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A “Barraca da Niria”, uma das mais tradicionais da Feira Central, pertencente a família Katsuren, pioneira em comercializar o famoso sobá na feira desde 1965, teve todas as atenções ao ser entrevistada pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, considerado um dos cinco maiores jornais do País.

O gerente da barraca, Tadashi Katsuren, conta que a indicação do estabelecimento ao jornal se deu pelo contato do jornal com a Associação Okinawa. “Os dois repórteres vieram de São Paulo. Um deles, Cézar, é brasileiro e morador de São Paulo. O outro, o Sr. Karube, é japonês, correspondente do jornal Asahi Shimbun aqui no Brasil. Ele ficará no País pelos próximos dois anos. Demos a entrevista em duas partes, uma na casa de meus avós e a outra na feira mesmo”.
Katsuren, relata como o prato asiático ganhou gosto pela população. “Eu acho que o sobá é um prato fora da curva, ele é caracterizado como sul-mato-grossense, mas se você for parar para analisar, é uma sopa quente servido em uma região que faz frio duas vezes ao ano. Ele simplesmente caiu na boca do povo, as pessoas gostaram de comer, e passaram essa cultura adiante com suas famílias”.
Katsuren relata que o prato, no início era procurado apenas pelos imigrantes que vieram de Okinawa para Mato Grosso do Sul, consumido de forma reservada com receio de serem tachados de exóticos.
Sobre a chegada do prato nas terras da cidade morena, ele conta que seu avô, Hiroshi Katsuren, foi o pioneiro no sobá na feira e que, na época, o prato era direcionado para os próprios imigrantes de Okinawa que tinham vergonha de comer o sobá em público. “Então meu avô colocava um ‘varalzinho’ nas mesas e colocava uma cortina para eles comerem escondidos do resto do pessoal. Só que essa cortina gerou muita curiosidade das pessoas fora da comunidade, que começaram a pedir o prato. O que era para esconder acabou gerando curiosidade e virou um marketing”, comenta Tadashi.
A curiosidade caiu no gosto popular sofrendo adaptações a partir da receita original do Okinawa. E em 2006 adquiriu o status de “bem cultural de natureza imaterial”, por meio do decreto municipal n° 9.685.
A versão considerada como patrimônio imaterial da Capital, é feita com caldo bovino feito a base de puchero de boi, por cima omelete em tiras, cebolinha e carne bovina. O caldo brasileiro é salgado comparado ao sobá okinawano. “O brasileiro gosta de comer uma comida mais salgada, por exemplo é muito comum uma pessoa colocar shoyu no sobá, isso não Japão não existe, o shoyu é um item que fica na cozinha junto ao cozinheiro e não na mesa, mas no Brasil é normal, é só uma adaptação, é algo que vem junto da cultura brasileira”.
Sobre a receptividade do campo grandense aos povos nipônicos, Tadashi lembra que Campo Grande é um dos maiores centros de migração okinawana no Brasil e no mundo. “Em questão de proporcionalidade, aqui é maior do que a comunidade de São Paulo, então não é de assustar que o prato tenha vindo para a Capital, mas ainda assim, a desenvoltura que evoluiu com o tempo e tanto que ela popularizou na cidade, isso sim foi uma surpresa”, finaliza.
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