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OSCAR 2025

"O mundo precisa perceber que temos boas histórias" declara diretora de elenco de "Ainda Estou Aqui"

Filha da poetisa Raquel Naveira, a campo-grandense Letícia Naveira brilha no cenário internacional com seu trabalho em uma das produções mais aclamadas do ano e indicado em três categorias do Oscar 2025

24 janeiro 2025 - 16h50Carlos Guilherme
Letícia Naveira, diretora de elenco do indicado ao Oscar Ainda Estou Aqui, nasceu em Campo Grande e cresceu rodeada por arte e poesia
Letícia Naveira, diretora de elenco do indicado ao Oscar "Ainda Estou Aqui", nasceu em Campo Grande e cresceu rodeada por arte e poesia - (Foto: Julieta Bacchin)

A diretora de elenco Letícia Naveira nasceu em Campo Grande, é filha da poetisa Raquel Naveira e viu seu nome ganhar abrangência após as indicações do seu último trabalho às maiores premiações do cinema mundial.

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Em "Ainda Estou Aqui", indicado nessa semana a três categorias no Oscar 2025, incluindo Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz para Fernanda Torres, Letícia mostrou sua habilidade em construir o elenco.

O olhar apurado e paixão pelo cinema levaram o talento de Letícia ao reconhecimento -

(Foto: Julieta Bacchin)

Letícia cresceu cercada pela arte, influenciada tanto pela poesia da mãe quanto pela paixão do pai, Adhemar Naveira, pelo cinema. “Nasci em Campo Grande, filha da escritora Raquel Naveira, sempre tive a arte muito presente. Criei uma relação íntima com a poesia, lancei também um livro e sempre estive envolvida com a música e o cinema”, relembra.

Seu interesse pelo audiovisual começou cedo, impulsionado pelas brincadeiras com a câmera que ganhou do pai. “Inventávamos cenas e brincadeiras até que ele me deu uma câmera quando eu tinha uns 13 anos. A partir dali nasceu um amor imenso pela sétima arte.” Letícia aprimorou esse talento participando de oficinas no extinto Cine Cultura, em Campo Grande, ao lado de nomes importantes como Eliane Caffé e Joel Pizzini. “Aos 18 anos, me mudei para São Paulo para estudar Cinema, e comecei minha carreira com um estágio”, recorda.

"Lembro de ir ao cinema com minha mãe, ainda sem saber ler, e ela ler para mim, bem baixinho, para que eu pudesse acompanhar o filme. Era uma mistura de contação de histórias com audiovisual. Eu amava acompanhá-la em filmes, até mais do que em animações, algo raro para a minha idade", conta.

Ainda Estou Aqui - A responsabilidade de selecionar o elenco para "Ainda Estou Aqui", trouxe desafios únicos. Letícia explica que o roteiro foi seu principal guia. “O equilíbrio é o roteiro, as subjetividades dos personagens, isso é o norte para encontrar a pessoa ideal. E o meu papel é mostrar opções, colher materiais, testar e apresentar um elenco em que acredito.”

A história de Eunice Paiva, advogada e ativista de Direitos Humanos, é retratada no longa-metragem Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles. Fernanda Torres interpreta o papel principal - (Foto: Reprodução)

Entre os momentos marcantes do processo, Letícia destacou a escolha do ator Guilherme Silveira, que interpreta o jovem Marcelo Rubens Paiva, encontrado por acaso em uma praia do Leblon. “Ele estava no lugar onde o próprio Marcelo cresceu e se divertia. Aquela vivência trouxe ainda mais realidade para o filme.” Já a atriz mirim Cora Ramalho surpreendeu ao perder um dente em cena, coincidindo com o que o roteiro previa. “Impressionante como a arte imita a vida”, reflete.

A cena dos agentes entrando na casa da família Paiva também teve uma surpresa criativa. Renan Lima, que interpreta um dos investigadores, improvisou um truque de ilusão com crianças entre as filmagens, e o diretor Walter incorporou a ideia à cena, trazendo um toque de ironia ao momento. “O resultado ficou incrível, dá um tom de sarcasmo e horror”, contou.

O ator Selton Mello interpreta Rubens Beyrodt Paiva - (Foto: Reprodução)

O trabalho de Letícia ganhou destaque na crítica internacional, incluindo a revista IndieWire, que a classificou entre os 11 melhores diretores de elenco do ano. Segundo ela, o reconhecimento reflete o cuidado e a pesquisa minuciosa realizados para a escolha do elenco. “Recentemente saiu uma matéria destacando meu trabalho no filme. Existe o reconhecimento da minha pesquisa, como aquela família ainda continua coesa e consistente, mesmo tendo uma passagem de tempo no filme.”

Letícia também acredita que o sucesso do filme abrirá portas para outros talentos brasileiros. “Temos matéria-prima de talentos, o mundo precisa perceber que temos boas histórias, somos sagazes, o melhor humor do mundo, escritores incríveis. Que todos saibam o nosso valor”, comemora.

Um dos maiores desafios foi escalar os atores para representar a família Paiva em duas fases da vida, além dos agentes do Doi-Codi, elementos centrais na narrativa. Para isso, Letícia mergulhou em pesquisas históricas. “Busquei muito por registros da época, entrevistas com ex-agentes do Doi-Codi, materiais sobre a família Paiva, me enchi dessas referências para ter o melhor olhar na hora de encontrar o elenco.”

Fernanda Torres reviveu uma das cenas mais emocionantes vividas por Eunice Paiva, em foto real registrada à esquerda, quando recebe a certidão de Óbito do seu marido Rubens - (Foto: Reprodução)

Letícia vê as indicações ao Oscar como uma oportunidade de dar mais visibilidade à profissão de diretor de elenco no Brasil, uma área ainda pouco reconhecida. “Mesmo mundialmente, a produção de elenco não é tão reconhecida como deveria. Somente no ano que vem terá Oscar para essa categoria. Aqui no Brasil, sinto que isso está começando a mudar.”

Para ela, a prática exige equilíbrio entre intuição e técnica. “A intuição é sim muito importante, mas ser surpreendido também é bom. Temos que manter o leque aberto, continuar buscando com o olhar atento as possibilidades. É um trabalho quase como de um detetive, com peças a serem conectadas.”

Oscar 2025

É a primeira vez na história que um filme brasileiro disputa a maior categoria do Oscar, que é de Melhor Filme. A premiação acontece em 2 de março em Los Angeles, com apresentação de Conan O'Brien.

"Emilia Pérez", drama musical francês, foi o campeão de indicações com 13. O segundo mais indicado foi "O Brutalista", com 10 menções.

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