
Em entrevista ao jornal A Crítica, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul (CRMV/MS), Thiago Fraga destacou a importância do médico-veterinário e fiscalização, enfatizando como a atuação conjunta do Conselho com órgãos como Agro, Decon e Vigilância gera mais empregos e garante a regularização dos estabelecimentos, beneficiando a sociedade. Confira a entrevista na íntegra:

A Crítica: Qual o número de profissionais cadastrados hoje?
Thiago: Atualmente, temos em registro cerca de 8 mil médicos veterinários, um número significativo dentro da média nacional. Esse dado, conforme o último Censo Demográfico dos Médicos Veterinários, elaborado pelo Dr. Felipe Volk da Universidade Federal do Paraná, destaca Mato Grosso do Sul como um dos estados com maior participação nesse levantamento em todo o Brasil.
A Crítica: Como o senhor analisa hoje a valorização dos profissionais no Estado?
Thiago: Na verdade, os profissionais mais valorizados são aqueles com maior capacidade de adaptação. Assim como em qualquer outra profissão, na medicina veterinária é essencial adaptar-se rapidamente às mudanças. O estudo contínuo é uma obrigação diária, e aqueles que conseguem se adaptar, inclusive às novas ferramentas, como a inteligência artificial, que já é amplamente utilizada na área veterinária, tendem a ser mais valorizados no mercado de trabalho. Quem se sente mais preparado para enfrentar esse mercado em constante evolução é quem se adapta melhor às exigências do dia a dia. É uma profissão altamente valorizada e com grandes responsabilidades.
Por exemplo, em maio, estive em um evento da Organização Mundial de Saúde Animal, realizado em Paris, onde tive uma real dimensão da importância da profissão. O mundo discute o futuro da medicina veterinária, incluindo questões de produção animal, saúde única, zoonoses e possíveis novas pandemias. O médico veterinário está no centro dessas discussões, e o Brasil é um dos grandes focos, tanto na produção animal quanto na saúde única. Não há como debater essas áreas sem que o médico veterinário esteja presente, sendo protagonista das discussões.
Sou suspeito para falar, pois sou apaixonado pela profissão. O desenvolvimento que o mundo atingiu em termos de alimentação é, em grande parte, graças ao trabalho do médico veterinário. Se hoje temos alimentos de qualidade à mesa, é graças ao trabalho dos médicos veterinários, que garantem que os produtos sejam seguros para o consumo.
A Crítica: Olhando para todo esse cenário, é claro que, para que os profissionais obtenham bons resultados com os animais e atendam bem seus clientes, é fundamental que estejam altamente qualificados. Como o Conselho atua quando falamos de capacitação, inclusão e até mesmo no suporte aos profissionais que acabaram de sair da universidade?
Thiago: O Conselho atua principalmente na fiscalização, e há muitos estudos que mostram que quanto mais intensa a fiscalização, mais empregos são gerados para os médicos veterinários. Por exemplo, quando uma clínica está irregular ou um confinamento clandestino não possui um responsável técnico, a atuação do Conselho exige a regularização, o que inclui a contratação de um médico veterinário. Claro que quem está em situação irregular não deseja a presença do Conselho, mas o que não entendem é que essa fiscalização gera oportunidades de trabalho.
Cada vez que o Conselho fiscaliza um supermercado que não possui um responsável técnico (RT) e este é autuado, o estabelecimento é obrigado a contratar um médico veterinário. Assim, uma fiscalização forte, como a nossa, gera empregos para a classe. No Mato Grosso do Sul, temos uma particularidade que outros estados não possuem: a maior parte da responsabilidade técnica aqui está focada na produção animal, enquanto em outros estados a predominância é nas clínicas de pequenos animais. Aqui, essa realidade é inversa, graças aos incentivos do governo estadual, como o programa Novilho Precoce e o Frango Vida, que destacam Mato Grosso do Sul na área de produção animal, ao contrário da tendência nacional voltada para clínicas de pets.
A Crítica: Recentemente, o Conselho Federal de Medicina Veterinária aprovou o Plano Nacional de Fiscalização do Sistema CFMV/CRMV. O que esse novo plano traz de novidades? Como ele pode impactar a fiscalização e a atuação dos profissionais com essa nova abordagem?
Thiago: É importante ressaltar que estamos participando ativamente desse Grupo de Trabalho (GT) de fiscalização. Temos duas fiscais do Mato Grosso do Sul atuando nesse plano, e estamos muito bem representados dentro do Conselho Federal. Esse novo plano traz uma padronização nas fiscalizações, pois, antes, tudo era feito em papel. Agora, com o uso de tablets, há uma agilidade muito maior. Os livros de Responsabilidade Técnica (RT) passaram a ser eletrônicos, o que permite que sejam consultados diretamente no site do Conselho. Isso traz muito mais agilidade e transparência para o sistema.
