
Enquanto o envelhecimento da população brasileira se torna pauta nacional, inclusive tema recente do Enem, Mato Grosso do Sul já avança em políticas públicas que colocam os idosos no centro do cuidado. Um dos exemplos mais robustos vem do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MS), que vem implementando, nos últimos anos, iniciativas voltadas à autonomia, à mobilidade e ao respeito das pessoas com mais de 60 anos.
De acordo com o Observatório da Cidadania, em 2025, 14,2% da população sul-mato-grossense já está nesta faixa etária — o que representa aproximadamente 391 mil pessoas. Em pouco mais de uma década, o número de idosos no estado cresceu 63%, um movimento que desafia gestores públicos a garantir não apenas saúde, mas também acessibilidade e cidadania plena.
Um dos benefícios mais concretos para esse público está nas taxas da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e da Permissão para Dirigir (PpD). Amparado pelo Decreto nº 14.968/2018, atualizado em 2021, o Detran-MS oferece descontos proporcionais conforme a idade do condutor.
“A partir dos 60 anos, quando a validade da CNH passa a ser de cinco anos, o valor corresponde a 50% da taxa integral. Já a partir dos 70 anos, com validade reduzida para três anos, o desconto chega a 70%, ou seja, paga-se apenas 30%”, explica Luiz Fernando Ferreira dos Santos, diretor de Habilitação do Detran-MS.
Ele próprio, já na faixa dos 60+, reforça que o cuidado com o idoso vai além de tarifas reduzidas. “É uma forma de reconhecer a importância dessa geração, que ajudou a construir o Estado e continua ativa. Nosso papel é garantir que tenham acesso fácil e seguro aos serviços, com acolhimento e respeito”, afirma.
A iniciativa mais simbólica do Detran-MS para este público nasceu em outubro de 2024 com a criação do “Guichê 60+”. Os primeiros espaços exclusivos foram instalados em Campo Grande, no Shopping Campo Grande, e em Dourados, na Agência Híbrida.
O objetivo era claro: proporcionar um atendimento sem pressa, com paciência, empatia e mais tempo dedicado aos idosos. E os resultados confirmam o acerto. Em Dourados, o número de atendimentos saltou de 191 em outubro de 2024 para 266 em setembro de 2025 — um aumento de quase 40%. Já na capital, o Guichê 60+ mantém uma média mensal de 427 atendimentos, incluindo o público 80+, consolidando-se como referência estadual.
Quem simboliza esse acolhimento é a servidora Danielle Menezes de Sousa, responsável pelo espaço no Shopping Campo Grande. Ela atende cerca de 30 pessoas por dia e conta que muitos voltam não apenas para resolver pendências, mas também para conversar. “Eles gostam de falar da vida, dos filhos, dos netos. Às vezes chegam inseguros, achando que erraram em algo. A gente escuta com calma, explica devagar, olha nos olhos. Isso faz toda a diferença”, relata.

Servidora Danielle Menezes (Foto: Mireli Obando)
A percepção de quem utiliza o serviço é um dos pontos altos da iniciativa. O servidor público aposentado Evandro Faustino é direto: “Esse tipo de atendimento não é um favor, é uma necessidade. Deveria ser expandido para outros órgãos”.
Já Ana Almeida, que esteve na agência para renovar sua CNH aos 61 anos, descreveu a experiência como acolhedora. “Foi muito rápido e muito bom. A gente se sente respeitada. Em alguns lugares a idade é tratada como limitação, mas aqui a gente se sente incluída”, diz.
Além do bom atendimento, Ana também comemorou o desconto proporcional. “Nem sabia que tinha esse benefício. Quando vi o valor da taxa, fiquei surpresa positivamente”, relata.
A legislação brasileira não impõe limite de idade para dirigir. O que há é a exigência de exames médicos mais frequentes para reforçar a segurança de todos. Com as ações implementadas pelo Detran-MS, o envelhecimento passa a ser compreendido não como um obstáculo, mas como uma fase da vida em que o cidadão continua produtivo, participativo e digno de respeito.
Em um país que caminha para ter 40% da população com mais de 60 anos até 2070, Mato Grosso do Sul mostra que é possível pensar o envelhecimento de forma propositiva. O exemplo do Detran-MS aponta que políticas públicas eficientes não apenas resolvem questões práticas, como taxas e trâmites burocráticos, mas também criam espaços de escuta, inclusão e valorização de uma geração que ainda tem muito a contribuir.


