
A descoberta da maternidade foi o ponto de virada na vida de Hannah Quize Silva Puckes, chef de cozinha e empresária em Campo Grande (MS). Antes com uma carreira sólida em hotelaria, ela viu sua trajetória profissional tomar um novo rumo ao priorizar a presença na criação do filho, Davi Lucas, hoje com seis anos.

“Quando eu descobri que seria mãe, foi uma grande mistura de surpresa e medo”, relembra Hannah. À época, ela enfrentava uma recuperação de uma tromboembolia pulmonar, estava desempregada e longe da família. Mesmo em meio a uma gravidez de alto risco, começou a aceitar trabalhos como freelancer, sempre tentando equilibrar a saúde, a renda e o futuro do bebê.
O nascimento de Davi foi o ponto de inflexão definitivo. Mesmo ainda realizando freelas e conciliando cuidados com o filho, Hannah entendeu que o retorno à antiga rotina de trabalho em hotelaria não era compatível com a maternidade que desejava exercer.
“O maior motivo de começar a empreender foi o meu filho. Eu ficava muito tempo longe dele. Minha mãe trabalhava muito e eu só a via à noite, quando via. Não queria isso para o Davi”, relata.
Foi assim que surgiu o impulso para empreender. Sem capital de giro, sem estrutura adequada, mas com talento na cozinha e o desejo profundo de construir uma realidade mais presente para o filho, ela começou a preparar jantares e eventos dentro da própria casa. Muitas vezes, Davi estava por perto, brincando na cozinha enquanto a mãe produzia.

Com poucos recursos, Hannah transformou a sala e até o quarto de Davi em espaço para armazenar materiais e equipamentos de cozinha. “O Davi acabou perdendo o quartinho dele”, conta, com franqueza. Cada lucro era reinvestido em utensílios e melhorias.
Aos poucos, a clientela foi crescendo com o boca a boca. A virada veio com o apoio do Sebrae/MS. “O Sebrae me ajudou muito nessa transição de CLT para empreendedora”, afirma. Com capacitação e orientação, Hannah formalizou o negócio como Microempreendedora Individual (MEI) e, posteriormente, evoluiu para Microempresa (ME), ampliando sua atuação para eventos corporativos, casamentos e jantares residenciais.
Apesar de todas as responsabilidades, Hannah faz questão de organizar a rotina para estar com o filho. “A linguagem de amor do Davi é tempo de qualidade e presença. Então, eu me esforço ao máximo para estar com ele”, revela. Ela destaca que os momentos juntos muitas vezes são programados com antecedência, mas há espaço também para a espontaneidade.
Davi, aliás, já mostra interesse pelo ofício da mãe. “Ele gosta de entrar na cozinha comigo, então faço questão de tornar esse momento lúdico e seguro para ele”, diz a chef.
O apoio do marido, que cuida das entregas e das compras, é fundamental para o funcionamento da empresa familiar. O equilíbrio entre vida pessoal e profissional é buscado diariamente, mas nunca foi uma tarefa fácil.
Antes de empreender, Hannah acumulava 12 anos de experiência em uma rede hoteleira. O que à primeira vista parecia estabilidade, se mostrou incompatível com sua nova realidade como mãe. “Eu via muitas mães trabalhando ali, naquela carga horária que passava sim de 8h por dia, porque dentro de hotel que atende 24 horas, muitas vezes elas passavam do horário e não compensava. Você até recebe hora extra, mas isso não paga a ausência em casa”, explica.
Mesmo após a maternidade, ela recebeu propostas para voltar à hotelaria — inclusive fora do Brasil —, mas recusou. “Não dá para comparar. Minha família é prioridade. Ganhar muito não é o objetivo. Fazer com excelência, sim”, afirma. A rotina rígida, os turnos estendidos e a dificuldade de conciliar a agenda do setor com os cuidados do filho tornaram o retorno à área inviável.

Apesar de ter deixado o setor, Hannah reconhece que a experiência profissional contribuiu para sua jornada atual. “Aprendi muita coisa que hoje coloco em prática. Processos, organização, atendimento. A teoria é importante, mas a prática fala por si só”, afirma.
Essa vivência moldou não apenas seu estilo de trabalho, mas também sua postura com a própria equipe. “Minha empresa precisa ter paz. Minha casa precisa ter paz. Muitas mulheres que trabalham comigo são mães, chefes de família. Eu preciso ser flexível com elas, comigo e com os clientes”, destaca.
Hannah acredita que empreender vai além de perseguir sonhos. “A gente acha que a grama do vizinho é mais verde, mas todos temos nossos processos. É preciso assumir riscos com propósito e fé”, diz.
E completa com uma reflexão que conduz sua jornada: “Olhe para o futuro e encontre alegria. O restante, Deus vai dando estrutura, ajudando e capacitando", finalizou.
