
Apaixonado por educação, Daniel Castanho diz que se envolveu com o tema desde a infância. “Meu pai tinha escola, então, eu fui o filho do diretor da escola. Eu almoçava e jantava falando sobre educação.”
Hoje, ele preside o conselho de administração da Ânima – instituição com 400 mil alunos e 16 mil funcionários –, que foca na aprendizagem individual do aluno, e é um crítico da formação padronizada. “Você entrega um conteúdo, cobra uma prova e dá um certificado, mas é a mesma coisa para todo mundo. E é isso que aconteceu nos últimos anos, nos últimos séculos”, diz. “Agora, a gente tem a possibilidade de fazer uma revolução na educação. De ter uma educação personalizada.” A seguir, os principais trechos da entrevista:
Sempre ouvimos que a educação é o futuro. A educação chegou ou continua sendo o futuro?
Eu falo que as instituições de ensino deveriam ser a grande locomotiva da sociedade. Agora, é muito difícil mudar. Você tem o governo que define todas as regras. Então, por isso acaba que as normas são mais rígidas e muitas vezes não permitem que a educação seja essa grande locomotiva da sociedade.
Por que a gente anda devagar?
Você vê os grandes movimentos da educação. E eu acho que isso não é um privilégio do Brasil, isso acontece em todos os lugares. Agora, eu acho que a gente está num momento único da história. Se você parar para pensar na Grécia, naquela época (na antiguidade), você tinha uma educação personalizada, para poucos. Depois, passou um tempo, a gente tem uma educação padronizada para muitos. É a mesma coisa para todo mundo. O foco ainda está no conteúdo. Você entrega um conteúdo, cobra uma prova e dá um certificado. E é isso que aconteceu nos últimos anos, nos últimos séculos. E, agora, a gente tem a possibilidade de fazer uma revolução na educação. De ter uma educação personalizada para muitos. Para mim, as grandes tendências que você tem agora na educação, e que a gente deve mudar: acabou o currículo linear, ou seja, aquele currículo que é a mesma coisa para todo mundo, independentemente das habilidades ou dos desejos individuais. Você entra na universidade, vai fazer a mesma carreira, o mesmo currículo, o mesmo perfil. Então, imagina a gente acabar com o currículo linear, ter uma flexibilidade muito maior, no qual os alunos vão fazendo as suas escolhas dentro de um percurso formativo diferente.
O sistema já está em funcionamento?
Por isso que eu estou falando que a legislação ainda, não necessariamente, dá essa total flexibilidade. Ela dá alguma flexibilidade, mas as pessoas, as instituições de ensino, muitas vezes – e eu estou falando público, privado, de educação básica, superior –, usam essa flexibilidade não necessariamente para melhorar a qualidade, para melhorar a experiência do aluno, mas para reduzir custos. Quando você usar para realmente repensar a escola como um todo e repensar a experiência do aluno, aí, sim, a gente cria um outro ambiente. Então, além de você quebrar o currículo linear, é você pensar a universidade, a escola, como um grande ecossistema de aprendizagem. A gente tem de mudar de um sistema de ensino fechado, (em que) não interessa o que o aluno aprendeu, o que importa é o que o professor ensinou. O ecossistema de aprendizagem é muito mais aberto, é integrado, onde você aprende de uma maneira muito mais fluida.
O que é a Ânima? O que o fez entrar nessa área?
É um ecossistema de aprendizagem. (Antigamente) As regras eram mais rígidas, mas meu pai dizia: “Não importa a nota que você tirou na prova, eu quero saber se você realmente aprendeu”. Então, a prova é simplesmente para que você saiba o que você não sabe. E eu falo isso para os meus filhos. Você tirou 7, 6 ou 9, não interessa. Eu quero saber se agora, se você fizesse (a prova), você tiraria 10.
É um termômetro para você mesmo?
É igual quando você faz terapia. No primeiro dia, eu falei assim: “Olha, eu quero me curar das coisas que eu não conto para ninguém, nem para mim mesmo”. Quer dizer, esse é o grande motivo pelo qual você faz uma prova. Para que você saiba o que você não sabe. E aí você possa evoluir.
Como fazer para atrair a atenção do aluno com tanta coisa acontecendo fora da escola, com a inteligência artificial?
A inteligência artificial vai ajudar, acelerar essa experiência do aluno. Esquece essa questão de presencial e a distância. Eu acho que (a tendência) é um ensino híbrido, integrado, permeável, indissociável. Você não pode mais pensar em uma sala de aula e o professor escrevendo na lousa e todo mundo copiando. Quer dizer, ficar passando um PowerPoint. Isso você pode até transmitir, deixar as aulas gravadas. A sala de aula tem de ser um lugar de brainstorm, um lugar para você discutir grandes temas depois de ter visto e ter estudado aqueles vídeos e lido várias coisas que você tem de ler. Aí você pode ir para a escola sem professor. É o “espaçomaker”, são os laboratórios, é trabalhar em equipe, aprender com os outros. A inteligência artificial tem de fomentar e acelerar, potencializar o professor, não vai substituir o professor.


