TCE
CELSO RAMOS RÉGIS

"Onde há cooperativa, o Índice de Desenvolvimento Humano é maior"

O presidente da Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia, Celso Ramos Regis, destacou o impacto social e econômico do cooperativismo e o avanço da Sicredi em Mato Grosso do Sul

6 junho 2025 - 14h40Carlos Guilherme
O presidente da Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia, Celso Ramos Regis
O presidente da Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia, Celso Ramos Regis - (Foto: Lorena Sone)

O presidente da Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia, Celso Ramos Regis, afirmou que as cooperativas têm papel decisivo na inclusão financeira, na sustentabilidade e no desenvolvimento social. Em entrevista ao jornal A Crítica, ele destacou o protagonismo do cooperativismo em regiões como o Sul e Centro-Oeste e o desafio de expansão no Norte e Nordeste. A conversa também marcou o anúncio da primeira Corrida Sicredi em Campo Grande, que acontecerá no dia 2 de agosto no Parque dos Poderes.

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A Crítica: Como as cooperativas têm demonstrado resiliência e sustentabilidade neste momento, especialmente a Sicredi, não é mesmo?

Celso: Olha, esta semana é muito significativa para mim, por dois grandes motivos. Primeiro, porque estamos vivenciando uma imersão muito especial, em que se destaca o modelo cooperativo de empreendimento — que vai muito além do ramo de crédito. A cooperativa pode ser agente de negócios em diversos setores da sociedade brasileira: no transporte, na saúde, no agronegócio — que é muito forte aqui no estado — e, claro, no crédito.

Estamos justamente na Semana Internacional do Meio Ambiente. Muitas vezes, quando falamos de meio ambiente, as pessoas pensam apenas nas fazendas. E, por falar nisso, eu também atuo no meio rural. Posso afirmar com segurança que o maior preservacionista deste planeta é o produtor rural brasileiro. Temos um Código Florestal extremamente rígido, e ele é cumprido. Claro que existem alguns malfeitores, mas isso ocorre em qualquer setor. A essência está em cuidar das pessoas e da vida — e é exatamente assim que o Sicredi pensa: cuidar do outro.

Hoje, estamos aqui também para falar das ações do Sicredi. Nossa atuação alcança 97% dos municípios de Mato Grosso do Sul. Em todo o Brasil, são quase 3 mil agências de atendimento aos associados, totalizando quase 10 milhões de cooperados. Estamos muito satisfeitos com isso.

É importante destacar que Campo Grande é a cidade brasileira com o maior número de agências de cooperativas de crédito — tanto do Sicredi quanto de outras cooperativas — e também com o maior número de associados. Estamos nos aproximando de 200 mil associados aqui, sendo que tínhamos 120 mil anteriormente. Isso mostra que muitas pessoas estão imbuídas desse propósito cooperativo.

A Crítica: A gente percebe essa popularização da cooperativa entre a população local. Essa realidade que vivemos aqui se repete também em outras regiões do país, como na região Norte, não é mesmo?

Celso: Olha, infelizmente ainda não. No Norte e no Nordeste do país, existe uma grande lacuna na atuação desse modelo de administração financeira baseado no cooperativismo. Já no Centro-Sul do Brasil — especialmente no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste —, a participação da população nas cooperativas gira em torno de 15% a 20%. Quando vamos para o Norte e Nordeste, esse índice cai para 2%, até 1,5% em alguns casos.

E a que se deve isso? À falta de acesso à informação. É por isso que estamos aqui: para levar informação às pessoas que precisam. Eu costumo valorizar muito o trabalho de vocês, profissionais da comunicação, porque é por meio de vocês que essa informação chega aos ouvidos das pessoas. Com conhecimento, tudo muda.

Há um estudo da FIPE, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, que mostra exatamente isso: onde há presença de cooperativas, o IDH — Índice de Desenvolvimento Humano — é mais alto. O Sicredi, com seus 123 anos de história, trabalha incansavelmente para levar esse conhecimento à sociedade. E dependemos muito do trabalho dessas meninas que estão me acompanhando aqui — profissionais que têm se dedicado exaustivamente a disseminar esse conhecimento.

