
Na manhã da última sexta-feira (28 de novembro), Gustavo Shiota, arquiteto com mais de duas décadas de experiência e presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (ACOMASUL), chegou ao estúdio da central de jornalismo do Grupo Feitosa de Comunicação para uma conversa franca sobre habitação, urbanismo e os caminhos do setor imobiliário no estado. Com voz calma e discurso articulado, Shiota falou sobre as dificuldades para formar novos profissionais na construção civil, criticou a burocracia na aprovação de projetos em Campo Grande e avaliou o impacto de programas habitacionais como o Habita+CG e o Minha Casa Minha Vida.
A CRÍTICA — A construção civil liderou a geração de empregos em outubro. Isso reflete um bom momento do setor?
GUSTAVO SHIOTA — Reflete, sim. Mas esse crescimento também revela um desafio. A mão de obra da construção civil está envelhecendo e a reposição tem sido difícil. Os jovens têm optado por outras áreas, e o setor precisa urgentemente de novas estratégias de atração e qualificação. Iniciativas como o Elas Constróem, que estimula a entrada de mulheres na construção civil, são muito bem-vindas. O crescimento existe, mas a escassez de trabalhadores preocupa.
A CRÍTICA — Quais são hoje as funções mais carentes de profissionais?
SHIOTA — Temos carência nas funções mais pesadas, como demolição e preparação de base. E também no acabamento, onde as mulheres têm se destacado. Mas ainda são poucas. Precisamos estimular essa participação com mais formação e visibilidade.
A CRÍTICA — O interior de MS tem acompanhado esse crescimento?
SHIOTA — Tem, e com muito otimismo. A habitação social, puxada pelo Minha Casa Minha Vida, tem sustentado a economia da construção civil. A demanda continua alta, inclusive nas cidades pequenas. A região da costa leste, por exemplo, com a chegada de novas indústrias, vive um verdadeiro boom habitacional.
A CRÍTICA — Mas Campo Grande ainda concentra grande parte das construções?
SHIOTA — Sim, mas há um movimento de construtoras migrando para o interior. O motivo principal é a burocracia. Em cidades menores, o processo é mais ágil. Em Campo Grande, por ser uma capital, cada aprovação passa por diversas instâncias, o que encarece e atrasa os projetos. Essa lentidão afasta investimentos.
A CRÍTICA — O sr. citou insegurança jurídica. Isso também assusta o setor?
SHIOTA — Muito. O caso recente no Parque dos Poderes é emblemático. Empreendimentos passaram por todas as licenças e aprovações, e ainda assim sofreram questionamentos na fase final. Isso gera medo. Ninguém quer investir milhões para ver o projeto travado na última hora. Essa insegurança compromete empregos, impostos e infraestrutura que a iniciativa privada implementaria.
A CRÍTICA — A nova lei Habita+CG pode ser uma solução?
SHIOTA — É um avanço importante. Ela destrava o pequeno construtor. Com lotes menores e sem exigência de condomínio em todas as situações, o processo ficou mais ágil e acessível. Isso barateia o custo da construção e amplia a oferta de habitação social. É uma vitória que a ACOMASUL vinha pleiteando há anos.
A CRÍTICA — E como estão as perspectivas para 2026?
SHIOTA — A expectativa é boa. Os programas sociais ainda puxam o setor, principalmente com a Faixa 4 do Minha Casa Minha Vida, que vai até R$ 500 mil. Mas há um hiato entre imóveis de R$ 500 mil a R$ 1,5 milhão. Quem melhora de renda tem dificuldade para migrar para um imóvel maior porque faltam ofertas nesse segmento. Essa faixa intermediária precisa ser melhor explorada.
A CRÍTICA — Comprar lote e construir do zero ainda é viável?
SHIOTA — Sim, mas ficou mais raro. O custo da construção aumentou muito. Hoje, as pessoas buscam imóveis prontos. Mas ainda há boas opções de loteamento com parcelamentos acessíveis. E o novo programa federal Reforma Casa Brasil pode ajudar quem quer melhorar o imóvel que já tem. Com planejamento e financiamento adequado, o sonho da casa própria continua possível.
A CRÍTICA — Qual o seu conselho para quem ainda sonha com a casa própria?
SHIOTA — Investir em imóvel sempre vale a pena. Mesmo quando se erra, se acerta. Há boas oportunidades em bairros em expansão, loteamentos com preços justos e programas que facilitam o financiamento. É um investimento de vida.
Panorama da construção civil em MS, segundo Gustavo Shiota: de um lado, programas habitacionais e expansão no interior impulsionam o setor. Do outro, a escassez de mão de obra, a burocracia e a insegurança jurídica ainda travam o desenvolvimento em Campo Grande.


