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FÁBIO TRAD

"Democracia é um bem inegociável - com ou sem mandato, é nela que eu permaneço"

O advogado e ex-deputado federal fala sobre filiação ao PT, papel nas eleições de 2026, relação com a família e defesa intransigente da democracia

3 setembro 2025 - 17h00Carlos Guilherme
O advogado e ex-deputado federal Fábio Trad afirmou, em entrevista ao A Crítica, que sua filiação ao PT não representa uma mudança de rumo
O advogado e ex-deputado federal Fábio Trad afirmou, em entrevista ao A Crítica, que sua filiação ao PT não representa uma mudança de rumo - (Foto: Arquivo)

O advogado e ex-deputado federal Fábio Trad afirmou, em entrevista ao jornal A Crítica, que sua filiação ao PT não representa uma mudança de rumo, mas a continuidade de uma trajetória política pautada na defesa da democracia e da justiça social.

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Crítico à extrema-direita, ele destacou que não há mais espaço para o centro político e que o partido terá papel decisivo na reeleição do presidente Lula em 2026. Trad disse preferir disputar novamente a Câmara dos Deputados, mas não descarta uma eventual candidatura ao governo de Mato Grosso do Sul, caso seja convocado pelo partido. Ele também comentou as diferenças com o irmão, senador Nelsinho Trad (PSD), aliado de Bolsonaro, reforçando que permanecerá fiel ao campo democrático mesmo que isso lhe custe um mandato. Confira a entrevista na íntegra:

A Crítica: Qual foi o motivo da ida do senhor ao Partido dos Trabalhadores (PT)?

Fábio Trad: Eu não considero essa filiação uma mudança de casa, mas sim o desdobramento natural de uma trajetória política marcada pela coerência e pela defesa de valores que sempre sustentei. Desde a presidência da OAB de Mato Grosso do Sul, venho defendendo o Estado Democrático de Direito, a soberania nacional e o compromisso com a justiça social.

Hoje, diante da polarização política, não vejo mais espaço para o centro. Ou se está ao lado do campo democrático, que fortalece a democracia brasileira, ou ao lado daqueles que, em 8 de janeiro, invadiram e depredaram Brasília, planejaram matar autoridades e até colocaram bomba em um carro no aeroporto da capital, no dia 24 de dezembro. Esse campo, que adota métodos autoritários e fascistas, é totalmente incompatível com os meus princípios.

Minha decisão não se baseia em conveniência eleitoral, mas em convicção. Ingressar no PT é um gesto coerente com tudo o que venho defendendo desde a OAB. Quem mudou não fui eu, mas aqueles que antes estavam no campo democrático e migraram para o extremismo.

A Crítica: Como o senhor garante ao eleitor que nos acompanha agora que este reencontro com suas origens é, de fato, definitivo?

Fábio: Uma coisa é atuar na política de alguns anos atrás, quando existia uma direita que respeitava o Estado Democrático de Direito, a soberania nacional, as eleições livres e a ciência. Hoje, esse campo praticamente desapareceu. O que temos é uma divisão entre o campo democrático e o da extrema-direita.

A extrema-direita não reconheceu a derrota nas eleições de 2022, planejou matar autoridades e até realizou atos irracionais, como acampamentos com discursos fantasiosos de intervenção “cósmica”. Como debater com pessoas que pregam anistia, desconsiderando todo o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que investigaram e revelaram um plano de tentativa de golpe de Estado?

Não posso me submeter a esse nível de distorção política. Sou advogado, tenho princípios e valores intelectuais que não me permitem aceitar esse tipo de postura. Por isso, não vejo que alianças feitas por partidos aos quais já pertenci, como PSD ou PMDB, possam me impedir hoje de estar no campo democrático — que é, na verdade, o espaço em que sempre estive. Nunca tive apoio da extrema-direita, que antes se escondia, mas agora se revela de forma explícita. Esse é um campo que desconheço tanto em linguagem quanto em valores políticos.

A Crítica: Qual será o seu papel no processo de reorganização e fortalecimento do PT em 2026?

Fábio: Veja bem, a declaração do deputado Vander Loubet (novo presidente do diretório regional do PT) foi categórica: o PT terá, obrigatoriamente, candidato ou candidata ao governo do Estado. Ainda não há um nome definido, isso será discutido internamente no partido.

Além disso, nossa prioridade é defender a reeleição do presidente Lula. O cenário que se desenha aponta para a provável condenação de Bolsonaro, dos golpistas e de parte da cúpula militar. Isso deve gerar retaliações, inclusive com o apoio de setores do Centrão e da extrema-direita, criando um quadro de instabilidade.