Infelizmente, no Norte e no Nordeste, ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas o Sicredi tem atuado fortemente nessas regiões. As cooperativas, assim como a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), atuam em cada estado. O cooperativismo tem um órgão regulador próprio — não é uma entidade privada —, e existe até uma legislação específica que define como ele deve funcionar dentro desse sistema.

No nosso caso, temos a atuação em estados como Mato Grosso do Sul, Tocantins, Amazonas, Ceará, entre outros. Cada estado tem seu próprio braço cooperativo, coordenado pelo Sescoop — o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Assim como a indústria tem o Senai, o setor rural tem o Senar, o comércio tem o Senac e o transporte também tem o Sest/Senat, o cooperativismo conta com o Sescoop. É esse órgão que realiza o trabalho essencial de levar conhecimento, capacitação e formação à sociedade.

Então, como você bem observou, ainda há um déficit de conhecimento nessas regiões, mas felizmente muitos nordestinos e nortistas já estão descobrindo essa bela e eficiente forma de organização econômica e social que é o cooperativismo.

A Crítica: E além do desenvolvimento econômico, estamos falando também de desenvolvimento social, não é? Isso tem um impacto enorme. Temos, por exemplo, municípios como São Gabriel do Oeste, onde, se tirássemos as cooperativas, veríamos o quanto a economia local — e também o aspecto social — seria drasticamente afetado.

Celso: Você mencionou São Gabriel do Oeste — um ótimo exemplo no Norte do estado. Vou trazer um exemplo do Sul: Naviraí. E posso incluir também Dois Irmãos do Buriti. Se considerarmos esses municípios isoladamente — desconsiderando polos como Dourados, que tem uma economia naturalmente mais forte —, veremos o quanto essas cidades dependem das cooperativas.

Se retirássemos as estruturas cooperativas desses dois municípios, eles praticamente parariam. A economia local gira em torno dos empreendimentos cooperativos. E essa realidade não é exclusiva de Mato Grosso do Sul — é assim também no Nordeste, no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo... Muitas cidades dependem diretamente da atuação das cooperativas.

No Rio Grande do Sul, então, nem se fala. É o berço do cooperativismo da América Latina. Foi lá, em Nova Petrópolis, que nasceu a primeira cooperativa de crédito da região, a Sicredi Pioneira, que inclusive existe até hoje. É um exemplo de longevidade e compromisso com a comunidade.

A cooperativa da qual sou presidente — a Sicredi União — atua numa faixa central do estado de Mato Grosso do Sul, que vai de Corumbá até Três Lagoas. Alguém pode se perguntar: ‘Por que só nessa faixa?’ A resposta é que isso é uma norma do Banco Central. Todas as cooperativas de crédito do Brasil são autorizadas e fiscalizadas por esse órgão regulador, e a área de atuação de cada uma é previamente delimitada.

Para expandir nosso alcance, fizemos uma aliança estratégica com cooperativas irmãs em outros estados, como no Tocantins e no Oeste da Bahia. Por isso, nosso nome é Sicredi União MS/TO e Oeste da Bahia. Da mesma forma, existem diversas outras cooperativas que atuam em parceria e não são do sistema Sicredi. Temos os co-irmãos do Cresol, Sicoob, Uniprime, Unicred, entre outros.

Esse ecossistema cooperativista é muito maior do que se imagina. Só em Campo Grande, estamos chegando a 200 mil associados. O Sicredi está presente em todos esses espaços, sempre com o propósito de cuidar das pessoas e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento econômico, oferecendo educação financeira e outras soluções dentro do mercado financeiro.

A Crítica: Presidente, como está hoje a relação entre as cooperativas e o Banco Central? Ainda há tensão ou o clima já é de harmonia?

Celso: O Banco Central tem exercido um papel fundamental: é, ao mesmo tempo, o nosso regulador e também o maior incentivador do cooperativismo financeiro no Brasil. Ele tem buscado referências em outros mercados ao redor do mundo, especialmente na América do Norte — como Estados Unidos e Canadá —, onde o modelo cooperativista é muito forte, assim como na Europa, na Ásia e em outros continentes. E tem compreendido que esse modelo é o mais eficiente para alcançar uma parcela da população que ainda está à margem do sistema financeiro tradicional.