Com essa mudança, não há mais a necessidade de verificar manualmente se o RT está cumprindo suas funções. Basta consultar o livro eletrônico para saber se ele está desempenhando corretamente suas responsabilidades no estabelecimento. Esse avanço foi extremamente significativo para o sistema.
A Crítica: Ainda falando sobre a importância das fiscalizações, recentemente vimos algumas ações realizadas pelo Conselho em parceria com o setor agro e com a Decon. Como essas parcerias são fundamentais para alcançar resultados mais eficazes para a população de forma imediata?
Thiago: Levamos esse modelo de fiscalização para uma Câmara Nacional de Presidentes, justamente porque essas fiscalizações conjuntas, Carlos, trazem uma robustez muito grande para todos os órgãos envolvidos. Cada órgão tem suas limitações de atuação. Por exemplo, o Conselho não pode chegar a uma clínica, supermercado ou outro estabelecimento e agir como bem entender. Estamos lá para fiscalizar o profissional e nada além disso. Podemos encontrar produtos vencidos ou situações degradantes, mas nossa atuação se limita à esfera profissional.
Quando realizamos fiscalizações em parceria com outros órgãos, como Agro, Decon e Vigilância Sanitária, conseguimos uma atuação muito mais eficaz. Cada órgão trabalha dentro de suas competências, o que resulta em uma solução mais completa para a sociedade. O estabelecimento, então, é obrigado a se adequar às exigências de todos esses órgãos, ou corre o risco de ter suas atividades suspensas. O Procon, por exemplo, tem o poder de encerrar as atividades de um local, caso as condições sejam inadequadas, algo que o Conselho não pode fazer.
Esse tipo de ação conjunta permite que os problemas sejam resolvidos mais rapidamente e que os estabelecimentos ofereçam um serviço de qualidade à população. O objetivo da fiscalização não é encerrar atividades ou tirar profissionais do mercado de trabalho, porque isso prejudicaria a concorrência e a sociedade. O propósito é que o estabelecimento e o profissional se regularizem, garantindo segurança e qualidade no serviço prestado.
A Crítica: Houve aumento no número de fiscalizações?
Thiago: Sim, houve um avanço significativo. Nossa comunicação atingiu um novo patamar. Antes, o foco era uma comunicação direta com os profissionais, mas agora estamos em outro nível, também dialogando diretamente com a sociedade. Estamos participando de diversos eventos onde temos contato direto com o público, e isso aumentou muito o número de denúncias que recebemos. Com a sociedade nos conhecendo melhor e os profissionais nos enxergando de forma mais clara, nossas denúncias mais que dobraram no primeiro semestre de 2024, justamente por conta dessa nova abordagem comunicacional.
Cada entrega de cédula profissional, cada evento em que participamos, e até oportunidades como esta que vocês estão nos proporcionando contribuem para esse aumento. As pessoas passam a entender melhor a função do órgão, o que resulta naturalmente em um crescimento no número de denúncias, como vimos no primeiro semestre de 2024.
A Crítica: O senhor foi reeleito recentemente para a presidência do Conselho. Como você avalia esse início de novo mandato?
Thiago: Ao mesmo tempo que ser reeleito é algo muito positivo para todos nós, também traz uma responsabilidade ainda maior, né? Não é apenas motivo de comemoração, pois isso aumenta o peso e a responsabilidade sobre nós. Por outro lado, a experiência adquirida facilita bastante, especialmente na resolução de problemas do dia a dia, que agora conseguimos lidar com mais agilidade. Contudo, surgem novos desafios, pois os problemas mudam, e a cobrança em uma segunda gestão é sempre mais intensa do que na primeira.
Durante nossa primeira gestão, cumprimos todas as promessas de campanha. Inauguramos uma sede em Dourados e promovemos a interiorização do Conselho Regional de Medicina Veterinária, começando pelo próprio presidente, que é do interior do estado. Isso foi uma promessa de campanha cumprida. A sede em Dourados representa um sentimento de pertencimento para os profissionais da região, que é o segundo maior colégio eleitoral do estado e concentra o segundo maior número de médicos veterinários. Além disso, a nova sede atende toda a região da Grande Dourados, fortalecendo a identidade dos profissionais da Região Sul.
Estamos pensando em expandir para outras cidades também, mas é um processo demorado e trabalhoso, que não depende apenas de mim ou da minha boa vontade. O peso de uma segunda gestão é proporcional à expectativa e à cobrança que colocam sobre nós.
