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28 de novembro de 2025 - 10h17
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DE MS PARA O MUNDO

Quase deserto e totalmente possível para quem saiu de Campo Grande para viver o cinema

Atriz de MS estreia em longa internacional ao lado de Alessandra Negrini e reflete sobre identidade, arte e pertencimento

28 novembro 2025 - 10h00Carlos Guilherme
Atriz brasileira revela como transformou um sonho de infância em uma carreira internacional no cinema
Atriz brasileira revela como transformou um sonho de infância em uma carreira internacional no cinema - (Foto: Arquivo pessoal)

‘Cada coisa que acontece na vida, seja boa ou ruim, é uma lição’, reflete a atriz sul-mato-grossense Isabella Woodall, que atualmente vive nos Estados Unidos e integra o elenco do filme internacional 'Quase Deserto', ao lado de Alessandra Negrini e Angela Sarafyan e dirigido por José Eduardo Belmonte. A trajetória de Isabella, que nasceu e cresceu em Campo Grande, é marcada por resiliência, mudança e paixão pelo cinema uma história que começa com descobertas ainda na infância e encontra agora seu lugar nas telas do mundo.

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Isabella viveu em Campo Grande até os 22 anos, e foi ainda na infância que despertou sua paixão por contar histórias. Tudo começou quando descobriu a série Buffy, a Caça-Vampiros, exibida na TV, que logo se tornou sua grande inspiração. “Era sobre empoderamento feminino e amigos que viram família. Era tudo o que eu precisava naquele momento. Aquilo me marcou profundamente”, lembra.

'Mini Isabella' em Campo Grande: a atriz destaca que a cidade natal é o alicerce de sua trajetória artística - (Foto: Arquivo pessoal)

O fascínio pelos diálogos e pelas trilhas sonoras em inglês fez com que, naturalmente, ela começasse a aprender o idioma sozinha. “Eu assistia tanto que chegou uma hora em que não tinha mais episódios dublados. Meu pai comprou os DVDs, mas só tinham legenda em espanhol ou inglês. Então fui tentando, e assim fui entendendo tudo. Foi com Buffy e músicas internacionais que aprendi a falar inglês”, conta.

Foi nesse mesmo período que nasceu o sonho de atuar e viver nos Estados Unidos. “Com 10, 11 anos, eu dizia para todo mundo: ‘Quero morar nos EUA e ser atriz’. As pessoas riam de mim. Cheguei a parar de falar disso por um tempo, mas nunca deixei de acreditar”, completa.

Aos 22 anos, decidiu tentar a vida nos Estados Unidos (EUA). “Vim como dava. Não tinha conexão com ninguém, vim como babá. Minha família é humilde e eu não sabia nada sobre como funcionava a indústria do cinema aqui", revela. Durante dois anos, trabalhou em casas de família, até conseguir trocar o visto para estudante e ingressar na faculdade de Recursos Humanos (RH) em Michigan.

Foi assistindo à série Buffy, a Caça-Vampiros que Isabella desenvolveu sua paixão por atuar e aprendeu inglês sozinha - (Foto: Arquivo pessoal)

Isabella passou cinco anos na área corporativa, atuando em RH, até que perdeu o emprego. A demissão, que inicialmente pareceu devastadora, acabou sendo um ponto de virada. “Achei que fosse o fim do mundo, mas foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu não gostava mais daquilo e precisava recomeçar”, admite.

Foi então que encontrou uma aula de teatro local. Incentivada pelo marido, decidiu se inscrever. “Na primeira aula já recebi um feedback incrível. E antes mesmo do curso acabar, consegui meu primeiro papel em um longa independente feito aqui nos EUA.”

O convite para ‘Quase Deserto’ - A estreia em um projeto maior veio meses depois. Por meio de uma comunidade de atores brasileiros no Facebook, Isabella viu um anúncio procurando brasileiros para um filme filmado em Detroit. “Quando li, pensei: ‘Sou eu!’. Foi surreal. Mandei meu currículo, que era bem simples, e um vídeo. Uma semana depois, recebi a resposta: ‘Você vai ser a Inês’", recorda.

Isabella interpreta Inês na produção filmada em Detroit, que mistura realismo e ficção em uma Detroit pós-pandêmica - (Foto: Arquivo pessoal)

Ela se refere à personagem que interpreta em Quase Deserto, filme com direção brasileira e ambientado em uma Detroit pós-pandêmica. “O roteiro é incrível. Não é só um filme, é uma obra de arte. Tem muito filme ruim por aí, mas esse é especial. E ser um filme brasileiro, aqui nos EUA, me tocou profundamente.”

Mesmo sendo uma participação pequena, a personagem aparece em duas cenas, Isabella se dedicou com intensidade. “Assisti a muitos filmes para pegar referências, estudei bastante. Como contraceno com um ator que só fala espanhol, tive ajuda de um amigo para praticar um portunhol bem feito.”

Ela também destaca o valor simbólico da produção. “É um filme que brinca com o real e o fictício. A Detroit que aparece na história é distorcida, quase como uma cidade paralela. Isso traz uma camada extra de interpretação.”

Orgulho de representar Campo Grande no cinema internacional - Apesar da distância, Isabella mantém o coração fincado em Campo Grande. “Minha formação de pessoa foi toda aí. Devo tudo a essa cidade. Tenho muito orgulho de dizer que sou de Campo Grande”, afirma. Mesmo com uma vida construída nos EUA, ela sente que pertence aos dois lugares, e a nenhum ao mesmo tempo. “Não caibo perfeitamente em Campo Grande, mas também não caibo perfeitamente aqui. Quero dividir meu tempo entre os dois.”

Dividida entre Campo Grande e os Estados Unidos, Isabella quer manter viva a conexão com suas raízes brasileiras - (Foto: Arquivo pessoal)

Para ela, fazer parte de Quase Deserto também tem um valor representativo: mostrar que artistas do Centro-Oeste podem chegar longe. “Eu cresci sem referências. Não tinha ninguém de Campo Grande na TV. Espero que minha história mostre que é possível. Com estudo, com resiliência, dá", ressalta.

Desde então, Isabella não parou. Acabou de filmar um novo longa de terror, Sara Sarita, em Ohio, com direção de duas mulheres, Kate Quinn e Mary De La Garza, irmã da cantora Demi Lovato. “Foi uma produção incrível. Trabalhar com diretoras tão talentosas foi uma experiência nova e muito rica”, diz.

Ela também realiza comerciais, já atuou para marcas como Volkswagen e para o museu da Ford e planeja voltar ao teatro no próximo ano. “Quero continuar fazendo arte com propósito. Meu sonho é interpretar personagens complexos, com histórias profundas, que mexam com as pessoas", afirma.

Isabella planeja voltar ao Brasil no fim do ano. “Faz cinco anos que não vejo minha família. Tô com saudade de tudo, dos amigos, da comida, da minha cidade.” No futuro, sonha ter uma casa em Campo Grande, para dividir o tempo entre os dois países. “Quero passar os invernos daqui no verão do Brasil. Seria perfeito.”

A atriz encontrou no teatro o caminho de volta ao seu sonho e logo conquistou seus primeiros papéis no cinema - (Foto: Arquivo pessoal)

Mais do que uma atriz, Isabella se define como uma mulher em busca de sentido. “Terapia e filosofia me ajudaram muito a entender quem eu sou. Vir para cá não foi só aprender inglês. Foi aprender a cultura, a lidar com o mundo. E agora, quero contar histórias que representem isso", finaliza. E você ainda duvida que isso vai acontecer?

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