Mas não se trata apenas de disputas políticas conjunturais. O que está em jogo é muito maior: é a democracia, o Estado Democrático de Direito, a estabilidade das instituições e do próprio país. O objetivo deles é forçar uma anistia, um apagamento da história recente, ignorando a gravidade do que aconteceu.

Tanto que o The Economist, principal veículo da direita internacional, reconheceu e elogiou o processo conduzido pelo Supremo Tribunal Federal como exemplo a ser seguido por todas as nações comprometidas com a democracia.

A Crítica: Ventila-se que o senhor pode concorrer ao Governo em 2026, isso procede?

Fábio: Nós não somos donos do futuro. Quem imaginaria, por exemplo, que a própria Faria Lima estaria envolvida em esquemas criminosos de forma tão organizada? A política é dinâmica e cheia de fatos imprevisíveis.

Se me for concedido o direito de expressar um desejo pessoal dentro do partido, eu, como advogado e professor, gostaria de colocar minha experiência legislativa a serviço do país na Câmara dos Deputados. Acredito que ali será travada a verdadeira batalha em defesa da democracia e, nesse espaço, poderei ser mais útil a Mato Grosso do Sul e ao Brasil. Claro, isso depende do apoio do eleitorado.

Mas, ao mesmo tempo, reconheço que todas as decisões passarão pelas instâncias partidárias — diretório nacional, estadual e pelo presidente Lula. Não tenho problema algum em participar de outra disputa, caso seja necessário. Felizmente, tenho uma profissão consolidada, vivo do meu trabalho e, por isso, não alimento vaidade pessoal na política.

Minha filiação ao PT é, acima de tudo, um gesto simbólico para mostrar à juventude e à sociedade que precisamos assumir um lado. O que está em jogo é a democracia, o Estado de Direito, o respeito às leis e às instituições. Não é porque se perde uma eleição que se pode colocar tudo a perder, inclusive os valores constitucionais consagrados no pacto de 1988.

Portanto, sem vaidade, me coloco à disposição do campo democrático, seja como deputado federal, seja sem mandato, atuando nas redes, na advocacia ou no ensino. O importante é contribuir com energia e coerência para fortalecer a democracia.

A Crítica: O senador Nelsinho Trad (PSD), tem uma relação próxima com o ex-presidente Bolsonaro e também um bom diálogo com os eleitores da direita. Enquanto isso, o senhor agora está filiado ao PT, posicionado em um campo político diferente. Como está hoje essa relação entre o senhor e o senador, levando em conta essas diferenças de posicionamento, inclusive dentro da própria família?

Fábio: O Nelsinho fez a opção dele diante desse quadro político, e eu preciso respeitar. Se eu me rebelasse contra essa escolha e adotasse métodos autoritários em relação a ele, estaria me igualando justamente àqueles de quem quero manter distância.

Ele escolheu o bolsonarismo, eu não. Eu estou no campo democrático. Não aceito e não compactuo com os métodos bolsonaristas. Se isso me custar um mandato, que seja. Não persigo o poder por status — para mim, a política é missão.

Da mesma forma, que a senadora Tereza Cristina também fez a escolha dela, migrando da centro-esquerda, afinal ela era do PSB, e foi para a extrema-direita. Quem sou eu para dizer que ela está errada? Apenas não compartilho dessa visão. O que posso afirmar, com clareza, é que não estou ao lado dos bolsonaristas. Em Mato Grosso do Sul e no Brasil, estou ao lado do campo democrático e popular, da democracia e do Estado de Direito.

Vivemos hoje um cenário internacional em que métodos fascistas avançam — já tomaram espaço na Itália, na Polônia, na Hungria e agora estão presentes nos Estados Unidos. Esses movimentos buscam impedir que países como o Brasil avancem não apenas na democracia política, já consolidada, mas também na social e econômica. Esse é o verdadeiro temor da extrema-direita internacional: que o Brasil, ao se fortalecer, possa se tornar uma potência até maior que os EUA.

Portanto, quem mudou de lado não fui eu. Permaneci no campo democrático, agora junto ao PT, ao lado de partidos como o PSB e o PV. A coerência tem um preço, e muitas vezes esse preço é não conquistar um mandato, por falta de compreensão de parte do eleitorado. Mas eu não vou abrir mão dos meus valores para agradar. Democracia é um bem inegociável — com ou sem mandato, é nela que eu permaneço.

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