
A história de Lídio Lopes parece tirada de um roteiro de superação. Nascido em Iguatemi (MS), filho de família humilde e numerosa — onze irmãos ao todo —, começou a trabalhar aos 9 anos como engraxate e pichador de tacos. Hoje, aos 53, é deputado estadual em seu quarto mandato consecutivo e ocupa cargos de projeção nacional, como presidente da Unale (União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais) e do Parlamento do Sul (Parlasul). Advogado, servidor efetivo do Tribunal de Contas do Estado, Lopes se destaca por um mandato voltado às pautas sociais, à defesa da infância e juventude, e mais recentemente ao desenvolvimento regional com o projeto Rota MS 79. Casado com a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, com quem tem dois filhos, ele vive também a experiência inusitada de ser chamado — com bom humor — de "primeiro damo" da capital. Nesta entrevista exclusiva ao jornal A Crítica, o parlamentar fala sobre os desafios da saúde, o avanço da rota bioceânica, os rumos das próximas eleições e o equilíbrio entre vida pública e familiar.

A Crítica – O semestre passou voando. Como o senhor vê esse início de 2025 na Assembleia?
Lídio Lopes – O tempo está passando muito rápido mesmo. O primeiro semestre foi intenso, cheio de agendas. A gente sente que os dias estão mais curtos. Parece que foi ontem que fui reeleito. Isso mostra como o mandato é dinâmico e a demanda é grande.
A Crítica – O senhor tem bastante apoio no interior do Estado. Como tem sido esse trabalho nos municípios?
Sempre fui muito presente no interior. Visito os 79 municípios de Mato Grosso do Sul. Criei o projeto Rota MS 79 justamente para divulgar e valorizar cada cidade. Muita gente nem sabe que temos 79 municípios e desconhece lugares lindos como Paranhos ou Dois Irmãos do Buriti. Quero mostrar que cada cidade tem potencial.

A Crítica – O senhor sempre trabalhou com causas sociais, mas agora também fala em empreendedorismo. Por quê?
Porque o Estado mudou. Temos muitas cidades com belezas naturais, cultura e gente trabalhadora. Com o Rota MS 79, comecei a olhar também para o turismo e o empreendedorismo local. Tem turista que passa por Campo Grande só para ir a Bonito ou Corumbá. Mas tem muito mais para ver em MS. Com isso, conseguimos levar investimento e gerar oportunidades para todos.
A Crítica – E sobre esse novo momento econômico do Estado, com a rota bioceânica e a chegada de indústrias?
É uma revolução. MS sempre foi agro, mas agora também é indústria. A rota bioceânica vai transformar Porto Murtinho e o Estado todo. Campo Grande, que parecia fora desse trajeto, hoje é vista como estratégica. Muitas empresas já estão se instalando por aqui, criando centros logísticos. Isso traz emprego, renda e muda o perfil da nossa economia.
A Crítica – A saúde é sempre uma demanda forte. Como o senhor tem trabalhado esse tema?
A saúde em MS ainda é um desafio, principalmente por causa da alta demanda em Campo Grande. Muitas pessoas do interior procuram atendimento aqui. Às vezes a cidade tem 900 mil habitantes, mas emite 1,5 milhão de cartões do SUS. Isso sobrecarrega. A solução está em fortalecer os hospitais regionais e apoiar os municípios para atenderem localmente. O governo tem investido nisso e nós, deputados, cobramos e acompanhamos de perto.
A Crítica – O senhor acredita que Campo Grande precisa de um novo hospital municipal?
Com certeza. A prefeitura já está tocando esse projeto, que vai ajudar a desafogar as UPAs. Hoje, dos 220 leitos, em alguns dias 212 estão ocupados – e quase 40 deles com pacientes do interior. É preciso ter estrutura para atender bem quem mora aqui e também quem vem de fora. E a regionalização vai ajudar nisso, descentralizando o atendimento.

A Crítica – 2026 está chegando. O senhor acha que teremos uma eleição parecida com a de 2022?
Sim, acredito que será uma eleição bastante polarizada de novo, entre direita e esquerda. Eu me posiciono claramente como alguém de direita. A política mudou muito, mas ainda carrega essas raízes ideológicas. A tendência é que a disputa seja intensa, principalmente para a presidência.
A Crítica – O senhor está sem partido no momento. Existe chance de ir para o PP?
Sim, a chance é grande. Já fui convidado pela senadora Tereza Cristina, que é uma grande liderança. E minha esposa, a prefeita Adriane, também está no PP. Mas estou analisando com calma. Não tenho pressa. Quero escolher um partido com boas condições para disputar a reeleição.
A Crítica – Como é viver esse momento em que sua esposa é a prefeita da capital?
É um momento novo. Antes ela era a esposa do deputado. Agora eu sou o marido da prefeita, e com muito orgulho. Ela fez história sendo a primeira mulher eleita prefeita de Campo Grande. Temos uma parceria forte. Nos ajudamos muito, mas cada um tem sua missão. Em casa, cuidamos da família. Quando o assunto é política, resolvemos no escritório.
A Crítica – Como lida com as críticas e as cobranças da vida pública?
Com serenidade. Vim de origem humilde. Trabalhei como engraxate, empacotador de supermercado, servi no setor público e sou advogado. Muitas pessoas não conhecem essa trajetória e acham que a gente vive só de política. Mas tenho profissão e tenho fé. Deus me trouxe até aqui, e Ele é quem me guia. Não me preocupo com maldade nem com crítica vazia. O importante é continuar servindo as pessoas.
