricas, e sim nas pessoas. A receptividade dos moradores, o cuidado com os detalhes e o orgulho em mostrar suas raízes fazem da cidade um destino que acolhe com o coração. Pouso Alto é daquelas cidades que, mesmo pequenas, têm espírito grande. E está pronta, com simplicidade e autenticidade, para continuar crescendo, recebendo novos visitantes e compartilhando tudo o que tem de melhor.
O jornalista Carlos Guilherme do A Crítica de Campo Grande visitou Pouso Alto a convite da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo do Governo de Minas Gerais

