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SIMONE LEAL

"Mercado imobiliário de MS vive momento promissor com expansão da celulose e rota bioceânica"

A vice-presidente do CRECI/MS explicou que apesar do crescimento e valorização dos imóveis no Estado, é essencial buscar profissionais habilitados para evitar fraudes e garantir negociações seguras

30 agosto 2025 - 10h20Da Redação
A vice-presidente do CRECI/MS, Simone Leal
A vice-presidente do CRECI/MS, Simone Leal - (Foto: A Crítica)

Em entrevista ao jornal A Crítica, a vice-presidente do CRECI/MS, Simone Leal, destacou que o setor imobiliário em Mato Grosso do Sul vive um momento promissor com a expansão da celulose e a rota bioceânica, mas alertou para os riscos de fraudes e contratos irregulares. Segundo Simone, apenas profissionais habilitados podem garantir negócios seguros e evitar que “o sonho da casa própria se transforme em um pesadelo”. Confira a entrevista completa:

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A Crítica: No dia 27 de agosto foi comemorado o Dia do Corretor de Imóveis. O que a data representa para a categoria?

Simone: Essa data é muito especial para nós, pois marca a regulamentação da profissão de corretor de imóveis, ocorrida em 27 de agosto de 1962, há 63 anos. Mas o que isso representa? Significa segurança jurídica. O corretor é o profissional responsável por tomar todas as providências necessárias, verificar a documentação e garantir que a negociação de um imóvel seja feita com tranquilidade e confiança.

Afinal, para muitas pessoas, comprar um imóvel é a realização de um sonho de vida inteira, fruto de anos de trabalho e economias. E é justamente esse sonho que o corretor de imóveis tem a missão e a capacidade de concretizar.

A Crítica: Como que os profissionais estão lidando com as demandas dos clientes que buscam por um imóvel? Qual é o cenário em MS?

Simone: O setor imobiliário é um segmento que sempre se mantém pujante. Em nosso estado, por exemplo, a indústria da celulose está em franca expansão, trazendo desenvolvimento e progresso para toda a região e arredores. Isso naturalmente impacta o mercado imobiliário, que acompanha esse crescimento com boas oportunidades de negócios.

Outro fator importante é a rota bioceânica, que amplia as perspectivas de investimento e reforça a ideia de que investir em imóveis nunca é perda: o setor sempre se valoriza e gera segurança.

Ser corretor de imóveis, no entanto, exige constante movimento. É uma profissão em que não se pode “estacionar”. Quem não se atualiza acaba ficando para trás. Nosso papel vai muito além de aproximar comprador e vendedor: somos consultores, responsáveis por oferecer orientação qualificada, transmitir credibilidade e, assim, fidelizar clientes.

Mesmo diante de crises econômicas, os imóveis permanecem como um patrimônio sólido e de referência, mantendo sua valorização. Hoje, Mato Grosso do Sul vive um momento especialmente promissor. Vimos isso na região do Bolsão, e agora a expansão da indústria da celulose alcança outras localidades, valorizando não apenas imóveis rurais, mas também urbanos e de locação.

Esse movimento ocorre em duas etapas: primeiro, durante a construção das fábricas, quando há grande demanda de alojamentos e suporte para os trabalhadores; depois, em um segundo estágio, com a estabilização, quando os profissionais passam a atuar efetivamente nas indústrias já instaladas. Esse ciclo fortalece ainda mais o mercado imobiliário e cria novas oportunidades para todos.

A Crítica: Como os corretores têm lidado com essa realidade de alta demanda e de preços tão elevados, tanto para compra e venda de imóveis quanto para aluguéis?

Simone: O que acontece é simples: é a lei da oferta e da procura. Vimos isso em Três Lagoas, depois em Ribas, e agora em Inocência. A alta demanda por imóveis eleva os preços rapidamente. Aquela quitinete que custava entre R$ 500 e R$ 800, hoje não se encontra por menos de R$ 3.000 ou R$ 4.000.

Mas esse movimento traz também um outro efeito: a inadimplência. Muitas pessoas se mudam para essas regiões sem garantias reais de pagamento. O salário nem sempre acompanha os valores cobrados, que estão muito acima da média de mercado. E, quando se faz uma análise de crédito, o recomendado é que a moradia não comprometa mais de 30% do orçamento familiar. Quando isso não é respeitado, a inadimplência cresce, e com ela vem a dificuldade da retomada do imóvel.

Outro problema é que, para tentar economizar, muitos optam por contratos sem intermediação de um corretor ou de uma imobiliária. Usam modelos prontos, comprados em livrarias, sem a devida base legal. Isso gera dores de cabeça, litígios e demandas judiciais que poderiam ser evitadas com a atuação de um profissional habilitado.

O mesmo vale para a compra de imóveis. Quer segurança? Procure sempre um corretor de imóveis. É claro que existem pessoas mal-intencionadas, criminosos que se passam por profissionais e acabam lidando de forma irresponsável com o sonho das famílias. Por isso, não basta estar apenas credenciado ao Creci: é preciso ter conhecimento, preparo e competência. Afinal, os contratos de locação, venda ou financiamento exigem atenção a muitos detalhes. Se não houver profissionalismo, o sonho da casa própria pode facilmente se transformar em um pesadelo.

