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15 de dezembro de 2025 - 16h08
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SAÚDE

Vacina do Butantan contra dengue reduz carga viral e pode conter transmissão, diz estudo

Pesquisa mostra que imunizante não favorece mutações perigosas e pode diminuir gravidade e novos surtos

15 dezembro 2025 - 13h10Karina Toledo
Vacina contra dengue do Butantan é a única do mundo administrada em dose única.
Vacina contra dengue do Butantan é a única do mundo administrada em dose única. - (Foto: Pablo Jacob/Governo do Estado de SP)

Um novo estudo publicado nesta segunda-feira (15) na revista The Lancet Regional Health – Americas traz dados promissores sobre a eficácia da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. Segundo a pesquisa, o imunizante é capaz de reduzir a carga viral mesmo nos chamados casos de escape — quando uma pessoa vacinada é infectada — o que pode significar sintomas mais leves e menor risco de transmissão do vírus para os mosquitos.

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“Esse dado preliminar sugere que a vacinação pode ter um efeito importante na circulação do vírus, ajudando a minimizar novos surtos da doença. Mas é algo que ainda precisamos confirmar com novos estudos”, afirma Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e autor principal do artigo.

O estudo é resultado da análise de amostras de sangue de participantes da fase 3 dos testes clínicos da vacina, conduzidos entre 2016 e 2021, com mais de 16 mil voluntários em 14 estados do Brasil. A pesquisa contou com a colaboração do atual diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, responsável pelos testes clínicos do imunizante.

A vacina, batizada de Butantan-DV, foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim de novembro e deve começar a ser oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 2026 para pessoas entre 12 e 59 anos. Os dados da fase 3 indicaram uma eficácia geral de 74,7%, 91,6% contra casos graves e 100% de proteção contra hospitalizações por dengue.

Para chegar aos novos resultados, os cientistas analisaram 365 amostras positivas para os sorotipos 1 e 2 do vírus — os mesmos que predominaram na última grande epidemia da doença no Brasil, em 2024, com mais de 6 milhões de casos e 6 mil mortes. As amostras foram divididas entre dois grupos: vacinados e pessoas que receberam placebo.

Um dos objetivos da pesquisa foi avaliar se a vacina estaria favorecendo o surgimento de variantes do vírus que poderiam escapar da proteção imunológica — um fenômeno conhecido como pressão seletiva. Para isso, os cientistas sequenciaram os genomas completos de 160 amostras virais e mapearam a “árvore genealógica” do vírus com base na diversidade genética.

“Uma das dúvidas que buscamos responder é se a vacina estaria protegendo apenas contra algumas linhagens e deixando escapar outras. E vimos que isso não estava acontecendo. As cepas eram as mesmas nos dois grupos analisados”, explicou Nogueira.

Outro aspecto analisado foi a diversidade viral dentro de cada pessoa infectada. Com o uso de uma técnica chamada deep sequencing, os pesquisadores observaram que não houve diferença nas taxas de mutação entre vacinados e não vacinados. Ou seja, a vacina não está gerando variantes perigosas dentro do corpo dos imunizados, um indicativo importante de segurança.

A descoberta de que a carga viral é menor nos vacinados infectados representa um ganho não apenas para o paciente, que pode apresentar sintomas mais leves, mas também para a saúde pública. Isso porque quanto menor a carga viral, menor é a probabilidade de que o mosquito transmissor se infecte ao picar uma pessoa doente — o que pode quebrar a cadeia de transmissão do vírus e conter surtos.

Embora ainda seja necessário confirmar esse impacto com novos estudos, os dados já apontam para o potencial coletivo da vacina em reduzir a circulação do vírus nas cidades, especialmente em regiões hiperendêmicas como o Brasil.

A eficácia da Butantan-DV contra os sorotipos 3 e 4 do vírus — menos prevalentes entre 2016 e 2021 — ainda está em avaliação. Segundo os autores, casos envolvendo esses tipos foram raros durante a fase 3 dos testes, e mais dados serão necessários à medida que essas variantes voltarem a circular com mais força no país.

Com o aumento da oferta da vacina no SUS prevista para 2026, o Brasil poderá contar com uma ferramenta estratégica no combate à dengue, após enfrentar a maior epidemia de sua história em 2024. O reforço da vacinação deve ser acompanhado por estratégias de vigilância epidemiológica, controle de vetores e ações educativas.

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