
O setor florestal de Mato Grosso do Sul vive uma fase de expansão e consolidação, destacando-se no cenário nacional. Em entrevista à A Crítica, o diretor-executivo da Reflore/MS, Dito Mário, explicou como o Estado evoluiu de um "bolsão de pobreza" para o "Vale da Celulose", com 1.800.000 hectares de eucalipto plantados e grandes investimentos de empresas como Suzano, Eldorado e Arauco.

Mário destaca a importância de uma infraestrutura adequada e da desburocratização para o crescimento do setor, que agora vê potencial para novas frentes, como a bioenergia e produtos inovadores.
No Congresso Florestal MS que acontece no dia 18 de agosto e Show Florestal de Três Lagoas, que ocorrerá entre os dias 19 e 21 do mesmo mês, Mário enfatiza a relevância de mostrar o papel de MS na economia nacional.
O evento contará com palestras do governador e de CEOs das maiores empresas do setor, além de discussões sobre práticas sustentáveis e o futuro da indústria de celulose. O diretor acredita que, embora o Estado já tenha conquistado seu espaço, há muito mais a ser feito, especialmente no fortalecimento de outros segmentos produtivos. Confira a entrevista na íntegra:
A Crítica: O setor florestal se consolidou em MS. Quais os principais fatores que contribuem para esse bom resultado?
Dito: essa história seria difícil de contar por completo em tão pouco tempo, mas vou tentar resumir. Desde as décadas de 70 e 80, com os incentivos fiscais, não conseguimos alcançar o desenvolvimento que temos hoje. A Reflore/MS, por exemplo, foi uma das instituições que mais contribuiu para o que temos atualmente: cerca de 1.800.000 hectares de eucalipto plantado, que abastece as empresas de celulose no estado. Hoje, temos duas linhas de produção da Suzano em Três Lagoas e a maior linha de produção única do mundo, em Ribas do Rio Pardo. Além disso, temos a Eldorado em Três Lagoas e, em construção, a Arauco, que será a maior do mundo, com uma produção de 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano. A Bracell também está chegando ao Estado, com uma fábrica anunciada para Bataguassu.
Esse crescimento aconteceu por alguns fatores importantes. Primeiro, houve uma decisão do Estado de promover esse desenvolvimento. Este ano, comemoramos 20 anos dessa decisão, que resultou em grandes melhorias na capacidade do Estado. A região, onde o desenvolvimento florestal ocorre, era, até pouco tempo atrás, considerada um bolsão de pobreza devido às condições climáticas e do solo. Não era possível cultivar soja devido a vários fatores, como a fertilidade do solo, o que tornava a agricultura inviável. A floresta, então, entrou como uma solução. Primeiramente, recuperamos áreas degradadas, e hoje temos entre 1,8 a 2 milhões de hectares restaurados. O resultado disso é uma situação ambiental excelente. Por exemplo, o setor florestal detém mais de 42% de reserva legal e áreas de preservação permanente, o que é possível porque essas grandes empresas operam com certificação. A certificação exige que elas atendam aos requisitos ambientais, sociais e econômicos.
Outro marco importante foi a desoneração da licença ambiental em 2007, que foi um passo significativo para o setor.
Foi um divisor de águas, pois a desburocratização teve um impacto significativo, permitindo que as empresas entrassem no setor. Em 2009, criamos o Plano Florestal, que reuniu todas as nossas vantagens comparativas e competitivas. Temos uma grande vantagem em termos de situação fundiária, topografia e uma população local capacitada e experiente no segmento. Esses fatores foram fundamentais para o desenvolvimento que vimos até agora, mas também houve o apoio do governo, com todas as administrações cumprindo sua parte. Claro que ainda há necessidade de mais investimentos em infraestrutura, principalmente nos municípios, mas isso vem com o tempo. Se você comparar Três Lagoas de 10 ou 12 anos atrás com a Três Lagoas de hoje, o desenvolvimento é claro e notável.
A Crítica: Quais são os principais gargalos que impedem o setor de ser expandido?
Dito: Acredito que essa expansão continuará acontecendo, e a razão para isso é que, antes, falávamos de um território de 7 a 8 milhões de hectares, e hoje já estamos falando em algo em torno de 13 a 14 milhões de hectares. Essa expansão está se estendendo para outros municípios, e a infraestrutura, especialmente as estradas vicinais, será essencial para levar o desenvolvimento a essas áreas. Também precisamos estar atentos ao mercado mundial, pois nosso crescimento está atrelado à demanda global. O Estado de Mato Grosso do Sul ainda tem espaço para aumentar a área plantada com eucalipto e outras espécies.