A Crítica: Diante dos ‘falsos profissionais’ que acabam manchando a imagem dos corretores habilitados e prejudicando o sonho de tantas pessoas, como o Creci tem atuado hoje para combater esse tipo de fraude praticada por quem se apresenta como corretor sem realmente ser?

Simone: Há cerca de três anos realizamos um estudo aprofundado com a nossa equipe de fiscalização, que também atua na investigação e coleta de provas. Esse trabalho durou nove meses e resultou em uma grande operação, que começou em Campo Grande e depois se estendeu para Três Lagoas e Dourados.

O alvo foram fraudes relacionadas à venda de consórcios. Talvez você se recorde: foi uma operação de grande porte, envolvendo o Procon, o Ministério Público, o CRECI e até o Conselho Tutelar, já que encontramos menores de idade aliciados para atuar nessas práticas ilegais.

O que acontecia? Pessoas inescrupulosas copiavam anúncios de imóveis, enganando consumidores ao oferecer o que diziam ser financiamentos. Na prática, tratava-se de consórcios irregulares, muitos sem qualquer registro no Banco Central. O comprador entregava R$ 10 mil ou R$ 15 mil como entrada e, quando percebia que não se tratava de financiamento, já havia perdido o dinheiro.

Muitos desses golpes eram aplicados por jovens, explorando a facilidade das redes sociais e do marketplace para atrair vítimas. Encontramos situações absurdas, como pessoas na recepção com maletas e sacolas cheias de dinheiro em espécie, valores que famílias inteiras haviam juntado por meio de empréstimos bancários para tentar realizar o sonho da casa própria.

Essa operação teve grande repercussão e resultou inclusive em prisões. O recado que deixamos é claro: a população precisa ficar atenta. Sempre consulte o site do CRECI, verifique a certidão de regularidade e confirme se o profissional é realmente habilitado. Só assim é possível evitar que o sonho da casa própria se transforme em um pesadelo.

A Crítica: Em meio ao cenário atual em Mato Grosso do Sul, de que forma o Conselho tem atuado para capacitar e fortalecer cada vez mais a categoria dos corretores de imóveis?

Simone: Hoje o Conselho tem se debruçado sobre dois pontos principais. O primeiro é a preocupação com a formação dos novos profissionais. Temos visto muitos corretores chegando ao mercado sem a devida qualificação. Por lei, os cursos são fracos e deixam lacunas sérias. Para se ter uma ideia, há profissionais que não sabem sequer o que é uma certidão de matrícula — que, em termos simples, é como a “certidão de nascimento” do imóvel, trazendo todo o histórico de proprietários, eventuais penhoras e cancelamentos.

Nesse sentido, o que o Conselho pode fazer ainda é limitado, já que a responsabilidade pela fiscalização dos cursos é do MEC e das secretarias estaduais de Educação. Por isso, a luta hoje, em nível federal, é pela criação de um exame de proficiência, semelhante ao da OAB, que garanta que apenas profissionais realmente capacitados possam atuar no mercado.

O segundo ponto é a atuação contra os maus profissionais. Infelizmente, como em qualquer área, há pessoas mal-intencionadas. Para esses casos, o Conselho mantém uma atuação firme.

O objetivo é claro: punir rigorosamente os que agem de má-fé. Apropriação indébita, por exemplo, leva à cassação imediata, sem segunda chance. E, quando cassado, se o profissional insiste em atuar, o caso passa a ser de polícia e é encaminhado ao Ministério Público.

É fundamental também que a sociedade colabore. Sempre que houver uma irregularidade, é preciso denunciar ao CRECI, apresentando documentos e provas. Só assim conseguimos retirar do mercado aqueles que mancham a profissão e prejudicam o consumidor. O nosso papel é proteger o cidadão e garantir que o sonho da casa própria não se transforme em frustração.

A Crítica: Hoje é muito comum ver anúncios em sites de classificados e no Facebook oferecendo imóveis para “assumir parcelas”, muitas vezes apenas com contrato feito em cartório. Quais são os riscos de um acordo desse tipo?

Simone: Esse tipo de negociação representa um risco enorme. No caso do programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, o financiamento não pode ser transferido diretamente. A forma correta é apresentar a documentação ao banco, que quita o financiamento anterior e abre um novo contrato em nome do comprador.

O consumidor precisa entender que um contrato particular, mesmo registrado em cartório, não garante segurança jurídica. Se o vendedor, por exemplo, vier a falecer, o imóvel entrará em inventário e o comprador ficará em uma situação complicada, com chances de perder o que investiu.

Outro ponto importante é a questão das taxas de juros. Muitos desistem da compra porque consideram a prestação alta com a Selic elevada. Mas é preciso lembrar que, daqui a um ano, o imóvel provavelmente estará mais caro. Ou seja, mesmo que a taxa caia, a valorização do bem pode anular o benefício.

A saída é a portabilidade de crédito. Caso as taxas caiam no futuro, o comprador pode transferir o financiamento para outro banco que ofereça juros menores. Muitas vezes, só de manifestar a intenção de portar o contrato, o próprio banco atual já reduz os juros para não perder o cliente. Assim, é possível renegociar ao longo dos anos e adequar o financiamento às condições de mercado.

Portanto, o recado é claro: se tiver oportunidade de comprar, compre. Mesmo que os juros pareçam altos no momento, é sempre possível fazer a portabilidade depois e reduzir os custos do financiamento.

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