Aqui em Mato Grosso do Sul temos exemplos concretos disso: municípios como Rio Negro, Corguinho e Rochedo só contam com cooperativas de crédito — os bancos comerciais que operavam nesses locais fecharam as portas e foram embora. E qual é a diferença? Enquanto o banco tradicional visa exclusivamente o lucro, a cooperativa existe para beneficiar o seu associado. O lucro gerado por ela não pertence à instituição, mas é revertido em benefício da comunidade. Isso está previsto na legislação brasileira e mundial — cooperativa é uma forma de organização social voltada ao desenvolvimento coletivo.

Com a orientação do Banco Central, temos evoluído. O que tem causado incômodo, naturalmente, são os grandes players do mercado financeiro. Afinal, as cooperativas já movimentam mais de 10% da atividade econômica brasileira, e esse volume de recursos saiu, em grande parte, dos bancos tradicionais. A meta do Banco Central é clara: ele quer que, até 2030, as cooperativas dobrem sua participação no mercado.

Para isso, está exigindo — e com razão — a profissionalização da gestão nas cooperativas. E o Sicredi tem se destacado como modelo nesse processo. Pela sua longevidade — são 123 anos de história — e pela estrutura sólida que construiu, tem sido referência, inclusive para o Congresso Nacional e o Conselho Monetário Nacional, que vêm promovendo medidas importantes para o setor.

Se percorremos o interior dos três estados do Sul, veremos que praticamente só existem agências de cooperativas. Enquanto os grandes bancos estão encerrando suas operações e fechando agências, as cooperativas continuam abrindo novas unidades. Às vezes até parece algo estranho para quem não conhece o modelo.

Aqui no nosso estado, Mato Grosso do Sul, estamos começando a experimentar esse movimento. Já alcançamos entre 15% e 17% de participação da economia estadual operada via cooperativas. Esse é um número extraordinário, se comparado ao que discutimos no início da nossa conversa, quando mencionamos o Norte e o Nordeste, onde a participação econômica das cooperativas não chega nem a 1%. E aqui falo de participação econômica, não apenas do número de pessoas atendidas.

Nos Estados Unidos, a participação das cooperativas no mercado varejista gira em torno de 40%. No Canadá, esse número ultrapassa 50% da economia — e tudo isso no varejo, ou seja, no atendimento direto às pessoas. Essa é uma das grandes premissas da doutrina e da filosofia do cooperativismo: a centralidade nas pessoas. A cooperativa é uma sociedade de pessoas, não de capital. Ela não existe para gerar lucro para acionistas, mas para promover economia, distribuir resultados e gerar desenvolvimento entre seus associados.

A Crítica: Presidente, o que podemos esperar da primeira Corrida Sicredi, que será realizada em agosto aqui na cidade?

Celso: Tudo isso que eu falei até aqui está relacionado a essa preocupação essencial do cooperativismo: entender que cooperativa é uma sociedade de pessoas, e não de capital. Ela cuida, ajuda e promove o bem-estar coletivo. No Sicredi, temos um lema muito forte: 'Gente que coopera, cresce'. E eu costumo acrescentar: 'Gente que coopera, cresce, cuida e ajuda'.

Estamos vivendo um momento em que a sustentabilidade está no centro das discussões. Sustentabilidade não é só meio ambiente; é também cuidar das pessoas, do trabalho digno, do desenvolvimento econômico e da saúde. Quando cuidamos do meio ambiente, estamos cuidando de gente — e essa é uma missão forte do Sicredi.

Aqui em Campo Grande, já existem diversas ações promovidas pelos nossos colaboradores, coordenadores de núcleo, delegados e associados. A sociedade como um todo participa ativamente dessas iniciativas. E é nesse espírito que estamos lançando, no dia 2 de agosto, a primeira edição da Corrida Sicredi aqui na capital.

Será uma corrida diferente, que acontecerá em um sábado à noite, a partir das 18h, no Parque dos Poderes. Deve estar aquele friozinho gostoso, clima propício para o esporte e o bem-estar. Tudo está sendo organizado com muito profissionalismo. Contratamos uma empresa especializada para cuidar de toda a estrutura. Todas as agências do Sicredi aqui da capital estão envolvidas nesse projeto, junto com nossos colaboradores, associados e muitos grupos de corrida da cidade, que já estão se inscrevendo.

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