É importante destacar que esse crescimento, desde 2003-2004, representa uma evolução impressionante. Saímos de uma área de 90 mil hectares para cerca de 1.800.000 hectares, ou até mais. Esse avanço reflete as ações do governo, que não só desburocratizou processos, mas também criou um ambiente de negócios favorável para atrair empresas, impulsionando o desenvolvimento local, estadual e até nacional. Nossa produção de celulose pode chegar a 13, 14 ou até 15 milhões de toneladas, dependendo de uma série de fatores, como o mercado e a logística, para transportar a celulose até o porto e, de lá, para os centros consumidores. A tecnologia também tem sido uma aliada importante, ajudando a aprimorar todo esse processo.
Atualmente, somos um Estado com pleno emprego, e ainda há necessidade de atrair mais pessoas para ajudar a expandir não apenas esse setor, mas o Estado como um todo, considerando também outros segmentos como cana-de-açúcar, bioenergia e suinocultura. Porém, tudo precisa ser feito de maneira ordenada, e o governo está buscando novos mercados. Esse processo é um ajuste contínuo, e a parceria entre governo e empresários foi fundamental. Os empresários precisam confiar no governo e acreditar que as promessas serão cumpridas. As pessoas envolvidas nesse setor, desde empresários até técnicos, são altamente qualificadas, e o nível de silvicultura e tecnologia que estamos implementando é um dos melhores do mundo. Estamos constantemente buscando melhorias, e a tecnologia evolui cada vez mais rápido para nos ajudar nesse processo. Acredito que estamos no caminho certo.
A Crítica: O senhor acredita que há espaço para o crescimento da silvicultura não só especificamente para a celulose, mas para outros setores, como a bioenergia, madeira serrada e outros produtos inovadores?
Dito: Acredito que o primeiro passo será garantir que temos a madeira suficiente para abastecer as fábricas, pois sem isso, o crescimento de outros setores será difícil. Por isso, estamos falando da possibilidade de produzir muito mais. Mato Grosso do Sul já se consolidou como um grande polo, tanto que agora temos o Vale da Celulose. Anteriormente, a região era considerada um bolsão de pobreza, mas hoje temos a Costa Leste e o Vale da Celulose, o que reflete o desenvolvimento do setor.
Em relação a outros produtos, acredito que há potencial, mas isso só será possível quando conseguirmos estabilizar a produção de celulose. Com isso, o governo e os empresários têm desenvolvido planos para o uso da madeira em múltiplos produtos, mas para isso é necessário consolidar a infraestrutura, como serrarias e o consumo adequado desses produtos. O que fizemos para a celulose, precisamos repetir para outras culturas e produtos. Então, o foco agora é consolidar o polo da celulose antes de expandir para outras áreas.
A Crítica: Qual é a principal importância do Congresso Florestal MS que acontece neste mês em Três Lagoas?
Dito: Já estamos na sétima edição do Show Florestal, que acontecerá nos dias 19, 20 e 21. Organizar a feira junto com o Congresso Florestal MS nos dá uma musculatura muito maior, permitindo atrair milhares de pessoas. O objetivo da feira e do congresso é mostrar a situação atual do Estado, tanto politicamente quanto economicamente, e como o Mato Grosso do Sul se consolidou como um expoente a nível nacional. Durante o congresso, teremos uma palestra com o governador, que, após sua visita aos países asiáticos, trará novidades muito interessantes. Também teremos uma mesa redonda com os CEOs das grandes empresas instaladas no Estado, e outra com os prefeitos das cidades que acolhem essas fábricas, para discutir os desafios e benefícios de ter empresas desse porte nos seus municípios.
Além disso, teremos uma mesa técnica sobre ecoeficiência e silvicultura, abordando o crédito de carbono e outras práticas sustentáveis implementadas no Estado. O congresso será encerrado com uma palestra magna que abordará o universo da celulose, tanto a nível mundial quanto local, destacando as precauções e as medidas necessárias para continuar melhorando o setor. Sabemos que ainda há muito a ser feito em termos de infraestrutura, moradia, lazer e outros aspectos, e os municípios têm um papel fundamental nesse processo.
Com o congresso, queremos mostrar a força do Mato Grosso do Sul e, logo após, a feira, que será um grande sucesso. A feira ocorrerá na Arena Mix em Três Lagoas, e o congresso será no auditório do Sesi Senai, também em Três Lagoas. A cidade, hoje um grande polo industrial, é o lugar perfeito para isso.
Muitas vezes as pessoas não têm a real noção do impacto do setor, e é nossa responsabilidade, como profissionais da área, mostrar os valores que ele traz não só a nível pessoal, mas também local, regional e nacional. Confira a entrevista no player:
