
Há mais ou menos três anos, assumiu a diretoria da Fundação Lowtons de Educação e Cultura – Funlec e, recentemente, por insistência de pais, alunos e professores da instituição, foi reconduzido ao cargo de presidente da Funlec, muito embora isso não estivesse nos seus planos pessoais.

A Crítica – O senhor foi novamente eleito para a presidência da Funlec. Era o que o senhor desejava?
Mafuci Kadri – Na verdade, encarei a instituição Fundação Lowtons de Educação e Cultura, quando assumi o cargo de presidente pela primeira vez, como um desafio. Porque, todos sabem que eu sou da área de saúde. De repente, por circunstâncias da vida, o destino nos impõe caminhos totalmente adversos daquilo que, na verdade, nós desejamos. Quando assumimos a instituição, no dia 15 de maio de 2009, qual não foi a nossa surpresa ao sentarmos na mesa da direção da Funlec e verificarmos que era uma instituição que tinha inúmeros problemas. Dentre eles, a perda constante de alunos, o sucateamento das unidades escolares, o descontentamento dos funcionários, dos pais e dos próprios alunos. Era realmente uma instituição que estava com inúmeros problemas. Não só de foro administrativo, como até de motivação.
Uma das primeiras colocações que eu fiz no setor financeiro, ao chamar o responsável, perguntei-lhe: Quanto é que a Funlec tem hoje de saldo bancário? Ele especificou-me a quantificação do que tinha e eu até me assustei. Perguntei-lhe o quanto restava da venda de umas áreas que, na época, foram autorizadas quando eu era Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Mato Grosso do Sul para a resolução definitiva de uma dívida com o INSS que vinha se acumulando desde 1994. Essa dívida fazia com que a instituição não tivesse credibilidade bancária e nem na praça. Isso foi determinado numa reunião do Conselho Curador, na época, que eu presidi. Convenci os membros do Conselho de que aquela dívida, se sanada definitivamente, poderia resolver os problemas com os quais me deparei quando assumi a instituição, sem perspectivas de uma solução. Até porque, na primeira eleição do então presidente, o senhor Jordão Abreu da Silva Júnior, eu o convenci para que ele ficasse mais um mandato, visto que ele estava negociando essa dívida da Funlec. Ledo engano. Na verdade, não havia sido renegociado absolutamente nada.
Esses fatos vieram à tona nesta gestão de 2009/2012. Imaginem os senhores, o médico, vindo para a área de educação, sem nada conhecer mediante a visão e o pensamento dos demais, enfrentar essa situação. E sabe-se perfeitamente que o presidente da instituição não é remunerado em hipótese nenhuma. Sabedores que somos que, infelizmente, neste País existem as pessoas que se aproveitam dos cargos para outros fins. E o que é mais lamentável é o fato dessas pessoas não serem penalizadas pelos atos que realmente cometem. Mas vejo, por outro lado, com muita esperança, que esses fatos que estão a ocorrer, começam a mudar nas gerações vindouras, que já não concordam com esse tipo de comportamento.
A Crítica – A partir de então o senhor começou a administrar a instituição?
Mafuci - Nós começamos, realmente, a administrar a Funlec nesse patamar. Quando eu chamei alguns gerentes de bancos e perguntei-lhes o porque da Funlec não ter crédito. Imaginem os senhores a resposta que eles me deram: “porque não tem credibilidade, porque não honra seus compromissos”. Quando chamo os funcionários, especialmente os diretores e coordenadores, afinal quando as pessoas não nos conhecem, o que pode passar-lhes no pensamento sobre a pessoa que vai presidir uma instituição ? Eu disse para eles, que sonhassem e que trouxessem os seus sonhos. E dentro dessa realidade, as coisas começaram a acontecer. Vimos que a parte administrativa da instituição, era totalmente inchada, de uma forma descabida, com gente em excesso, muitas vezes, ganhando salários inadequados para as funções. Nós passamos a enfrentar os problemas e promover as demissões, dentro do mais absoluto rigor da Lei. Pegamos a instituição, só na parte administrativa, com 45 a 50 pessoas e hoje nós estamos trabalhando com 20 pessoas: 14 funcionários fixos e 6 profissionais que dão a assistência a todas as nossas unidades educacionais. Enfrentamos problemas na Unidade de Bonito: havia um acordo com a prefeitura municipal de cedência de uma área e a Funlec, em contrapartida, deveria realizar construções que, após 10 anos, não haviam sido feitas efetivamente. E após esses 10 anos, essa Unidade deveria ser devolvida para a Prefeitura de Bonito. Com a compreensão e a sensibilidade dos vereadores e do prefeito, a Funlec que tinha um terreno situado ao lado da Loja Maçônica Gonçalves Dias, deu esse terreno em troca da área de oito hectares onde estava inserido o complexo escolar da Unidade daquele município. E eles aceitaram por unanimidade, devido a seriedade do presidente da instituição. Enfrentamos, também, problemas em Bataguassu, onde tivemos que devolver e encerrar a Unidade da Funlec pelo fato dela ser deficitária. Devolvemos para a cidade de Coxim uma fundação que a Funlec tinha a responsabilidade de dirigir. Depois de sanados todos os problemas dessa fundação, eles a solicitaram de volta, e nós a devolvemos. Encerramos, também, um Curso que funcionava na Avenida Mato Grosso, em Campo Grande, que também era deficitário. Começamos a fazer uma reestruturação da instituição. E, ao mesmo tempo, começamos a edificar as obras que estavam paradas a muitos anos. Nada se fazia nas unidades da instituição, visto que nós temos uma Unidade em Três Lagoas e temos cinco Unidades em Campo Grande.
E começamos também, a enfrentar as dívidas inerentes as administrações anteriores, e os processos que vinham do INSS, ente outros. Quando deparei-me com o meu nome, como presidente da instituição, no CADIM ao realizar meus negócios particulares. Então comecei a questionar essa atividade na instituição, visto que ela começava a atrapalhar minha vida particular. Mas quando eu adentrava as unidades escolares e vendo aquelas crianças vindo ao meu encontro, e uma outra coisa que nós nos deparávamos, os pedidos de bolsas gratuitas que a Fundação tinha e tem por obrigação conceder, que, no entanto eram concedidas de forma aleatória, sem nenhum critério, nós começamos a trabalhar nesse setor e hoje nós temos a satisfação de dizer que a instituição atingiu um patamar de 17% bolsas gratuitas para alunos realmente carentes. No Instituto Superior que a Funlec tem, que também caberia um livro nesta gestão, resolvemos um problema do curso de Educação Física, que não era reconhecido pelo MEC. E isso foi resolvido. Hoje, dos 400 alunos que temos nos cursos superiores da instituição (IESF), 200 são bolsistas. São garis, guardadores de carro, filhos de domésticas, pessoas carentes que não tinham em hipótese nenhuma a possibilidade de fazer um curso superior. E nessa administração estão conseguindo realizar esse sonho.
Realmente, depois de muitas obras realizadas, envolvendo mais de R$ 7 milhões, de parcelamento de dívidas de gestões anteriores envolvendo R$ 4,5 milhões, tivemos em um dia inesquecível um contato com o senador Delcídio do Amaral, onde colocamos a ele a situação da instituição em especial a dívida com o INSS que hoje estaria em R$ 33 milhões para ver se conseguiríamos resolver isso. E de que forma poderíamos resolver, uma vez que todas as unidades da Funlec estavam comprometidas de alguma forma ? A Funlec estava vedada, em todas as circunstâncias. E o senador, com sua amabilidade e sensibilidade começou a trabalhar juntamente com sua equipe e alguns abnegados colaboradores da instituição e começamos a resolver o problema nesse período do meu primeiro mandato. Chegou-se a um tempo atrás a solução saída de Campo Grande, de trocarmos essa dívida de R$ 33 milhões por bolsas escolares. Idéia essa nascida nesta instituição, nessa gestão, e que agora irá beneficiar, por intermédio de uma Lei no Senado, encabeçada pelo senador Delcídio do Amaral, que irá beneficiar e favorecer 4 mil instituições em todo o Brasil que também tem dívidas para com o INSS. Isso fez com que a Funlec fosse desamarrada da complexidade que havia anteriormente. E começamos então a fazer as obras. Para que se tenha uma ideia, havia desde o ano de 2.000, uma dívida tendo sido dada como garantia uma área no Desbarrancado, uma área da Funlec que fica na saída para Tres Lagoas, e que na minha gestão implodiu em todos os problemas da instituição. Quando um dia eu comentei com a pessoa que deveria ser responsável e disse-lhe: Tudo o que eu fiz para você, você me devolve enrolando-me num cinturão de bombas para que a instituição explodisse comigo? A resposta dele: “Muitas instituições e muitas empresas entram em falência. Se a Funlec falir, nós estaremos ao seu lado”. Eu respondi a ele que eu não preciso de homens desse tipo, desse naipe para ficarem ao meu lado achando que a instituição iria falir comigo.
Mas nesses percursos todos, quando nós começamos a resgatar a confiança dos nossos colaboradores, tomando como atitude no primeiro ano congelar as mensalidades escolares, numa instituição em pré-falência, dando aumento salarial linear de 10% a todos os nossos funcionários, todos logicamente comentaram: “agora foi pro brejo”. E na realidade nós começamos a recuperar a Funlec, pela seriedade dessa administração. Algo que nunca deveria ter saído dos trilhos e que na verdade deveria ter sido sempre o exemplo maior de uma instituição de educação ligada a Ordem Maçônica.
