Três meses após proibir a venda de chips de inteligência artificial (IA) da Nvidia para a China, a administração Trump reverteu a decisão.
Na segunda-feira, 14, a gigante afirmou em seu blog que o governo dos EUA aprovou as vendas de um modelo específico de chip de IA, conhecido como H20. A Nvidia ainda precisará passar por um licenciamento para realizar as vendas, mas a gestão Trump “assegurou que as licenças serão concedidas”, disse a empresa no post.
A decisão veio após Jensen Huang, CEO da Nvidia, se encontrar na quinta-feira, 10, com o presidente americano. O executivo passou meses fazendo lobby com políticos em Washington para manter a China aberta para vendas de chips de IA. O país asiático tem o potencial de gerar bilhões de dólares em vendas para a empresa, que na semana passada se tornou a primeira a alcançar o valor de US$ 4 trilhões.
Huang também visitou a China várias vezes este ano, incluindo uma viagem a Pequim esta semana, onde ele está programado para dar uma conferência de imprensa na quarta-feira.
O Departamento de Comércio e a Casa Branca não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.
A reversão tem grandes implicações para a corrida entre os Estados Unidos e a China para desenvolver inteligência artificial. Permitirá que as empresas de tecnologia chinesas reiniciem as compras dos chips da Nvidia, que são considerados ideais para executar alguns dos cálculos que alimentam a AI. Estava previsto que a Nvidia arrecadasse até $15 bilhões com as vendas do chip H20 durante o seu ano fiscal atual.
Com a mudança, a administração Trump também afastou-se de um esforço central para ficar à frente da China na corrida de AI. O governo dos EUA estava preocupado que os militares chineses pudessem usar chips de AI para coordenar ataques e desenvolver armas e também queria preservar a liderança dos EUA no desenvolvimento de sistemas de AI.
Em janeiro, o Secretário de Comércio Howard Lutnick disse ao Congresso durante sua audiência de nomeação que achava que a Nvidia e outras empresas “precisam parar de ajudar” a China e parar de permitir que ela use “nossas ferramentas para competir conosco”.
Lutnick reiterou esses sentimentos no mês passado. “Eles estão tentando copiar nossa tecnologia e, na corrida pela supremacia em AI, eles estão atrás de nós, mas estão trabalhando com um governo central para nos atingir”, disse ele sobre as empresas chinesas durante o testemunho perante uma subcomissão da Câmara sobre o orçamento de seu departamento.
As restrições anteriores da administração Trump nas vendas de chips de AI ameaçavam a Nvidia. Huang considera a venda de chips para a China vital para o futuro da Nvidia, pois o país abriga 50 por cento dos desenvolvedores de AI do mundo. A China também gasta mais em chips do que qualquer outro mercado do mundo. Ele disse que teme que sair do mercado permitiria que a Huawei, a gigante chinesa da tecnologia, aumentasse suas vendas e eventualmente competisse contra a Nvidia no exterior.
Huang pressionou a administração para reverter suas restrições às remessas de chips de AI para a China, argumentando que fechar o mercado chinês só prejudicará as empresas de tecnologia dos EUA. Ele também pediu que a administração faça com que países ao redor do mundo construam chips e software feitos por empresas americanas.
“A pilha tecnológica americana deve ser o padrão global, assim como o dólar americano é o padrão pelo qual todo país se baseia”, disse Huang durante um podcast gravado na semana passada em Washington com o Projeto de Estudos Competitivos Especiais, um think tank.
Huang tem uma visão mais otimista das relações EUA-China do que muitos em Washington. Durante o podcast, ele disse que a China é um “competidor e adversário, não nosso inimigo.”
Alguns membros da administração Trump gradualmente começaram a compartilhar a perspectiva de Huang, incluindo David Sacks, o czar de AI e criptomoedas da Casa Branca.
O H20 não é o chip mais poderoso da Nvidia. Para cumprir as restrições dos EUA nas vendas para a China, a empresa reduziu o desempenho de um semicondutor mais poderoso, o H100, e começou a comercializá-lo na China como o H20. Mas o H20 tem capacidades de memória significativas que são valiosas para o processo de execução de AI, conhecido como “inferência.”
A reversão da administração Trump pode enfrentar resistência no Capitólio. Em abril, o Comitê Seletivo da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês abriu uma investigação sobre as vendas de chips da Nvidia em toda a Ásia. O comitê estava tentando avaliar se o fabricante de chips forneceu conscientemente à DeepSeek tecnologia crítica, potencialmente em violação das regras dos EUA.
